Jaime Carvalhaes: um restaurador do tempo

Foto: H.Aguieiras

Quem passa pelo Museu Histórico “Napoleão Joele”, que fica na Casa da Cultura, em Paraíso, se deslumbra com o que vê: a Casa do Cafeicultor, formada por rico e autêntico mobiliário de 1860, que mostra como era a mobília daquela época, nas fazendas de café do Sudoeste Mineiro e Nordeste Paulista.

Todos os móveis lá instalados, inclusive os que estão na Praça da Cultura (espaço externo, atrás do prédio principal) foram cedidos pelo restaurador Jaime Carvalhaes. Mas seu trabalho foi muito mais além que a simples cessão desses móveis de valor histórico inestimável. Foi ele quem restaurou e catalogou todas as peças.

Carvalhaes diz que são 60 peças, de estilo genuinamente brasileiro, que formam o acervo e mostram como viviam os produtores de café daquela época. “Foi a riqueza obtida através do café que possibilitou a contratação de carpinteiros de alta qualidade e artífices com grande capacidade técnica, que só utilizavam madeiras nobres. Nesta região, não houve influência de um estilo, como acontecia em outros locais, que ‘importaram’ estilos da Espanha e Holanda. Tanto no Sudoeste Mineiro (com peças das mais antigas), como na Alta Mogiana, esses carpinteiros adotaram as linhas retas, sem rebuscamentos e é isso que podemos observar no museu”, conta o restaurador.

Jaime Carvalhaes ainda chama a atenção para a raridade desse conjunto mobiliário. “Desde 1965 , os antiquários de São Paulo passaram a buscar essas peças no interior, fazendo uma verdadeira espoliação cultural. Não há leis que proíbam esse tipo de comércio. Durante 30 anos, profissionais treinaram os chamados frentistas, que eram os ‘caçadores’ desse tipo de móveis, para indicarem onde eles estavam. Ganhavam 10% por esse trabalho, que os profissionais compravam a preço irrisório e vendiam por verdadeiras fortunas, nos antiquários da capital paulista ou em leilões. Os mais valiosos móveis brasileiros são os rurais”, esclarece o restaurador.

Para Carvalhaes, os móveis que estão hoje no museu paraisense são os nossos mais representativos elementos culturais e não existem mais.

 

CULTURA PARA TODOS

O acesso à cultura no ponto de vista de Jaime Carvalhaes, deve ser para todos, por isso o Museu Histórico paraisense deve ser valorizado, como um local que possibilita esse acesso. Foi pensando dessa forma que ele lançou uma Organização Não Governamental (ONG), que engloba a revista São Paulo e Minas, um site com a edição eletrônica da publicação, além de uma hemeroteca (biblioteca de livros antigos), fotos de peças que estão na Casa da Cultura e outras, além do Instituto Astolfo Batista Carvalhaes (nome em homenagem a seu pai), chamado também de Instituto ABC, que ainda está em formação.

O principal objetivo do Instituto, segundo seu idealizador, é divulgar a identidade cultural do Sudoeste Mineiro e do Nordeste Paulista. “Para mim, a cultura é um acúmulo de conhecimentos, de manifestações do povo, de um conjunto de atitudes, fruto do trabalho, de hábitos, de costumes, da escola e da família que, com o passar do tempo, torna-se tradição, marcando a nossa identidade”.

Explica que a cultura é manifestada na produção culinária, na religiosidade, na língua, nas manifestações populares, no artesanato e na raça. Tudo isso pode estar representado, contando a história de um povo, em museus como o que foi formado na Casa da Cultura. O instituto foi constituído para fomentar isso tudo. “Parcerias como essas entre o poder público – Prefeitura – e a sociedade civil (ONG) é que podem possibilitar a divulgação cultural de qualidade”.

Carvalhaes ainda diz que só a vontade política poderia disponibilizar um espaço tão nobre, como o que aconteceu com a Casa da Cultura.

“A intenção com o Instituto e com o museu, é criar uma geração de pessoas mais educadas, que vão ater acesso às suas referências e, por conseqüência, elevar a alto estima dessa comunidade”, conclui Jaime Carvalhaes. Heloisa Aguieiras