Nesta sexta-feira (1) completou-se 26 anos da morte de Ayrton Senna, e conforme prometido, a Pole Position lembra outra atuação antológica do piloto: GP da Espanha de 1986.
O regulamento daquele ano reduziu a capacidade dos tanques de 220 para 195 litros de gasolina, e os motores Honda e Tag-Porsche que empurravam as Williams e McLaren, respectivamente, mostravam-se bem mais econômicos e potentes que o Renault que equipava a Lotus de Senna.
Era a volta da Espanha ao calendário da F1 desde 1981, agora no novíssimo e travado Circuito de Jerez de la Frontera. Os espanhóis, é bom que se diga, só foram tomar interesse pela F1 com a explosão da “Alonsomania” a partir de 2004 - a paixão do público desde sempre foi o motociclismo, por isso, naquele 13 de abril os organizadores acabaram tendo que abrir os portões e colocar gente de graça no autódromo para não ter as arquibancadas vazias diante das câmeras de TV.
Ayrton Senna cravou a pole - a 100ª da Lotus na F1 - usando suas estratégias de calçar o carro com pneus macios de um lado, e duros do outro. Nelson Piquet fez o 2º tempo, seguido de Nigel Mansell, Alain Prost e Keke Rosberg, em 5º. Senna manteve a ponta na largada enquanto na 2ª volta Mansell foi ultrapassado por Rosberg, e na 4ª por Prost.
O pelotão seguiu compacto; na 20ª volta Senna levava apenas 0s97 de vantagem para Piquet, que puxava Rosberg, Mansell e Prost.
Na 32ª Mansell ultrapassou Piquet e assumiu a 2ª posição, e depois de briga intensa com Senna, passou a liderar a prova na 40ª volta, enquanto Piquet abandonava com o motor quebrado.
Senna recuperaria a ponta faltando 9 voltas para o fim depois de boa disputa com Mansell. Imediatamente a Williams chamou o inglês para troca de pneus. O trabalho foi considerado rápido na época: 8s7(!) - hoje os pit stops são feitos em média na casa de 2 segundos - mas parecia ter sido tarde demais a troca, e Mansell estaria fora da disputa. Fora? Que nada!
Desde a metade da prova, a McLaren de Prost apresentava falha no computador de bordo, passando informação falsa de consumo de combustível, o que custaria caro ao francês que passou a controlar o ritmo para não sofrer pane seca.
Mas o protagonista do show era Nigel Mansell que retornou dos boxes atrás de Prost e 19s5 (dezenove segundos e meio) de atraso para Senna, e passou a voar na pista, descontando cerca de 4 segundos por volta. Há três voltas do fim ultrapassou Prost e abriu a última volta apenas 1s5 atrás de Senna.
Era tudo ou nada para os dois. Com pneus novos, motor mais potente e econômico, Mansell ainda tinha a seu favor aumentar a pressão do turbo para obter mais potência na volta final. Com os pneus no limite, motor menos potente e beberrão, Senna podia contar apenas com seu talento, e usou da artimanha de frear mais cedo na última curva, obrigando Mansell a fazer o mesmo e perder rotações do motor Honda.
E assim os dois entraram juntos pela reta dos boxes, e por míseros 0s014 (quatorze milésimos de segundo) Senna venceu de forma antológica. Impossível negar que se a linha de chegada fosse 5 metros adiante, Mansell teria vencido, assim como não fosse a falha do computador da McLaren, Prost também poderia ter sido o vencedor. Mas o esforço e a determinação resultaram naquela conquista histórica de Ayrton Senna.
Aqui um detalhe curioso: Senna terminou a corrida com apenas 1,5 litros de gasolina no tanque. E para espanto da McLaren, o carro de Prost ainda tinha 18 litros, enganado que foi pela falha do computador de bordo que o obrigou levantar demasiadamente o pé do acelerador.