Ainda são frequentes casos de furtos registrados em zona urbana e rural de São Sebastião do Paraíso. A sensação de insegurança e medo vivido por esses moradores não é novidade, e inúmeras matérias já foram veiculadas pelo Jornal do Sudoeste abordando o tema. Números divulgados pela Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas Gerais (Sesp/MG) revelam aumentos considerável desses crimes no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2018, entretanto, série histórica aponta pequena margem de redução ano a ano.
Conforme os dados, em 2018 foram registrados 903 furtos, o que representa 273 casos a menos em relação a 2017, quando foram registrados 1176 casos. Quando comparado ao período de janeiro a maio de 2019, esses dados apresentam um crescente: 477 casos contra 365 registrado em 2018. Os números evidenciam também uma sazonalidade no aumento dos crimes no período de janeiro a maio, todavia, no fechamento do ano mostram também que diminuíram os casos de furto em Paraíso de 2016 a 2018.
Segundo os dados, em 2016 foram registrados 1318 furtos; em 2017, 1176; em 2018; 903. Quando falamos em roubos à patrimônios, o ritmo também é de redução: em 2016 foram 198 casos; em 2017, 129; em 2018, 93 casos e, em 2019 até o momento, 35.
Conforme o comandante do 43º Batalhão de Polícia Militar em São Sebastião do Paraíso, tenente-coronel Charles Kerley Batista, seus militares têm trabalhado incansavelmente para frear os números, mas reconhece que se tivesse uma melhor estrutura, poderia levar um serviço ainda mais eficiente a população.
"Temos feito muitas operações, principalmente durante a madrugada. É um trabalho que muita gente não vê, mas em algumas residências temos deixado notificação para a pessoas sentirem que estão sendo zeladas. Além disto, no folder há algumas dicas para a pessoa se manter prevenida contra crimes. Fazemos isso porque senão a pessoa não vê o nosso serviço. Temos buscado concentrar algumas operações em regiões onde há a maior incidência da criminalidade em Paraíso", ressalta.
Em relação à zona rural, o comandante da PM destaca que a abrangência é muito grande e se defronta com alguns agravantes como, por exemplo, grande parte da região faz fronteira com o estado de São Paulo. Apesar disto, ele diz que o patrulhamento rural é constante, com operações em locais, principalmente, de produção cafeeira dado o período de safra. "É preciso essa atenção; o produtor fica o ano inteiro cultivando a planta, mas quando chega do momento de colher o fruto desse trabalho, vem alguém e leva tudo", conta.
Tenente-coronel Charles ressalta ainda que é muito importante a ajuda da população nesse combate ao crime, que pode ser feito por meio de denúncias anônimas pelo telefone 181. A denúncia é sigilosa e o denunciante recebe um protocolo para acompanhar o andamento. "Quando chegam essas denúncias, temos um prazo para responder. É tudo tratado com muita responsabilidade; muitos dos nossos trabalhos dependem destas denúncias", ressalta.
EFETIVO E DELEGACIA RURAL
Um dos maiores desafios para Polícia Militar, e que há anos vem sendo cobrado em audiências públicas, é um efetivo maior para a região de abrangência do 43º Batalhão de Polícia Militar em São Sebastião do Paraíso. De acordo com recomendação da Organização das Nações Unidades, a média de efetivo policial seria de um PM para cada 450 habitantes. Somente para Paraíso, seguindo esse pressuposto, o efetivo ideal, considerando uma população de 70 mil habitantes, seria de 155 policiais. Mas é sabido que esse número é bem menor.
Em busca de um viés capaz de dar pronta resposta e atenção maior aos moradores da zona rural, o deputado estadual Antônio Carlos Arantes propôs lei para a criação de delegacias especializadas em roubo no campo, a "Delegacia Rural". Em entrevista ao Jornal do Sudoeste, Arantes diz que sua luta pelo homem do campo é antiga. Ressalta também que o governador Romeu Zema já implantou a primeira delegacia em Belo Horizonte, que tem agido em localidade de maior incidência criminal. "Esses delegados já estiveram em Paraíso e têm feito investigações na região, mas é um trabalho silencioso. São quatro delegados de ponta".
Segundo anuncia, a intenção é instalar em Paraíso uma delegacia própria para o próximo ano. "Vou colocar emenda parlamentar nesse sentido. Essa delegacia já conseguiu identificar quadrilhas na região de Piumhi, Varginha, principalmente na região de Ibiá, Patrocínio, região de Fervedouro na Zona da Mata, e, também, na região de Belo Horizonte. A Delegacia tem feito um excelente trabalho, apesar de ser pouca gente, são apenas quatro delegados. Mas temos esperança que vamos conseguir avançar nesse sentido. Tenho cobrado muito o delegado de Paraíso, Fernando Bettio, Marcos Pimenta de Passos, enfim, esperamos conseguir avançar", completou.
POLÍCIA CIVIL
O responsável pela Delegacia de Furtos em São Sebastião do Paraíso, Vinícius Zamó, também aponta que os números têm reduzido bastante nos últimos anos, mas que os casos ainda acontecem. De acordo com ele, recentemente houve dois registros na região dos Volpes, onde um veículo de grande porte e uma moto foram furtados e, após, atearam fogo em uma das residências da propriedade. "Naquela região temos um suspeito que é bastante complicado, mas ainda não conseguimos pegar nada que o ligasse a esses crimes", ressalta o delegado.
O indivíduo já havia sido apreendido por envolvimento de furto de moto quando ainda era menor; passados alguns dias houve outro furto, desta vez de um fusca. "Como aconteceram esses casos lá, temos ele como principal suspeito, entretanto, aquela região é problemática. Crime acontecido em zona rural é muito difícil de conseguimos informações", acrescenta.
O delegado comenta que Paraíso é uma região muito próxima a divisa do estado de São Paulo e que muitos crimes acabam sendo cometidos por pessoas de fora. No sábado passado, por exemplo, moradores de Patrocínio Paulista foram presos após cometer furto de café em uma propriedade rural de São Sebastião do Paraíso.
"A dificuldade está justamente nisto, a pessoa vem, comete o furto e depois desaparece. Entretanto, não têm sido registrados muitos casos em zona rural. Acredito que nos últimos cinco anos tivemos uma queda acentuada do crime violento em zona rural. O crime existe e sempre existirá, faz parte da sociedade, mas estamos em queda aqui, o que de certa forma acaba restringindo investimentos do Estado na segurança pública do município, que prioriza regiões mais violentas", afirma.
O delegado relaciona esses crimes ao tráfico de drogas. "Ou o tráfico vai comprar esse bem furtado ou será receptado por alguém, sempre está relacionado. É justamente por isto que o foco é sempre o combate ao tráfico, que sempre margeia os demais crimes patrimoniais. Todavia, quando o tráfico é bem combatido, aumenta-se o crime de roubo, porque quando esses traficantes têm prejuízos, tem que buscar dinheiro de outras formas", explica.
Zamó ressalta que, embora esforços da polícia para combater o crime, ela não consegue estar em todos os lugares a todo momento e orienta que a população invista em sistemas de segurança para coibir esse criminoso e que, em caso de propriedade rural, que esse proprietários sempre mantenham registro visual de seus trabalhadores porque a grande maioria dos crimes nesses locais são cometidos por pessoas que já trabalharam naquele local.
"Nessa época de colheita, muita gente transitória acaba frequentando a propriedade. Acredito que um sistema de vigilância ajuda muito, principalmente um cadastro daqueles que trabalham ali. Ninguém tem bola de cristal e adivinha que o café está ali beneficiado ou que aquele local funciona de determinada forma, sempre tem alguém que teve acesso à informação", ressalta.
Segundo o delegado, prevenção nunca é demais e, em casos de cargas, que esse proprietário mantenha um chip de rastreamento para que em caso de furto ou roubo seja fácil localizar esse bem. "Felizmente esses crimes caíram vertiginosamente, mas pedimos que esses empresários invistam em sua segurança. A segurança pública também é responsabilidade da pessoa. Gastamos dinheiro com tanta coisa, e as vezes esquecemos da segurança", completa.
Polícia Militar orienta produtores a tomarem medidas preventivas
O comandante da PM em São Sebastião do Paraíso, tenente-coronel Charles, destaca que alguns investimentos podem, além de ajudar a PM na recuperação de bens furtados e/ou roubados, também na captura desses marginais que vêm amedrontado produtores rurais. Entre essas dicas ele recomenda a instalação de chips rastreadores em bem como tratores e sacas de café. Entre as orientações também se destacam:
- não deixar árvores e arbustos grandes que possam dificultar a visão da casa ou barracão, já que a visibilidade reduzida pode favorecer o bandido;
- se possível, instalar sistemas de alarme ou câmaras de monitoramento;
- mantenha o controle de entrada e saída de trabalhadores; esta é uma forma de demonstrar segurança;
- se há criação de animais, sobretudo bovinos, não manter os animais próximos à estrada, principalmente em período noturno. Se não for possível, destine os pastos mais vulneráveis para o gado mais fraco e os pastos mais seguros para o gado mais gordo e manso.
- marque devidamente o rebanho e evite aquisições de animais de procedência duvidosa, sem nota ou abaixo do valor de mercado.
PERÍODO DE SAFRA
- conheça seus empregados e mantenha cadastro de todos os funcionário; busque sempre referência com outros fazendeiros;
- realize pagamento com cheque ou transferência em conta. Pagamento com dinheiro em espécie pode atrair criminosos;
- Evite armazenar café na propriedade. Procure colher e imediatamente transportar o café para as cooperativas;
- suspeite de pessoas estranhas rondando a propriedade, sobretudo à noite; procure anotar placas ou tirar fotografias, tomando cuidado para não ser percebido;
- não comente sobre grandes vendas; tranque devidamente todos os galpões com cadeados; e faça o transporte da safra durante o dia, evitando paradas na estrada e na rodovia;
"São ações pequenas que podem nos ajudar muito e manter a segurança desses proprietários. Às vezes o criminoso rouba o trator, por exemplo, e o deixa no meio de um local ermo e de difícil aceso, tornando difícil sua localização. Um chip de rastreamento pode tornar fácil essa localização, seja de máquinas ou até mesmo da produção furtada ou roubada", completa tenente-coronel Charles.