A primeira bateria de testes da curta pré-temporada da Fórmula 1 já deu sinais de que 2020 será de muitas discussões e polêmicas no campeonato que começa em 15 de março, na Austrália.
Quem olha o carro da Racing Point, dos pilotos, Sergio Pérez e Lance Stroll, vê quase uma réplica do carro da Mercedes do ano passado. Parece até que pintaram o W10 de rosa e batizaram de RP20, nomenclatura do carro da equipe que no ano que vem passará a ser Aston Martin, que vai retornar à Fórmula 1 com o investimento que Lawrence Stroll, bilionário dono da Racing Point, e pai de Lance Stroll, injetou na fábrica inglesa que não andava bem das pernas.
A semelhança do RP20 com o W10 da Mercedes, campeão do ano passado com Lewis Hamilton tem uma explicação. A equipe britânica mantém uma parceria técnica com a Mercedes, e desde o ano passado vem usando o túnel de vento da equipe alemã no desenvolvimento de seus carros. A Mercedes fornece também motores para a Racing Point.
Na Fórmula 1 é obrigatório que cada equipe tenha propriedade intelectual do projeto de seus carros e os construa em sua fábrica. Mas já houve relaxamento das regras para que determinadas partes do carro possam ser compradas de outras equipes. A Toro Rosso, que este ano passa a se chamar Alpha Tauri, criou muita polêmica desde que o dono da Red Bull, Dietrich Mateschitz, comprou a Minardi e fez dela uma espécie de trampolim de pilotos para a equipe matriz. O caso mais recente é o da Haas que estreou na Fórmula 1 em 2016 e mantém parceria técnica com a Ferrari que lhe fornece motores e a maioria das peças que o regulamento permite. Cabe à Haas construir apenas o monocoque de seus carros.
Daí faz sentido a fala de Frederic Vasseur, chefe da Alfa Romeo, sobre a Racing Point ser uma Mercedes cor-de-rosa; “a Alpha Tauri uma Red Bull branca e azul, e a Haas meia Ferrari”, disse.
Há quem acredita que isso vai contra o DNA da Fórmula 1 que sempre foi rigorosa no que tange à construção dos carros por parte de cada equipe e é por isso que desde 1958 existe o Campeonato Mundial de Construtores que envolve muito dinheiro arrecadado pela Fórmula 1 que repassa às equipes de acordo com a classificação do campeonato de construtores.
Mas nada foi mais polêmico nos três primeiros dias de testes no Circuito da Catalunha, em Barcelona, que o ainda misterioso movimento para trás e para frente do volante do carro da Mercedes. Pela câmera onboard dava pra ver Lewis Hamilton puxando o volante para trás quando entrava na reta e simultaneamente as rodas dianteiras ficavam mais alinhadas, diminuindo o ângulo de convergência, e ao se aproximar da curva, o piloto empurrava o volante para a posição normal e as rodas novamente mudavam a convergência, mais negativa, para melhor contorno das curvas.
Trata-se de uma inovação que pegou todo mundo de surpresa. A Mercedes afirma que a Federação Internacional de Automobilismo está ciente do uso da inovação, e garante que está legal perante o regulamento. A equipe citou apenas o nome da nova engenhoca: DAS (sistema de eixo duplo), e mais nenhum detalhe, ao que causou reboliço no paddock do Circuito da Catalunha.
Semana que vem tem a fase final dos testes de pré-temporada, de 26 a 29. Talvez não haja tempo para que o sistema seja copiado por outras equipes, embora tudo aconteça rápido na Fórmula 1, mas não duvido que até o GP da Austrália outras equipes já tenham implantado o sistema em seus carros. Mas se ficar comprovado que a Mercedes esteja obtendo grande vantagem, certamente haverá protestos junto à Federação Internacional de Automobilismo, alegando irregularidades com o W11 de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas.