O padre Lúcio Fernandes Lima foi o primeiro sacerdote nomeado para exercer o ministério católico na Capela de São Sebastião do Paraíso, em 1853. Dois anos antes, o Frei Eugênio Maria de Gênova havia visitado o povoado, celebrando as missões em parceria com o Frei Francisco Coriolano. Nessa visita os freis indicaram aos líderes da localidade a necessidade urgente de construir um cemitério geral para o sepultamento dos mortos. Foi construído então o antigo cemitério que existiu no terreno onde está construída a Praça Comendador João Alves, usado até os últimos anos do século XIX. Os freis recomendaram ainda outras medidas necessárias para a desejada oficialização da Capela e a possível nomeação do primeiro vigário.
A nomeação do padre Lúcio foi assinada pelo bispo de São Paulo, Dom Antônio Joaquim de Melo, o que foi um expressivo progresso social e religioso porque a Capela passou a contar com um representante oficial da Igreja na comunidade. Por esse motivo, como se dizia naquela época, a Capela passou a ser “Curada”, categoria que precedia a criação de uma nova paróquia, o que aconteceu com a assinatura da Lei Provincial no 714, de 18 de maio de 1855, ou seja, dois anos após a chegada do padre Lúcio, que recebeu ordens para consagrar a primeira igreja local com o estatuto de Matriz. Diante da expectativa de oficialização da Capela e por indicação dos freis missionários a comunidade congregou esforços para construir um templo com boa aparência, com paredes de alvenaria, telhas de barro, com altares e assoalhos de madeira de lei. Após 28 anos, essa primeira Matriz foi destruída por um grande incêndio ocorrido no dia 31 de agosto de 1879.
Antes de vir para São Sebastião do Paraíso, o padre Lúcio havia exercido o magistério público no Arraial de Suaçuí, sendo depois removido uma escola de Ouro Preto. Essa remoção significava o reconhecimento de sua competência pedagógica, cuja eficiência ficou destacada nos jornais na capital da província. Como era usual, o padre Lúcio mandava publicar na imprensa o início das aulas públicas, solicitando aos pais a matrícula dos seus filhos. Anúncio como esse tipo foi publicado em jornal de Ouro Preto, em 12 de julho de 1836, observando que o mestre iria se esforçar para continuar com o conceito que sempre mereceu junto ao presidente da província.
Um ano após a instauração da paróquia, infelizmente, o padre Lima faleceu em Paraíso, no dia 9 de abril de 1856. Um morador da freguesia, Benjamim Fernan-des Lima, mandou publicar um obituário no jornal O Bom Senso, de Ouro Preto, em 21 de junho de 1856. Documento que serviu de fonte para escrever esta crônica, no qual consta os agradecimentos da família pelo tratamento dispensado nos momentos de sofrimento do sacerdote. Um agradecimento especial foi dirigido a Floriano Potenciano e Silva ao Dr. Pantaleão Augusto do Ceo e ao tenente coronel Antônio Ferreira Pinto pelo zelo com que trataram do sacerdote, bem como agradece ao padre Emídio Antonio de Carvalho, que exercia o sacerdócio na mesma região, e aos amigos e pessoas que acompanharam o falecido sacerdote até sua última morada.
Essa nota, assinada em São Sebastião do Paraíso, em 10 de abril de 1856, foi publicada em jornal de Ouro Preto nos seguintes termos: “É morto o digno padre Lúcio Fernandes Lima, o bom pároco da freguesia de São Sebastião do Paraíso. A irreparável perda que acabaram de sofrer os São Sebastianenses é sem limites. É uma chaga que custará a cicatrizar. Durante o tempo que conduziu suas ovelhas para a fé, nenhuma houve que de suas expressões se afastasse.” Seus numerosos amigos sofreram sinceramente com o seu pensamento, mas serão consolados ao observar que o Ente Supremo o chamou para dar-lhe o prêmio Celestial. O seu funeral foi esplêndido e com toda a etiqueta mundana, e o numeroso concurso foi mais uma prova de simpatia para com o finado. Ao depositar o corpo na sepultura o Dr. Pantaleão Augusto do Ceo, leu a seguinte necrologia: Só pranto e dor visualizo nos semblantes. Ah com toda a razão. A ímpia parca com férrea mão veio ceifar mais uma vida preciosa, a do reverendo pároco Lúcio Fernandes Lima, assim nos privou do bom vigário, do bom amigo, e finalmente do extremoso amigo.” Assim, o recolhimento deste fragmento documental é apenas mais uma fonte para a escrita da história do culto católico em São Sebastião do Paraíso.