Eu sei que tem um bom tempo que esta Coluna não aparece aqui no Jornal. Parece que a língua, não anda tão solta assim... A escrita nem sempre é algo fácil de acontecer, especialmente quando a proposta é falar de realidade e a realidade não se mostra tão boa quanto gostaríamos que fosse. Antes de elaborar este texto, fiquei pensando sobre o que eu mais gostaria de escrever neste momento. Ponderei se eu gostaria de fazer alguma análise de dizeres que circulam por aí, se eu gostaria de problematizar alguma questão que envolve os sujeitos contemporâneos, apresentar alguma explicação sobre algo de nossa língua portuguesa, ou até mesmo comentar alguma obra literária. A resposta foi um enfático não. Sobre o que eu deveria escrever, então? Vasculhando minhas ideias - e também meus sentimentos sobre esse momento de pandemia - pensei que seria bom escrever sobre a esperança... Foi o que fiz! A esperança é o tema deste texto.
De acordo com dicionários etimológicos, a origem da palavra esperança é a palavra latina spes, cujo significado é "confiança em algo positivo". No latim, a palavra spes também originou o verbo sperare, que no português se tornou o esperar, compreendido como o ato de aguardar algo, ter esperança de algo.
Da etimologia para a realidade, o fato é que, entre nós, a esperança pode ser compreendida como uma atitude de crença emocional manifestada de diferentes modos e em diferentes instâncias; ter esperança pode ser até mesmo um modo de se viver. Tem esperança aqueles que, apesar de estarem vivenciando algo negativo, aguardam por algo positivo. Nesse sentido, poderíamos compreender como a esperança pode, facilmente, associar-se à fé, porque quem tem fé, espera pelo que é positivo, mesmo em meio à adversidade. Aliás, em Coríntios 13:13, lê-se "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor (...)".
A esperança é inerente à vida humana, porque viver também é, em alguma medida, esperar. O fato de nos levantarmos diariamente e nos esforçarmos para que nossos sonhos se tornem concretos é, de fato, vivenciar o que poderíamos chamar de uma perspectiva ativa da esperança. Ter esperança pouco, ou nada tem a ver com o fato de permanecermos "sentados" aguardando que algo "caia do céu". Como bem escreveu Luís Fernando Lopes, professor, filósofo e teólogo, "a esperança ativa não é simples espera. É uma "paciência inquieta", um silêncio eloquente, pensamento e ação consciente". Essa esperança ativa de que falou o filósofo talvez seja nosso melhor alimento nesta fase de pandemia.
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Michelle Aparecida Pereira Lopes é uma professora apaixonada pelas Letras. É doutora em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ministra as disciplinas relacionadas à Língua Portuguesa na Universidade do Estado de Minas Gerais, UEMG - Unidade Passos. Também ensina Gramática no Ensino Médio e Cursinho do Colégio Objetivo NHN, Passos.