Stirling Moss foi uma das raras exceções no automobilismo. Um cavalheiro dentro e fora das pistas por toda a sua vida que chegou ao fim na terra no último domingo, aos 90 anos, em Londres. E uma demonstração do seu lado humano diferenciado no mundo egoísta da Fórmula 1 é retratado na derrota do título de 1958 que fatalmente seria seu, não fosse o caráter íntegro em impedir que o adversário, Mike Hawthorn, fosse desclassificado do GP de Portugal daquele ano.
Moss comandava a prova com extrema facilidade e abriu a última volta prestes a colocar uma volta no 2º colocado, Hawthorn, que vinha sofrendo com problemas de freios em sua Ferrari. Moss chegou ultrapassá-lo, mas sentindo que o rival não ficaria feliz em tomar uma volta, levantou o pé para que Hawthorn recuperasse a volta. Foi quando Moss recebeu a bandeirada e mais à frente, Hawthorn que teria que completar aquela volta inteira, rodou e deixou o motor da Ferrari morrer. Moss parou para ajudá-lo enquanto a Ferrari foi empurrada no sentido contrário da pista para fazer o motor pegar.
Horas depois o diretor de prova queria desclassificá-lo por ter colocado em risco a segurança de outros pilotos ao andar por alguns metros na contramão, mas Moss testemunhou a favor do adversário dizendo que ninguém fora colocado sob risco, já que os outros pilotos haviam tirado o pé do acelerador naquele momento. E assim Hawthorn manteve o 2º lugar.
O desfecho da história foi que na última etapa do ano, Moss precisava vencer o GP do Marrocos, e torcer para que Hawthorn terminasse de 3º para trás. Moss venceu, mas Hawthorn chegou em 2º e ficou com o título por um ponto de vantagem. E assim Moss perdeu o quarto campeonato consecutivo, ficando com o vice e tornando-se até hoje o maior vencedor da história da Fórmula 1 sem ser campeão mundial.
Mas aquela não foi a melhor corrida de Stirling Moss na categoria. Dentre tantas de uma brilhante carreira de 66 GPs entre 1951 e 1961 em que conquistou 16 vitórias, 16 pole positions, 19 voltas mais rápidas, 33 pódios, e quatro vice campeonatos: 1955/56/57/58, o GP da Alemanha de 1961 em Nurburgring foi - segundos os relatos da época - a corrida memorável do britânico que deixaria a Fórmula 1 ao final daquele ano.
O gigantesco Circuito de Nurburgring com seus 22,7 km de extensão, também conhecido como “inferno verde”, foi onde Niki Lauda sofreu o terrível acidente de 1976 em que milagrosamente saiu com vida da Ferrari em chamas. Mas naquela prova de 1961, Moss levava enorme desvantagem técnica com seu Lotus equipado com motor Clímax de quatro cilindros. Tanto é verdade que o pole position, Phil Hill, tornou-se no dia anterior à corrida o primeiro piloto a completar uma volta na pista abaixo de 9 minutos com sua Ferrari empurrada por um potente motor de 12 cilindros.
Pouco antes da largada caiu uma forte chuva que começou mudar o cenário para a corrida. Jack Brabham (2º no grid) pulou na ponta com seu Cooper-Climax V8, mas logo cometeu um erro, caiu para 3º, recuperou a liderança e pouco depois abandonou com problemas mecânicos.
Moss que havia tomado a posição de Phil Hill na largada assumiu a ponta e não perdeu mais, extraindo tudo o que podia dos eficientes pneus de chuva da Dunlop, sua principal arma já que não podia responder aos ataques das Ferrari de Hill e Wolfgang von Trips só com a potência inferior de seu motor.
Trips ultrapassou o companheiro de equipe quando a pista começou a secar e reduziu drasticamente a diferença para Moss, mas quando a ultrapassagem parecia inevitável, uma nova pancada de chuva caiu e Moss pode respirar aliviado, abrindo mais de 21 segundos na liderança e conquistando ‘no braço’ aquela que foi sua última vitória na Fórmula 1.