Era a segunda corrida de Ayrton Senna pela Lotus que não vencia um GP desde 1982. A tradicional equipe inglesa já não media forças com as grandes como em épocas passadas, mas naquele 21 de abril de 1985 a Fórmula 1 ficou assombrada com a atuação do então promissor piloto brasileiro a bordo do emblemático carro e suas cores negro-dourado debaixo do dilúvio que caiu no Circuito do Estoril, em Portugal.
Ainda pela manhã, antes de a chuva chegar, o motor de Senna quebrou no warmup, um treino de aquecimento que existiu na Fórmula 1 até 2002, e precisou correr com o carro reserva que não havia dado nenhuma volta pela pista durante o final de semana.
Senna estava na pole position, a primeira de sua carreira numa temporada em que ainda largaria outras seis vezes da posição de honra do grid. Mas as condições de visibilidade eram precárias. Hoje seria impensável o diretor de provas autorizar a largada em condições semelhantes. Por muito menos as largadas são feitas com o safety car na pista. Mas naquele tempo não existia o carro de segurança, e a largada foi dada normalmente.
Senna pulou na ponta e a cada volta foi abrindo vantagem sobre os adversários. Só para se ter ideia de sua capacidade de pilotar no molhado, na 10ª volta a vantagem de Senna para o 2º colocado, Elio de Angelis, seu companheiro de Lotus, era de 12s8; Na 15ª já era de 17s5; na 20ª, 30s6; na volta 27 o ninguém menos que Niki Lauda, da McLaren, tricampeão mundial, já havia tomado uma volta! E Senna só não foi o mais rápido da pista em apenas uma das 67 voltas da corrida. Na 37ª ele deu uma escapada da pista: “consegui inexplicavelmente voltar ao traçado”, disse depois da prova.
Enquanto a maioria enfrentava problemas com rodadas e acidentes, Ayrton Senna ia abrindo caminho no meio do aguaceiro. Dos 26 que largaram, só 12 permaneciam na pista, e lá pela 48ª volta a chuva apertou ainda mais e a cada passagem pela reta dos boxes Senna gesticulava para o diretor de prova pedindo o fim da corrida. O chefe da Lotus, Gérard Ducarouge foi até a sala dos comissários com Niki Lauda que já havia abandonado, pedir o encerramento da prova pela total falta de segurança, mas deram com a porta fechada. E a bandeirada só foi dada no limite de 2h de corrida.
Senna venceu com impressionantes 1min02s978 de vantagem para o 2º colocado, Michele Alboreto, da Ferrari, único na mesma volta do vencedor. Patrick Tambay completou o pódio com a Renault num domingo em que o mundo da Fórmula 1 passou a chamar Ayrton Senna de ‘rei da chuva’. No ano anterior ele já havia impressionado ao quase vencer o GP de Mônaco nas mesmas condições com a modesta Toleman.
O GP de Portugal foi a primeira vitória de Senna numa das corridas mais difíceis da história da Fórmula 1, por mais que sua atuação tenha parecido fácil, tamanha genialidade com que conduziu ao longo de duas horas de corrida nas mais precárias condições de aderência e visibilidade.
“Hoje é um dia muito feliz, as condições estavam desconfortáveis, foi difícil segurar o carro em linha reta, mas faltou pulso aos diretores encerrar a corrida antes do fim”, disse na época.
Só para efeitos estatísticos, das 41 vitórias de Senna na Fórmula 1, treze foram com chuva.
Na próxima sexta-feira (1) completará 26 anos da morte de Senna, em Ímola/1994. E a Pole Position da semana que vem vai lembrar outra grande vitória em sua homenagem, desta vez em pista seca.