O Hospital Gedor Silveira tem adotado a Terapia Assistida por Cães (TAC), como tratamento complementar aos cuidados já ofertados pelos pacientes ali assistidos. São animais resgatados da rua, e após passar por todo um tratamento, são incorporados a instituição ajudando na recuperação de pacientes do Hospital. Conforme o psicólogo e coordenado da Equipe Multidisciplinar do Hospital Gedor Silveira, Frederico Teruaky Simosono Grillo, o projeto de trabalhar com cães para finalidades terapêuticas Gedor Silveira surgiu no primeiro semestre do ano passado.
Segundo conta o psicólogo, o hospital já incentivava aos colaboradores para que trouxessem novas ideias. Assim, o educador físico que estava contratado no hospital na época, Rubens Santini, levou a ideia do trabalho com os cães, que era uma pratica que ele já conhecia e costumava utilizar em trabalhos com outras instituições. A ideia foi levada a diretoria, aprovada, implementada e se mantém ainda como um projeto efetivo da instituição.
“No Brasil, a precursora deste trabalho, da utilização de animais para ajudar no reestabelecimento de pacientes psiquiátricos, foi Nise da Silveira. Junto a isso ela deixou um ensinamento de muito valor: a importância de se ter um olhar diferente e a necessidade de se buscar ou mesmo criar novas estratégias para poder lidar com uma questão tão complexa e delicada que é o tratamento com os transtornos mentais e o sofrimento psíquico”, destaca.
Conforme Frederico, pacientes que chegam até o hospital estão em um momento muito delicado de suas vidas. “À medida que a sociedade muda, as formas de enfrentamento dessas novas realidades também se modificam, o que gera novas modalidades de sofrimento. Levando isso em consideração é importante que cada vez mais se busque novas estratégias de tratamento. A implementação do projeto de terapia com os cães veio, principalmente, para complementar as atividades já oferecidas no Hospital. É um recurso para ampliar e enriquecer o programa terapêutico, que já conta com várias modalidades de atendimento com profissionais de diversas áreas”, explica.
Geralmente, conforme aponta o terapeuta, no trabalho de terapia assistida por animais, os animais são levados até as instituições onde há demanda de assistência. “O Hospital Gedor Silveira optou por montar seu próprio canil, para que os cães pudessem ser treinados e acompanhados de perto. Atualmente estamos com 21 cães. Todos são tratados pela veterinária, que os mantêm cuidados e saudáveis. Temos uma pessoa contratada especialmente para os cuidados e limpezas diárias dos cães e do canil”, destaca.
O psicólogo ressalta ainda que todos os cães que agora residem no Hospital, foram acolhidos na rua em estado de sofrimento e maus tratos. Todos passaram pela veterinária e receberam as vacinas e cuidados adequados. “Este projeto de terapia assistida por cães, contempla algumas finalidades importantes dentro da Instituição. A primeira seria a defesa da causa animal, que é também uma questão social.
Aqui vai desde o acolhimento e os cuidados com o animal até o processo de adoção que o hospital promove como forma de achar novos cuidadores para eles. Outra finalidade seria a humanização do ambiente de trabalho. Alguns deles são selecionados para ter livre acesso aos espaços administrativos, fora de complexo hospitalar. Estes atuam também como recepcionistas para aqueles que chegam aos espaços de recepção”, acrescenta.
Frederico explica ainda que na terapia assistida é pensado desde a raça do animal, assim como suas características de personalidade para que se planeje os objetivos a serem alcançados de acordo com o que se observa das necessidades de tratamento do paciente. “No Hospital tem sido utilizado, geralmente, a atividade assistida por animais, onde eles atuam principalmente como facilitadores e auxiliam no processo terapêutico. Porém o intuito é que haja cada vez mais capacitação dos profissionais para que a terapia possa ser realizada da forma mais eficaz possível”, conta.
O especialista conta que tem sido observado que estes animais, após serem cuidados demonstram bastante afeto e amorosidade. Este processo, onde eles aprendem que podem novamente confiar em alguém, é compatível com o que a Instituição também espera dos pacientes, um desenvolvimento conjunto do sentimento de confiança.
“O sentimento de confiança é fundamental para qualquer tratamento, é o que torna ele possível e que faz com que haja engajamento do paciente no processo terapêutico. Outros benefícios que podemos observar nos pacientes que fazem atividade com os cães é a melhora do interesse, da motivação e na autoestima. Quando associado às atividades físicas, é perceptível a melhora também do desempenho e da coordenação motora”, ressalta.
De acordo com o psicólogo, a interação com o animal oferece muitos estímulos ao paciente. “Outro ponto importante para ressaltar é a questão da afetividade. Muitas vezes a afetividade é um elemento bastante prejudicado de quem possui algum transtorno ou sofrimento mental. A simplicidade da demonstração afetiva do animal, permite, em muitas vezes, que o paciente possa encontrar ali uma possibilidade de interação onde não vai sentir-se julgado.
Por fim, é esperado deste trabalho que ele possa, somado a todo tratamento já oferecido, ajudar a resgatar o sujeito que há no ser, muitas vezes escondido no transtorno e nos sintomas, e ajudá-lo a se reerguer e assumir novamente a responsabilidade de si, permitindo, que daí possa se engajar nos tratamentos necessários, dando continuidade a esse complexo processo que é manter-se saudável”, completa.