A atual cidade de São Sebastião do Paraíso, polo cafeeiro do Sudoeste Mineiro, está prestes a comemorar, dentro de 18 meses, o segundo centenário de sua fundação. Suas origens remontam ao tempo dos poderes coloniais, quando existiu o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, criado em consequência da transferência da Família Real para o Rio de Janeiro. Nesse contexto, os proprietários da Fazenda da Serra, localizada no antigo município da vila de São Carlos de Jacuí, doaram terras para a fundação de uma capela, em torno da qual nasceram as primeiras casas e ranchos do arraial.
A escritura de doação foi assinada pela família Antunes Maciel em 25 de outubro de 1821, data em que se comemora a fundação da atual cidade. Os doadores marcaram os limites do patrimônio e fixaram o local para erguer uma modesta capela consagrada a São Sebastião, coberta com folhas de palmeiras. Segundo memórias preservadas pelos antigos moradores, esse primeiro templo localizava-se próximo à atual matriz, porém, um pouco mais distante da atual Rua Pimenta de Pádua.
Com base nas anotações de José de Souza Soares houve sérias divergências, entre os doadores, na escolha do local para a construção da capela. Enquanto alguns decidiram pelo local, onde hoje está o centro da cidade, outros pretendiam que fosse construída mais próximo da sede da Fazenda da Serra, não muito distante da área onde, anos depois, seria construída a atual Igreja de Nossa Senhora da Abadia, coração do bairro da Mocoquinha. Tais divergências teriam inclusive dividido a família doadora, gerando sérias disputas entre eles. Mas, prevaleceu a decisão dos mais velhos, todos eles crentes e fervorosos “soldados da religião católica”. Como residiam distantes de Jacuí, resolveram a fundação da capela onde pudesse frequentar para celebrar suas orações, novenas e honrar suas devoluções religiosas.
Sobre a escolha do local, observa o mencionado autor que: “os Soares e outras pessoas que presenciaram a assinatura da escritura de doação, depois de muitos esforços, “dissuadiram os Antunes da construção da capela nas proximidades da Fazenda da Serra, porque o terreno era muito íngreme, no que estavam com razão, pois nota-se, ainda hoje, a sua desconformidade.” Por esse motivo, houve então intensa conversa para escolher o local melhor e as lideranças escolheram o lugar onde hoje está a praça principal de São Sebastião do Paraíso.
A respeito das fontes memoriais Souza Soares faz referência à lembrança de João Francisco Soares Neto, falecido em 6 de maio de 1913. Seu bisavô, capitão Antônio Soares Coelho, ao contemplar o cenário do terreno doado, teria afirmado aos seus amigos: “Isto aqui é um Paraíso!”. Na escritura de doação ficou registrado, além dos limites do terreno, que o valor do mesmo era de 100 mil réis, conforme avalição feita pelo capitão Antônio Soares Coelho, juntamente com o Antônio Joaquim Marques e com o alferes Manuel Caetano do Nascimento. Os doadores escolheram esse último como procurador do patrimônio, ficando o escolhido em posse do documento e encarregado de administrá-lo para organizar a fundação da capela.
Nos anos seguintes, essa primeira capela foi substituída por outra, um pouco mais ampla e com melhores condições, para atender sua possível oficialização por parte do Bispado de São Paulo. Cumpre observar que a doação de terras para construção da capela incluía uma área mais ampla para constituir o patrimônio de uma futura unidade da Igreja. O Sudoeste Mineiro estava então vinculado ao distante Bispado de São Paulo, quando ainda havia divergência com o Bispado de Mariana. Foi então necessário passar três décadas para que a capela fosse reconhecida como templo oficial da Igreja.