EDITORIAL

Editorial

Por: Nelson Duarte | Categoria: Cidades | 19-11-2000 14:35 | 625
Foto: Reprodução

O crescente número ocorrências em São Sebastião do Paraíso envolvendo menores, em furtos, roubos, e assaltos à mão armada, nos deixa pasmados, e como não poderia ser diferente dado à sensação de estar desprotegida, apreensiva e medrosa, a sociedade. Afinal, ninguém está imune à ação daqueles que vivem à margem da lei. Se os mais idosos são alvos preferidos nos crimes contra o patrimônio, jovens acabam se envolvendo noutras práticas delituosas e a origem desse temível desequilíbrio, como se sabe, são as drogas.

A preocupação do JORNAL DO SUDOESTE nesse sentido não é de hoje, de vez que em alguma edições mostramos o nosso ponto de vista, buscando sensibilizar os segmentos da sociedade para o problema. Afinal, todos estamos num mesmo barco. Todavia a sociedade continua de braços cruzados e não despertou para a gravidade e proporção geométrica dos malefícios causados pelo tráfico e uso de drogas, notadamente em São Sebastião do Paraíso.

Contudo, o sono letárgico no tocante à questão não se restringe aos limites de nossa cidade, e quando assim afirmamos, temos fortes motivos. O SUDOESTE enviou correspondência desde à Presidência da República até órgãos estaduais, das mais diferentes siglas afeitas (pelo menos no nome), ao combate às drogas. Ministério e Secretaria Estadual de Justiça, Polícia Federal (Brasília e em nosso Estado), Governador do Estado, Secretaria de Segurança Pública, além dos famosos Conselhos Federais e Estaduais. Apenas o Alto Comando da Polícia Militar se dignou a nos responder, dando conta de sua “solidariedade” à causa, mas deixando claro ser da alçada da Polícia Federal. A bem da verdade, o comandante da 81.ª Companhia de Polícia Militar Especial, Major Silva Neto, esteve em nossa redação mostrando seu ponto de vista e nos elucidando sobre o trabalho da PM nesse setor.

A ciranda em nada mudou desde a primeira vez que batemos na tecla, aliás, está se ampliando. Furtos, roubos, assaltos. Consumo e fornecimento de drogas. Ousadia e destemor também.

Na primeira semana deste mês, possivelmente de revólver calibre trinta e oito, foram disparados três tiros contra uma porta de vidro em um apartamento nas proximidades da Santa Casa. O endereço seria a residência de um sargento da Polícia Militar, mas por um equívoco de quem atirou foi parar na sala de um vizinho dele, onde uma senhora e duas crianças estavam minutos antes, e tão somente pela Providência Divina haviam saído no momento. Atribui-se esse fato a traficantes que agem naquela região, cuja identidade chegou ao conhecimento do policial, cena inspirada em morros e favelas onde já se perdeu o controle, mas difícil de ser imaginada para uma cidade do porte de Paraíso.

No final de semana, recebemos em nossa redação um telefonema dando conta de que um jovem foi brutalmente assassinado com alguns tiros. Ao checarmos, o identificamos como William Alves Oliveira Narciso, ficando ainda cientes de que seu irmão mais novo, menor, também está recolhido à uma cela da Cadeia local. Ambos envolveram-se com o vício e para sustentá-lo, passaram a furtar. Nasceram em família extremamente pobre, paupérrima. A dificuldade em conseguir alimentos, escola, trabalho, tratamento humano e digno houve. Algumas portas lhes foram fechadas, como tem sido comum a outros meninos, meninas e jovens, fruto da insensibilidade de governantes e da própria sociedade. Encontraram sim, em má hora, mãos estendidas primeiramente para lhes oferecer um “baseado”, depois, pedras de crack.

Não nasceram “ladrõezinhos”. William em sua infância demonstrava inteligência, gênio expansivo e tratável, que infelizmente não foi aproveitado. Com os neurônios estourados pelas drogas, seu comportamento mudou. Deu no que deu.

Em maio foram concluídas as obras do Centro de Atendimento ao Menor e ao Adolescente - CEACA - viabilizada graças à ACISSP - mais propriamente por um grupo reduzido de empresários. Entregue solenemente à Prefeitura para colocá-lo em funcionamento, até hoje não se moveu uma palha nesse sentido, numa demonstração inequívoca de desinteresse com causa social tão relevante.

De bom grado registramos o empenho da médica Tânea Tonin, da Superintendência Regional de Ensino e da direção da Escola Estadual Clóvis Salgado em alavancar uma campanha permanente contra o uso indevido das drogas.

Possa o exemplo servir a outros segmentos, entidades assistenciais, religiosas, filosóficas, clubes de serviço, grupos de jovens e voluntários, saindo da teoria, do formalismo, rituais, das glórias do passado e muito “blá, blá, blá” para ações de efeito prático. Paralelamente, há de se exigir dos órgãos de segurança, a quem de direito, que cumpra de sua parte. É bom lembrar que a inércia da sociedade é um prato cheio para traficantes, para o mundo marginal.