FALANDO DE EDUCAÇÃO

Valorização da educação: realidade ou utopia?

Por: Cícero Barbosa | Categoria: Do leitor | 01-02-2019 16:56 | 9871
Foto: Reprodução

A Constituição Federal de 1988 ao estabelecer nos artigos 205 a 214 as normas gerais da educação nacional deixou claro que a educação possui um papel de relevante importância na construção da nossa sociedade.

Cotidianamente vemos e ouvimos políticos, empresários, trabalhadores, a população de um modo geral falando da importância da educação. Isso é muito bom, pena que na prática a valorização da educação, principalmente da pública, nem sempre acontece como falado nos discursos dos políticos e nas falas populares.

É unânime que a educação pode colaborar com a formação da nossa sociedade em todos os seus aspectos e nas diversas situações que possamos imaginar. Um indivíduo que recebe uma boa educação escolar será um bom profissional, e um cidadão ciente dos seus direitos e deveres.

O que nos preocupa é que a educação escolar brasileira não possui a devida valorização que deveria. As escolas públicas nem sempre possuem a infraestrutura necessária para garantir um trabalho de qualidade pelos professores e consequentemente isso influencia na aprendizagem dos estudantes.

Não precisa irmos longe para encontrar salas de educação infantil onde uma professora (sozinha) tem que “dar conta” de 18 ou 20 alunos de dois ou três anos. Salas de pré-escola que funcionam em espaços sem ventilação, sem mobiliário adequado, sem espaço físico que atenda às necessidades de aprendizagem dessas crianças. Outro dia me deparei com uma professora e mais de 15 alunos em uma sala de pré-escola que deveria ter no máximo uns 10 metros quadrados, sem ventilador, sem condições adequadas para o trabalho pedagógico.

Mudam-se as etapas e níveis da educação, mas a valorização não acontece efetivamente. No ensino fundamental de anos iniciais e de anos finais também há casos, Brasil afora, de escolas em condições precárias de trabalho, sem recursos tecnológicos para um eficaz ensino de língua portuguesa e de matemática, sem biblioteca, sem laboratório de ciência, sem laboratórios de informática, sem quadras e espaços para práticas esportivas.

Valorizar a educação não pode ser apenas atribuindo a ela a responsabilidade pelas mudanças que a sociedade deseja para os indivíduos. É preciso valorizar a educação com infraestrutura predial de qualidade, com salários dignos aos professores e demais trabalhadores, recursos materiais básicos e tecnológicos que garantam de fato uma educação de qualidade.

Como podemos falar de valorização da educação pública em um país onde o custo diário da alimentação escolar de uma criança na pré-escola é de R$0,53 (cinquenta e três centavos) enquanto que a alimentação de um detento nos presídios custa pelo menos 50 vezes mais que isso?

Valorizar a educação é criar condições para que professores, demais funcionários das escolas, e principalmente os alunos tenham condições de desenvolver suas atividades de ensino e aprendizagem de modo satisfatório, sem improvisos, sem “gambiarras”.

A valorização da educação necessita também de um olhar diferenciado das famílias, afinal a educação é também um dever da família. Infelizmente há casos em que algumas famílias transferem toda a responsabilidade da educação de seus filhos para escola. São pais, mães e responsáveis que não conhecem a realidade escolar na qual seus filhos se encontram, que não acompanham as atividades dos filhos, que não participam do dia a dia escolar dessas crianças e adolescentes.

O compromisso de toda a sociedade com a educação conduzirá à uma realidade melhor do que a atual.

A educação gera conhecimento, conhecimento conduz à uma qualidade de vida melhor.

A valorização da educação pública brasileira em todos os aspectos é condição fundamental para o desenvolvimento da nação.

Professor Me. Cícero Barbosa: Doutorando em Educação Escolar pela UNESP – Araraquara, Mestre em Educação Escolar pelo Centro Universitário Moura Lacerda, professor do ensino fundamental (anos iniciais) na rede pública municipal de São Sebastião do Paraíso, professor universitário na UEMG – Unidade Acadêmica de Passos, presidente do Conselho Municipal do FUNDEB e vice-presidente do Conselho Municipal de Educação em São Sebastião do Paraíso.

Professor Me. Cícero Barbosa