ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Do leitor | 17-10-2018 12:17 | 1537
Foto: Reprodução

Panorama Eleitoral
Voltei de Portugal em pleno domingo eleitoral, onde estive honrando nossa gente e meu humilde trabalho literário no Fólio de Óbidos, fértil festival cultural. Por lá fiz questão de ficar meio alheio às pesquisas eleitorais, bocas de urna e tendências sobre o primeiro turno e seus candidatos. Chegavam-me só rumores, até porque minha agenda foi extensa e intensa no velho continente. Deu-se que desci em Guarulhos e finalmente em solo natal justamente no apagar das luzes do dia do voto e já por volta das seis da tarde, com as urnas sendo reveladas e os comentários intensos. Foi ligar o celular e ficar perplexo:  Bolsonaro, que estava com Haddad “encostando” nele segundo as pesquisas, quase ganhou no primeiro turno; Dilma, primeira na corrida para o senado mineiro conforme o IBOPE, ficou em quarto e só não perdeu para os nanicos; em Minas, nosso araxaense Romeu Zema nos orgulhou saindo de um terceiro lugar já digno de aplausos para retirar do segundo turno o atual governador petista. E Romeu estava em terceiro uma semana antes, conforme as intenções de voto... Entenderam? Passou de hora de parar de acreditar em institutos de pesquisa. Não que ocorram fraudes, mas há nesse cotejo da vontade do eleitor um natural direcionamento por vezes tendencioso e que está ficando óbvio demais.

O que diz o mundo
O que diz o mundo sobre o Brasil e suas perspectivas eleitorais não é o que de fato ocorre aqui dentro: as instituições democráticas estão funcionando eficientemente como sempre funcionaram. O que aconteceu de anormal foi o impeachment de uma presidente desastrosa e a assunção de um mordomo guindado a dignatário máximo da nação e sem prestígio político algum. Fora isso, tudo normalíssimo. Ocorre que artistas e pensadores, formadores e deformadores de opinião, como de hábito nos pintam como prestes ao holocausto nuclear simplesmente porque um candidato de direita está ganhando as eleições. Em Portugal vi apreensivos os nativos de lá, muito ligados ao Brasil e à sua política, e muito esquerdistas. Lembremo-nos que o governo Português é socialista e exitoso, sem roubalheiras. Deu-me muito trabalho por lá tentar explicar que a direita não quer a guerra e que há gente boa dos dois lados – e que, na verdade, a distinção entre esquerda e direita é que já era, está fora de moda e não repercute em povos e países desenvolvidos. Mas o malefício que causa à nossa imagem gente famosa encolerizada com o país porque simplesmente está perdendo as eleições para quem pensa diferente é uma prova, mais uma prova, de que nem todas as pessoas merecem a democracia que tem.

Os Portugueses
Fui mais uma vez muito bem recebido em Portugal. Ao contrário do que se pensa, o bom povo lusitano tem enorme apreço e orgulho do Brasil. E hoje está preocupado com o futuro de sua ex-colônia, como de resto todos nós estamos: a economia está lamentável, o empresariado apreensivo, o mercado angustiado. E sempre que estou lá fora percebo o que todos nós, brasileiros, deveríamos saber sempre: o Brasil é um gigante, o maior da América Latina, com uma cultura e uma economia relevantíssimas para o mundo todo.  Se há terremoto aqui, treme o mundo todo. É bom que saibamos disso, apesar de nossas mazelas e nossa educação digna de pena. Os portugueses leem mais, são em geral mais cultos e as escolas públicas lusitanas são melhores do que as nossas melhores instituições de ensino privadas. Isso, lá como cá, com professor ganhando pouco, greve e etc.. Que estes são problemas que afetam qualquer país democrático do mundo. Sei que falam que nossos eternos “descobridores” são panacas grosseiros e que não gostam de brasileiros – o que não é verdade. Brasileiros são vez ou outra discriminados, como alguns do sul e sudeste (erradamente) de vez em quando falam mal de nordestinos. Há gente boa e gente má no mundo todo. E os portugueses não são ingênuos: são literais, é parte da cultura deles. A educação portuguesa com os de fora é como em todo sul da Europa: são educados sem serem corteses. Quer descobrir a sutil diferença? Observe os garçons. Os brasileiros nos enchem de salamaleques e são gentis ao extremo. Os europeus nos tratam como hóspedes em sua casa, com uma distância profissional. Com os demais cidadãos, funciona da mesma forma: portugueses são educados, porém sem afetar intimidade.
RENATO ZUPO, Magistrado, Escritor