ABRIL AZUL

Abril Azul: Mãe fala sobre experiência de ter um filho autista e AMA pede apoio à população

Por: João Oliveira | Categoria: Saúde | 04-04-2019 14:06 | 1376
Mãe conta como foi descobrir o diagnostico de  filho autista e fala como tem sido esta experiência
Mãe conta como foi descobrir o diagnostico de filho autista e fala como tem sido esta experiência Foto: ASSCAM

A contadora Elizangela Andrade da Silva Oaquim, entrevistada pelo Jornal do Sudoeste na edição do dia 30 de março para a coluna Ela por Ela, e representantes da Associação Amigos do Autista (AMA) usaram a tribuna da Câmara Municipal na sessão de segunda-feira (1/4) para lembrar do Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Elizangela, mãe de um menino de oito anos, contou um pouco de sua experiência sobre o que é ser mãe de uma criança autista e como foi esta descoberta, e representantes da AMA falaram das necessidades da instituição e dificuldade enfrentadas pela associação, pedindo apoio à comunidade.

Emocionada, Elizangela lembrou sobre o período de gestação e contou que foi uma gravidez bastante tranquila e que o filho nasceu muito saudável, mas que desenvolvimento dele não era parecido como o de outras crianças. Ela recorda que chegou a procurar um pediatra e o médico apenas havia dito que era "uma neura" e que não havia problemas.

"O tempo foi passando e meu filho não falava, demorou muito para andar. Quando ele entrou na escola, uma psicóloga conversou comigo, que havia percebido que o desenvolvimento dele era diferente de outras crianças, e me aconselhou a procurar um neuropediatra, que era profissional mais indicado para me dizer se havia algum problema ou não. Foi o que fizemos; esse médico disse que meu filho tinha indicação de autismo", recordou.

A contadora disse que essa notícia em um primeiro momento causou choque porque não tinha conhecimento sobre o autismo. "A pouca informação foi gritante, eu senti como se o chão estivesse aberto e senti também uma insegurança muito grande sobre o que seria do meu filho no futuro, que é algo que os pais pensam muito. Depois do diagnóstico fomos encaminhados para duas instituições no Rio de Janeiro e a primeira foi a APAE, que nos acolheu com muito amor e nos mostrou tudo o que precisávamos saber, mostrou o potencial do meu filho, que aquilo era um problema simples diante da grande evolução que ele poderia ter. Depois conhecemos a instituição Dona Meca, que acrescentou muito neste processo", contou.

Elizangela conta que a terapia foi um divisor de águas na história dr seu filho. "Foi uma evolução passo a passo e acredito que pais de crianças autistas, vão se identificar, porque a cada pequena conquista era uma alegria imensa. Ver meu filho me chamando de mãe pela primeira vez aos oito anos, porque até então ele não falava, foi a coisa mais incrível que me aconteceu. Vi que todo o nosso esforço, dele e dos profissionais, tudo valeu a pena. Eu só tenho a agradecer a todos que, no passo a passo, edificaram meu filho e o ajudaram a se constituir como um ser humano", ressalta.

A contadora aproveitou o momento para aconselhar aos pais que busquem ajuda e não sintam medo. "Se algum dia vocês tiverem algum indício ou alguém disser que seu filho precisa de ajuda, corra atrás porque o que eu vivi com meu filho, a evolução dele, não tem preço. Meu filho é a minha maior conquista e peço também aos órgãos públicos que deem uma atenção a essa causa, por meio de lei, incentivo financeiro, para poder ajudar essas entidades a potencializar o atendimento e que precisam de treinamento para fazer diagnóstico precoce, que precisam também pagar suas contas, contratar mais profissionais para prestar esse apoio a mais famílias".

Por fim, Elizangela conta que o início dessa busca por ajuda não foi fácil e que chegou a enfrentar uma fila de um ano de espera para atendimento devido à alta demanda pelo tratamento. "O investimento a estas instituições é muito válido. Agradeço muito a oportunidade", completou.

 

AMA PEDE APOIO À COMUNIDADE E PODER PÚBLICO

Após o uso da tribuna por Elizangela, membros da Associação de Amigos dos Autistas (AMA), João Bosco e professora Márcia Cristina, falaram sobre os trabalhos, bem como necessidades da instituição. João ressaltou que a associação vem levando seus serviços à população com bastante dificuldade desde que iniciou seus trabalhos em 1990. A AMA, segundo conta, atende a 39 autistas, tendo cerca de 20 pessoas empregadas. Ele disse que o déficit da instituição chega a R$ 10 mil por mês em relação ao que arrecada de doações e o que tem de custo fixo.

"Para cobrir estas despesas sempre fazemos "shows de prêmios" entre outras ações, além das doações que recebemos. Todos nós gostaríamos que aqueles que quiserem visitar a AMA, estamos situados na Luíz Lovo, nº 20, Conjunto Habitacional Verona, e qualquer forma de ajuda é bem vinda, não apenas financeira, que é um problemas que as instituições filantrópicas passam, mas também como voluntariado. Precisamos de ajuda, incluindo de profissionais, e já fizemos reiterados pedidos ao município para conseguir uma assistente social, que não precisa nos auxiliar diariamente, mas que possa estar lá pelo menos uma vez por semana", destaca.

Bosco explicou que atualmente o município sede para a AMA dois professores e que o restante são contratados com verbas de doações, além de outros três que o Estado fornece. Ele destacou que ontem foi celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo e que, durante esta semana, serão promovidos eventos abordando a temática. No sábado (6/4), a AMA promove a 4ª Edição da Caminha do Autista, que inicia às 9h. O destino é a Praça da Fonte.

"Sabemos o quanto é difícil fazer uma visita na AMA durante a semana, mas neste sábado, quem puder comparecer, nossos alunos também estarão lá e é interessante para ele, uma vez que isto os faz sentir parte da sociedade quando acontece", destaca. João se emocionou ao lembrar que a AMA foi fundada por sua mãe, já falecida, a ex-vereadora Cida Pimenta, e pediu apoio à entidade. Destacou também que existe uma grande fila de espera para o acolhimento de pessoas autistas, que não pode acontecer devido à falta de recursos.

ATENDIMENTO

A professora Márcia Cristina explicou que a AMA trabalha com planejamento funcional, buscando inserir o autista com autonomia na sociedade. "São questões diárias comuns a nós, mas que para eles não são. Atualmente temos três funcionários cedidos pelo Estado, além de dois professores cedidos pela prefeitura, eu sou uma delas porque me candidatei para a vaga à época e tinha um curso de inclusão", destacou. Márcia conta que além do corpo docente, a associação também contrata um fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e psicóloga que atendem na AMA diariamente.

"Recebemos aqueles autistas que frequentam a entidade todos os dias, e que já são pessoas mais velhas, e aqueles que são assistidos multidisciplinarmente, em um trabalho que envolve fisioterapeuta, psicóloga e terapeuta ocupacional e professores. Dentro do planejamento funcional há vários projetos, como cozinha, arte, horta e da banda de música. É assim que trabalhamos e a AMA está de portas abertas para todos aqueles que quiserem conhe-cê-la. É um trabalho muito gratificante. A Associação é a única instituição em Minas Gerais especializada no atendimento à pessoa autista", completou.

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