A escritura de doação da gleba de terras para formar o patrimônio da Capela de São Sebastião do Paraíso foi formalizada em 25 de outubro de 1821, data preservada para comemorar a fundação do atual município polo do desenvolvimento do Sudoeste Mineiro. Consta no documento que a família Antunes Maciel escolheu o alferes Manuel Caetano do Nascimento para ser o procurador do patrimônio. Função que lhe conferia o compromisso de assinar os papeis necessários para pleitear o desejado progresso da capela em torno da qual nasceria o arraial. Vários foram os desafios enfrentados pelos primeiros moradores. Foi preciso, por exemplo, esperar mais de 30 anos para que a capela fosse reconhecida como templo oficial da Igreja Católica.
Na formação da localidade, as férteis terras contornadas por serras fronteiriças com municípios paulistas, atraíram novos fazendeiros e comerciantes dispostos a fazer a vida em sintonia com o crescimento do povoado. Uma das atribuições assumidas pelo alferes Manoel Caetano, como procurador do novo patrimônio, consistia em marcar as primeiras ruas no entorno da capela e ceder os terrenos para os primeiros moradores. Tarefa essa espinhosa porque gerou descontentamentos por parte de alguns moradores em função do local escolhido para eles construírem suas casas. Havia diferentes áreas de erosão, com buracões que chegavam próximo ao centro do arraial. Essa questão teria inclusive motivado divergências entre as lideranças emergentes e os doadores que continuavam residindo na sede da Fazenda da Serra, nas proximidades onde hoje está construído o aeroporto da cidade, na saída para a vizinha cidade de Jacuí.
Ainda com base na escritura de doação é possível listar alguns cidadãos que vivenciaram esse momento inicial da história paraisense, os quais assinaram como testemunhas da escritura, entre os quais: Antônio Soares Coelho, Antônio Soares Neto, Antônio Joaquim Neto, Manoel Botelho Neto, Antônio Joaquim Marques, Bento Gomes e Leonardo Antunes Maciel. Como quase todos os doadores eram analfabetos, Pedro José Correia de Jesus foi escolhido para assinar o documento.
Enquanto os moradores esperavam a oficialização da Capela, o arraial passou a ser distrito vinculado ao município da vila de São Carlos de Jacuí, onde também era sede de paróquia. Há indícios de que em meados da década de 1840, professor João Cândido Pinto Ribeiro, imigrante português que estudou na Universidade Coimbra, já havia fixado residência no distrito, onde abriu uma escola de primeiras letras. Depois de passar certo tempo no Rio de Janeiro, o referido mestre português deixou seu nome na história local, onde nasceu o seu filho, José Cândido Pinto Ribeiro, que também exerceu o magistério, foi político, abriu uma farmácia no povoado e adquiriu patente de coronel da extinta Guarda Nacional. São memórias preservadas por sucessivas gerações, na própria linha familiar, através das anotações do advogado José de Souza Soares, que se casou com uma filha do coronel José Cândido.
Para se ter uma visão do povoamento do distrito cumpre registrar a existência de um anúncio publicado no Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, em 11 de agosto de 1847, da venda de uma propriedade rural com área total de mil e oitocentos alqueires. Essa fazenda estava localizada em São Sebastião do Paraíso, termo de Jacuí, incluindo terras de culturas e campos. Os interessados em comprá-la deveriam procurar o capitão Manoel Luiz Cardoso, morador no distrito mineiro de Perdões. Mas, o desejado progresso do distrito viria, alguns anos depois, em 1855, com a criação da freguesia e paróquia, e a nomeação do primeiro pároco, padre Lúcio Fernandes Lima. Tema para um outro retorno à história dos primeiros tempos de São Sebastião do Paraíso.