Terceiro andar de um edifício, centro, e um dos principais pontos comerciais da cidade. Duas sacadas, hoje com utilidades extras em função da quarentena, como local de floreiras exuberantes, que outrora era um deixa que eu cuido com a funcionária, e nenhum dos dois cuidava, e cadeiras ocupadas pelos banhos de sol diários. Curtir e fotografar fascinantes pores do sol que antes passavam despercebidos. Transformou também em ponto de observação comportamental de nossos semelhantes que por ali transitam.
Hoje em especial a Engenharia bateu. Tempo de explorar, por apenas cinco minutos no passeio público, espaço em torno de cinquenta metros, o número de pessoas transitando, somando 25. Destes, um casal de namorados jovens, de mãos dadas sorridentes, alegres conversando, sem máscaras; duas senhoras uma com máscara e outra segurando uma criança pelas mãos, sem máscara; dois senhores, um de cabeça totalmente branca, com a máscara no queixo e o outro, cabelo grisalho, com máscara, porém com o nariz de fora.
Para uma pick-up e descem dois senhores, o motorista, com máscara, porém o nariz de fora, e outro sem máscara, a porta esquerda fica aberta e sai o terceiro bem comportado, com máscara, só que o calor deveria estar intenso, pois logo coloca o narigão para fora e se espreguiça de corpo e alma.
Passou mais um casal de velhinhos de mãos dadas, bem equipados, alegres, uma gracinha, mas velhinhos na rua. Pela distância, não consegui observar quanto ao uso de acessórios, também não recomendáveis para uso, como relógio, pulseira, corrente, colares, aliança etc.
Calculando, 25 pessoas transitando, oito com irregularidades em máscara, concluímos que 32% estavam fora do contexto, ou fora do recomendado.
Consegui fazer essa conta e tentei outras com os dados que obtive, tais como, metragem do passeio, tempo decorrido, pessoas por sexo, idade, e, infelizmente não cheguei a nenhum número satisfatório.
Ficaram somente dúvidas, e olha que ocorreu em um espaço reduzido e restrito, uma população tão pequena, ou seja, uma amostra insignificante em nosso universo.
Não estamos preocupados conosco, imagine então com o próximo?
Por que descumprimos regras?
Por que ninguém fiscaliza?
Será que não serei contaminado agora ou em outras oportunidades?
Manhã do dia seguinte, hora de cuidar das plantas, e novamente o passeio me chama a atenção. Um vendedor puxando um carrinho abarrotado de mercadorias, como mantas, cobertores, panos de prato e uma coleção de bonecas de pano, literalmente o estaciona na esquina.
Em seu entorno logo se junta um amontoado de pessoas. As bonecas são abraçadas, uma, até duas simultaneamente, cheiradas, trocadas de mão em mão, cobertores abertos são esfregados nos rostos.
Esqueci, algumas mulheres sem a bendita máscara. Vida segue...
Newton Cunha