Sergio Magalhães, de Interlagos
Foi aqui, do outro lado da reta oposta do Autódromo de Interlagos que Felipe Massa deu as primeiras aceleradas no kart aos 8 anos de idade. Sua carreira começou a ser projetada na extinta Fórmula Chevrolet onde estreou em 1998 e foi campeão no ano seguinte. O próximo passo foi a F-Renault, na Europa e depois a F-3000 antes de atingir o objetivo de chegar à Fórmula 1. Massa não esconde o sacrifício que seu pai, “Titônio”, fez para que sua carreira pudesse prosseguir. Na Fórmula Renault tinha que vencer corridas para conseguir dinheiro para disputar a próxima. O título na F-3000 em 2001 despertou o interesse da Ferrari que o contratou para estrear pela Sauber na Fórmula 1, em 2002.
Aos 35 anos e depois de 14 temporadas desde a estreia no GP da Austrália de 2002 (em 2003 foi piloto de testes da Ferrari e não disputou o campeonato), 248 Grandes Prêmios por Sauber, Ferrari e Williams, 11 vitórias, 16 pole positions, 41 pódios, um vice-campeonato (2008), um acidente sério atingido na cabeça por uma mola que se desprendeu do carro de Rubens Barrichello na Hungria, em 2009, um momento difícil na Ferrari em 2010 com Alonso quando recebeu ordens para deixar o espanhol vencer na Alemanha, e um recomeço na Williams em 2014, está chegando o fim de sua carreira na Fórmula 1. Massa ainda terá seu último compromisso com a Williams no GP de Abu Dhabi, daqui a 15 dias, mas se despede hoje de Interlagos, do GP do Brasil e de sua torcida como piloto de Fórmula 1.
Será um domingo de fortes emoções para a família Massa. O Jornal do Sudoeste, presente em Interlagos para acompanhar esse momento importante do esporte brasileiro ouviu tanto o pai do piloto, como o próprio Felipe sobre esse momento.
Em entrevista exclusiva ao “JS”, Titônio Massa começou falando de como está o coração de pai vendo o filho correr de Fórmula 1 pela última vez diante de seu público: “O coração está bastante calejado com tanto tempo que a gente está nessa estrada, desde pequeninho, quando o Felipe tinha 8 anos. Essa é uma corrida especial, e tem um lugarzinho que não estava ocupado ainda e que nós estamos guardando no coração só para esse dia que é aqui no Brasil e está sendo fantástico”, disse.
Titônio fez questão de agradecer as homenagens e o carinho que seu filho está recebendo do público em Interlagos, “ele merece tudo isso pela carreira brilhante que teve”.
Visivelmente emocionado, falou mais: “Com o coração aqui, os médicos já estão avisados e estão de plantão se eu precisar, mas o coração está forte com o espaço reservado para as emoções daqui, e depois em Abu Dhabi”.
Em 2006 e 2008 Felipe Massa venceu o GP do Brasil. Foram duas corridas que entraram para a história do automobilismo brasileiro. Na primeira ele vestiu um macacão verde e amarelo, algo pouco comum na Ferrari e causou grande euforia e expectativa nos torcedores e fãs da Fórmula 1. Na segunda ele ficou com o gostinho do título por 20 segundos até que Lewis Hamilton cruzou a linha de chegada em 5º lugar depois de ultrapassar Timo Glock a poucos metros da bandeirada para se tornar campeão pela primeira vez com um ponto de vantagem. Uma cena que ficou gravada na memória de muitos naquele dia foi a de Titônio comemorando o título até ser avisado por um integrante da Ferrari que Hamilton havia sido o campeão.
O JS quis saber se mesmo sem ter vencido um campeonato na Fórmula 1 ficou a sensação de dever cumprido: “Sem dúvidas, dever cumpridíssimo; toda a confiança que foi depositada no Felipe pelas pessoas e equipes que ele correu, ele correspondeu em todas por onde passou. Ele está tranquilo pelo dever cumprido e tem portas abertas por onde passou, e agora vamos esperar pelo que ele vai escolher para o futuro, uma categoria em que possa passar mais tempo com a família e que tenha menos pressão que na Fórmula 1”, disse.
Apesar de estar próximo o dia da aposentadoria na Fórmula 1, Massa já disse que vai continuar correndo, mas que ainda não decidiu por qual categoria. Tudo indica que sua escolha deva ficar entre a Fórmula E, campeonato de carros elétricos, ou o DTM, o campeonato alemão de carros de turismo.
Felipe Massa disse ao “JS” que também não descarta atuar esporadicamente como comentarista de TV por alguma emissora europeia.
Depois de perguntar a Titônio como estava o coração de pai, agora foi a vez de o “JS” perguntar como estava o coração de Felipe para a corrida de hoje diante de seu público: “Batendo forte, sentindo o carinho da torcida. Não é fácil se despedir, ainda mais diante dos torcedores. Sinto uma sensação fenomenal de estar correndo aqui no Brasil, numa pista que eu amo”.
Massa disse ainda que sentirá saudades quando a Fórmula 1 voltar aqui no ano que vem e ele não estar correndo. “Mas sempre que sentir saudade vou estar presente em algumas corridas para ver de perto, matar a saudade e rever os amigos”, disse.
Sobre o momento de incertezas que o automobilismo brasileiro atravessa, com o risco até de ficar sem o GP do Brasil e sem nenhum piloto disputando o campeonato, já que várias portas estão se fechando para o outro Felipe (Nasr), o canadense Jacques Villeneuve, campeão Mundial de 1997 e ex-companheiro de Massa, na Sauber, em 2005, disse em Interlagos que Massa pode ser lembrado no futuro como o último grande piloto que o Brasil teve na Fórmula 1.
O “JS” perguntou ao ainda piloto do carro número 19 da Williams se ele vê esperança de o país voltar a ter sucesso na categoria ou se terá que torcer para o surgimento de um novo piloto diferenciado, como Max Verstappen surgiu para a Holanda:
“Espero que eu não seja o último piloto brasileiro que tenha obtido bons resultados, que tenha ganhado corridas, disputado título (vice-campeão de 2008). Eu espero que o Brasil continue tendo outros pilotos que possam representar bem o país como tantos outros que tivemos no passado. É lógico que o momento do automobilismo aqui é difícil, mas espero que pelo menos algum nome com potencial possa aparecer daqui algum tempo, mas acho que isso não será tão rápido. Vai demorar um pouco”, disse.
A partir das 14 horas deste domingo, quando as luzes vermelhas se apagarem autorizando a largada para o 45º GP do Brasil, com Felipe Massa largando da 13ª posição, uma nova página da rica história do país na Fórmula 1 estará sendo virada. Tomara, mesmo, não seja a última.