ARMAÇÃO

Ademir Ross ocupa tribuna da Câmara e diz que foi vítima de armação

Vereador afastado chegou ficar preso cerca de vinte dias após ter sido flagrado em suporta tentativa de extorsão
Por: João Oliveira | Categoria: Política | 18-02-2020 17:49 | 2248
Ademir ressalto que aguarda decisão da Justiça, mas que está tranquilo em relação a isto
Ademir ressalto que aguarda decisão da Justiça, mas que está tranquilo em relação a isto Foto: ASSCAM

Ademir Ross, vereador afastado de suas funções por determinação judicial  da Câmara Municipal de São Sebastião do Paraíso, na sessão de segunda-feira (17/2), usou a tribuna livre,  onde, pela primeira vez, falou sobre a acusação de que ele teria tentado extorquir o prefeito Walker Américo Oliveira. A raiz da suposta extorsão seria a votação de uma Comissão Parlamentar Processante da qual Walkinho era investigado e que o vereador, segundo  o prefeito lhe teria pedido R$ 50 mil para votar a favor dele.

Ademir agradeceu o apoio que teve dos colegas vereadores e todos que torceram por ele no caso do qual é acusado. Ele comentou sobre seu silêncio e ressaltou que já era hora de vir a público e dar a sua versão dos acontecimentos. Ele recordou sobre o dia da prisão e disse que havia ido ao gabinete de Walkinho acompanhado do filho.

“Tínhamos uma reunião marcada naquele dia com outras duas pessoas para tratar sobre a Queima do Alho. A reunião estava marcada para as 8h, mas cheguei mais cedo. Naquele dia estava no gabinete a Denise Mavel, que conversou comigo sobre a CPP, que não havia nenhum pagamento irregular e, portanto, não precisava de tudo o que estava acontecendo. Naquele dia, disse que havia ido lá para tratar de outro assunto”, recordou.

Ademir conta que, ao termino de sua conversa, poucos momentos depois, chegaram as outras duas pessoas que ele esperava para a reunião sobre a Queima do Alho e, no fim da conversa, Ademir disse que não queria que seu filho ficasse com ele naquele dia da votação e que foi para a Guardinha levar a criança.

“Quando estava na Guardinha, o prefeito me ligou dizendo que queria falar comigo, eu tinha uma reunião marcada na Câmara às 15h, mas ele disse para que eu ligasse para ele quando estivesse em Paraíso. Liguei e disse se era possível me encontrar em frente à Câmara, mas ele sugeriu que eu o encontrasse em frente à UFLA, já que ele teria que visitar as obras”, recordou.

Segundo o vereador, ele conversava naquele momento com um conhecido, sobre a votação daquele dia, como votaria. “Nesse momento, o prefeito me ligou, mas eu não atendi porque estava em outra ligação. Ele encostou o carro atrás do meu e desceu com uma maleta, entrou no meu carro, pegou um envelope amarelo”, conta

Segundo o Ademir, Walkinho teria dito naquela manhã que queria lhe entregar um documento, para ser lido no plenário, caso o vereador fosse abster de votar. “Imaginei que fosse esse documento naquele envelope. Naquele momento ele disse que me daria um agrado. Eu disse que não queria, só que ele cumprisse o que prometeu para a Guardinha. Neste momento, ele desceu, colocou o envelope debaixo do banco do meu carro, no exato momento em que a polícia chegou me abordando. Eu fiquei sem entender nada”, afirma.

Ademir disse que naquele momento, não soube o que dizer. “Pensei mais em livrar a pele do prefeito que a minha”, disse emocionado, alegando que poderia criar problemas para Walkinho caso dissesse a origem do envelope. “Naquele momento, disse que foi a minha secretária quem pegou o dinheiro, mas até então eu imaginava que se tratava de uma abordagem normal. Mas começaram a me fazer muitas perguntas e só fui entender que era uma armação quando o delegado virou para o prefeito e disse para que ele ‘vazasse dali’. Eu disse que não falaria mais nada. Foi quando disseram que me levaria para o MP”, afirmou.

Segundo Ademir, o prefeito na sua versão disse que foi procurado por ele para pedir dinheiro. “Na ligação que eu fiz ao prefeito, disseram que eu também pedi dinheiro. Eu tenho a consciência muito tranquila em relação a isso. Meu celular tem aplicativo que grava todas as ligações. Se eu tiver pedido um real, está lá gravado. Se eu tivesse feito algo errado, jamais ocuparia a tribuna para fantasiar alguma coisa. Até hoje não falei nada a ninguém e escutei muita coisa. Fico triste do que foi falado sobre mim, muita gente que foi às redes sociais me criticar não sabe que eu sou uma pai, um filho, que tenho família”, lamentou.

“O que me deixa mais triste nessa história toda é você ver uma pessoa que diz que é de Deus, de dentro da Igreja, que abraçou meu filho, três ou quatro horas depois é capaz de fazer tudo o que fez. Uma pessoa que diz que é de Deus, da igreja. Alguém que realmente tem Deus no coração, jamais seria capaz de fazer algo assim. Morei em muitos lugares, e em todos os lugares por onde eu passei sempre volto de cabeça erguida porque tenho amigos, nunca prejudiquei ninguém. Se eu cheguei onde cheguei, foi sem passar por cima de alguém”, disse.

Ademir conta que ficou cerca de 18 dias preso. “O que eu passei não desejo para ninguém. Hoje, se me perguntarem, o que sinto pelo prefeito é pena. Mas fiquei muito chateado porque uma pessoa que é capaz de abraçar seu filho, prometer tudo que prometeu para Guardinha, dizer que pode contar com ele para o que precisar e depois armar para te colocar na cadeia... Uma pessoa dessa não tem Deus no coração, a menos que seja um Deus diferente do meu. Eu confio em Deus e na minha consciência. Eu teria vergonha se tivesse feito tudo o que foi falado, de olhar para as pessoas. Mas quem não deve, não teme. Eu confio na Justiça e tenho certeza de que tudo será esclarecido. A justiça divina também não falha”, finalizou

PREFEITO
Procurado pela reportagem do Jornal do Sudoeste sobre a manifestação de Ademir Ross na Tribuna Livre, por meio de sua assessoria de comunicação o prefeito Walker Américo Oliveira disse apenas que “o caso já está sendo discutido no Judiciário”.