Maria Terezinha: de locutora, a advogada e médica

Paraisense Maria Terezinha Ferreira, locutora da Rádio Difusora Paraisense. Foto: Arquivo Jornal do Sudoeste

No início da década de 50, vivia o rádio brasileiro sua época áurea. O grande referencial era a Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Fundada em setembro de 1936, pertencia a Organização Victor Costa, sendo estatizada em 8 de março de 1940 pelo presidente Getúlio Vargas, no chamado Estado Novo. Considerada, então, a maior emissora da América Latina, era celeiro de locutores, cantores, radioatores e atrizes que se notabilizaram. Sonho de realização profissional para comunicadores, a Nacional entrou nos planos da paraisense Maria Terezinha Ferreira, locutora da Rádio Difusora Paraisense.

Quando de sua última estada em Paraíso, em 2011, falei com ela. Seus olhos brilharam quando puxou de sua memória os tempos de Rádio Difusora na rua Pinto Ribeiro, primeiro endereço da ZYA4. Lembrou-se de Zezé Amaral, seu grande professor de dicção e impostação de voz, de colegas de trabalho como Miguel Rezende, Maria Constância Vasconcelos, professor José Alcântara, dentre outros.

Meados de 1952 ela arranjou as malas e embarcou, de corpo e alma para o Rio de Janeiro. Dias depois, a voz bonita que havia conquistado ouvintes em Paraíso, tendo lhe rendido até pedidos em casamento, fazia parte do "cast" da Rádio Nacional, integrado por Renato Murce, Rodolfo Mayer, Ari Barroso, Paulo Gracindo, Brandão Filho, Emilinha Borba, Marlene, Cauby Peixoto, do Repórter Esso, e tantos outras celebridades.

Na Radio Nacional a locutora paraisense não encontrou dificuldades, se sentiu em casa como apresentadora e radioatriz. No entanto abandonou os microfones, receosa, temendo pelo futuro.

Alçou novos voos, e foi o presidente Getúlio Vargas, com quem teve contato nos tempos da Rádio Nacional, que a colocou como funcionária da Rede Ferroviária, onde conheceu seu segundo esposo, e reconstituiu sua trajetória de vida.

Maria Terezinha Ferreira Magalhães cursou Direito na Faculdade Cândido Mendes, formando-se em 1980. Exerceu a advocacia por algum tempo, mas caiu em desencanto, por nem sempre poder ver triunfar a justiça, em meio a tantos processos. Queria algo mais palpável, humano.

Inspirada nos exemplos de seu avô Zeca Ananias, farmacêutico, que segundo ela se pautava pelo amor ao próximo e pela caridade, e apoiada pelos filhos, prestou novo vestibular, desta vez para Medicina.

Aos 64 anos ingressou na Universidade, e ao formar-se foi integrada a um projeto do Governo Federal de interiorização da Saúde. Trabalhou no interior do Maranhão e em outros estados até vir para o Norte de Minas Gerais, onde passou a cuidar de comunidades pobres, e aldeias indígenas (Xacriabás), nas regiões de Medina, Manga, Novo Cruzeiro. "Tive oportunidade de exercitar a caridade e chegar mais perto de Deus", disse.

Externou sua gratidão aos avós queridos, bons conselheiros, fontes de inspiração, e seu reconhecimento aos que a apoiaram em momentos difíceis, mencionando sua tia, professora Alice Naves, com quem sempre esteve de mãos dadas.

Doutora Maria Terezinha, advogada e médica, com voz de locutora.