Foi se o tempo em que a geração que já passou dos 40 aprendeu a gostar de automobilismo pela arte da pilotagem dos grandes pilotos, pelo barulho dos motores, pelo cheiro da borracha dos pneus, pelos detalhes e a beleza dos carros, ou pela velocidade dos bólidos nas pistas de competição.
Há quem acredita que a partir do momento em que os automóveis deixaram de ser sonho de consumo para a maioria dos jovens de hoje, eles deixaram de se entusiasmar pelo esporte a motor.
E uma das apostas do automobilismo reconquistar esse público vem das corridas virtuais, cada vez mais praticadas no mundo inteiro com jogos que beiram a perfeição entre o real e o virtual.
Mas automobilismo virtual vai muito além de uma simples brincadeira. É coisa séria. Tem muito profissionalismo, marcas, patrocinadores e dinheiro envolvidos.
A paralisação das competições por conta do coronavírus fez com que o virtual se tornasse a única alternativa nesse período de pandemia com corridas de diversas categorias sendo transmitidas ao vivo pelas redes sociais e até na TV. E uma prova do quanto essas competições virtuais são levadas a sério pode ser medidas com as punições severas que tem sido aplicadas pela má conduta de - pasmem - pilotos da vida real(!); algumas por vezes exageradas, mas que servem de exemplos para quando a vida real voltar às pistas.
O caso mais grave aconteceu numa etapa virtual da Nascar quando Kyle Larson se expressou com palavras racistas e acabou demitido da equipe Ganassi e suspenso pela direção da categoria por tempo indeterminado.
Também da Nascar, Bubba Wallace perdeu o seu patrocinador por ter desistido de forma pouco ética e antiesportiva de uma corrida virtual.
Polêmicas também envolveram pilotos da F-Indy com Lando Norris, da Fórmula 1, numa prova virtual da IndyCar em que o piloto da McLaren participou como convidado e foi impedido de vencer após levar uma batida proposital de Simon Pagenaud há duas voltas da bandeirada: “Aquele cara ficou ressentido que um piloto da F1 estava preste a ganhar uma corrida da Indy”, bradou Norris, adepto fervoroso das corridas virtuais.
De fato, tem pilotos da vida real que não estão levando a sério como deveriam, achando que tudo não passa de um simples jogo. Nesta semana a polêmica veio da Fórmula E, categoria de carros 100% elétricos, e que está disputando o campeonato virtual enquanto não retoma a competição real. O torneio virtual tem como objetivo arrecadar fundos para a UNICEF, e quem se deu mal foi o alemão, Daniel Abt, piloto oficial da Audi que acabou demitido por colocar no simulador um jogador profissional de games para se passar por Abt.
Abt foi multado em 10 mil euros pela Fórmula E e perdeu o emprego pelo ato infeliz em que ele disse antes de se desculpar que “queria fazer uma brincadeira com os fãs”.
A fraude foi descoberta quando outros pilotos da Fórmula E começaram questionar a atuação do colega ser melhor que nas etapas anteriores.
O eSport, cada vez mais profissionalizado, abre um novo universo para aqueles que nunca teriam a chance de ser um piloto de verdade, poder se divertir pilotando um carro de corrida, ainda que virtualmente. A modalidade é aberta e vai de amadores a pilotos profissionais da vida real, passando por estrelas até do futebol. Mas para fazer parte deste mundo tem que levar a coisa a sério tal qual na vida real.