Quando o prefeito de São Sebastião do Paraíso, Walker Américo Oliveira, assumiu o Executivo em setembro do ano passado, realizou uma reunião com fornecedores de medicamentos ao município, a fim de restabelecer as entregas e reabastecer totalmente as farmácias municipais. Esses fornecedores estavam com seus recebimentos atrasados em muito tempo, dívida oriunda da gestão anterior do ex-prefeito, Rêmolo Aloise, e tinham interrompido o fornecimento.
À época o prefeito Walker chegou a se reunir com oito empresas fornecedoras, mas não houve renegociação com todas, pois já tinham feito algumas negociações anteriores que não foram cumpridas pelo gestor anterior.
Consequentemente, continuam faltando medicamentos básicos, inclusive de uso contínuo para doenças crônicas, como alguns comumente empregados no tratamento contra hipertensão e outros.
Em entrevista exclusiva ao Jornal do Sudoeste, o secretário municipal de Saúde, Wan-dilson Bícego, explicou como está essa situação e outras questões sobre a Saúde municipal.
Jornal do Sudoeste – Como está a negociação com os fornecedores que ainda não retornaram as entregas de medicamentos ao município?
Wandilson Bícego – No ano passado nos reunimos com oito empresas fornecedoras de medicamentos e apenas quatro retornaram a entrega. Prioriza-mos o abastecimento da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) porque lá são realizados os atendimentos de urgência e emergência, com a intenção de evitar que venham a falecer qualquer paciente. Isso foi obtido por meio de uma compra emergencial para dois meses, especificamente para a UPA. De lá para cá estamos tentando negociar com os demais fornecedores, porém muitos entraram na Justiça e fizeram denúncias, e não conseguimos restabelecer o atendimento por meio dessas empresas, devido ao alto índice de endividamento.
Jornal do Sudoeste – Quando as farmácias municipais estarão com seus estoques normalizados?
Wandilson Bícego – Esta-mos com um processo licitató-rio aberto desde novembro para compra desses medicamentos, porém nossa maior dificuldade é conseguir orçamentos. O processo exige, no mínimo, a apresentação de três orçamentos e tivemos muita dificuldade de que as empresas quisessem participar e apresentar esses levantamentos; os fornecedores não queriam nem mandar os orçamentos. Tivemos que ir até uma empresa em Ribeirão Preto, levar a listagem para o proprietário preencher os preços. Isso causou uma grande demora no processo. Finalmente conseguimos os orçamentos e a licitação foi aberta e acredito que dentro de um mês, quando isso for finalizado, creio que vamos restabelecer nas farmácias municipais o estoque de medicamentos de uso básico e contínuo.
Jornal do Sudoeste – Mui-tas vezes o paciente não tem condições financeiras de adquirir nem o medicamento mais barato. Enquanto os estoques não são normaliza-dos, como a população pode obter esses medicamentos?
Wandilson Bícego – Aconselhamos que, por enquanto, procurem pelas farmácias populares que oferecem medicamentos com baixo custo em ralação preço praticado em outras farmácias, além de fornecerem gratuitamente muitos medicamentos de uso contínuo, basta apresentar os documentos pessoais e fazer um cadastro, que pode retirar de graça o medicamento em muitos casos. Claro que não seremos omissos nessa questão, mas a farmácia popular pode atender por enquanto.
Jornal do Sudoeste – A Prefeitura, também por falta de fornecimento, estava dando ao paciente o dinheiro para comprar o medicamento “judicializado” de alto custo. Agora o juiz proibiu e o município terá mesmo que dar o medicamento. Como irão resolver isso?
Wandilson Bícigo – Nesses chamados bloqueios judiciais estamos infringindo o a lei 8666 da licitação. Em 2016 tivemos mais de R$ 200 mil de gastos com bloqueios judiciais. Fizemos uma licitação e uma empresa de Franca ganhou para fornecer esses medicamentos, um fornecedor que a Prefeitura devia R$ 110 mil, dívida que conseguimos parcelar em longo prazo. Eles tinham suspendido o fornecimento em 2015 também por falta de pagamento. Esses medicamentos não faltarão. O paciente terá que procurar a Secretaria de Saúde para saber como será o processo e o receberá na farmácia municipal localizada à Rua dos Antunes.
Jornal do Sudoeste – Há reclamações de faltam medicamentos e material básico na UPA e nas USFs (Unidades de Saúde da Família).
Wandilson Bícigo – Prio-rizamos mesmo a UPA. Para fornecimento de alguns materiais básicos, como papel higiênico, conseguimos restabelecer o fornecimento por meio de negociação. Porém, tudo requer fazer licitação e o processo legal é demorado, mas a Prefeitura está realizando todos esses procedimentos.
Jornal do Sudoeste – Quanto é o total que a Prefeitura deve na área da Saúde?
Wandilson Bícigo – Atualmente deve-se R$ 30 milhões, dívida com fornecedor, folha de pagamento de médicos e prestadores de serviços, INSS de funcionários contratados. Estamos fazendo um exercício diário de estudar onde podemos economizar para poder manter o atendimento e não há como fazer nada diferente. Se formos comparar, Itajubá tem 500 funcionários na Saúde para quase cem mil habitantes. Nós temos 719 funcionários em Paraíso para atender à Saúde e termos mesmo que fazer reajustes e pisar no freio.
Jornal do Sudoeste – Qual é o maior problema da Saúde atualmente?
Wandilson Bícego – É restabelecer com os fornecedores estruturas as consultas especializadas no Ambulatório Municipal; não há médicos especializados em várias áreas por falta de recursos financeiros para pagá-los, não tem ortopedista, otorrinolaringologista, nefrologista, entre outros profissionais que seriam contratados; só há os efetivos. Médicos do ambulatório, credenciados, estão há quatro meses sem receber. Pedimos à população paciência porque no momento estamos mesmo priorizando a UPA, porque é onde o paciente pode morrer.