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Arte em Interação

Por: Redação | Categoria: Do leitor | 29-08-2018 20:18 | 2602
Foto: Reprodução

A arte contemporânea deu aos artistas uma liberdade de atuação sem precedentes na história das artes, ampliando e mesclando as fronteiras entre as linguagens e entre o que pode ou não ser considerado arte.

Para as artes visuais, hoje á espaço para todos os tipos de materiais técnicas e apropriações de objetos de usos cotidianos. Não significa que a pintura e a escultura deixaram de existir.

Muitos artistas ainda são fundamentalmente pintores ou escultores. Mas, em muitos casos, essas técnicas foram deixadas de lado, ou aparecem combinadas a outros procedimentos.

Elas também podem aparecer sem a preocupação com a técnica precisa, ou mesmo a nobreza, que antes lhes eram atribuídas, e que lhes davam um caráter de objetos único e exclusivo.

Além da apropriação de objetos não artísticos, também se tornou comum com a arte contemporânea o uso de apropriações e referência a obras de outros artistas. 

Pode se perceber, nas obras de Regina Silveira (1939) e de Nelson Leirner (1932) um diálogo com as propostas de Marcel Duchamp. Neste caso, estas obras realizam uma apropriação da apropriação: referem-se ao Readymade de Duchamp. A Roda de bicicleta (1913) que por si jê é uma apropriação de objetos comuns, das quais o artista subverteu o significado ao tira-los de sua função original.

Na obra de Regina Silveira, chamada In Absentia M.D. (“em ausência, em latim, e M.D. como iniciais de Marcel Duchamp) a artista retoma o próprio questionamento de Duchamp sobre o que faz ou não de um objeto obra de arte, e propõe ironicamente uma obra que é somente uma sombra fictícia.

Sua suposta imaterialidade, no entanto, não impede que sugira significados: mesmo ausente, a obra de Duchamp se manifesta pela sombra, e forma-se na imaginação do público. 

Sua presença se revela por uma realidade inventada, uma sombra sem objeto que a projete.

Mesmo que o observador não conheça a Roda de bicicleta, essa sombra estranha de um banco com uma roda pode despertar sua curiosidade para seus possíveis significados.

Nelson Leirner, além de apropriar-se da imagem do Readymade de Duchamp, também se apropria de uma bicicleta de verdade, fazendo referência à obra. O artista transforma o uso original de bicicletas que são usadas normalmente para fazer propaganda de imóveis nas ruas.

Pode-se perceber aqui também um diálogo com a arte pop que se apropria de procedimentos do universo da mídia e propaganda.

Assim como na obra de Regina Silveira o Readmade de Duchamp também está ausente na obra de Leirner, sua presença é sugerida pela imagem fotográfica.

Leirner faz uso constante de humor e ironia em sua obra e, na Duchamp bike, subverte a lógica da própria obras da qual se apropriou: a Roda de bicicleta, antes estática sobre o banco, agora volta à mobilidade no bagageiro de uma bicicleta real.

Sugestões: sites  www. nelsonleirner.com.br  www. reginasilveira.com Livro: Tema da arte Contemporânea, Katia Canton, São Paulo.
Filmes – Across the Uni-verse .
Referência bibliográfica – Cabanne, Pier Marcel Du-champ – Engenheiro do Tempo Perdido. São Paulo: Perspectiva, 2002.

Luiz Carlos Raimundo