CRÔNICA HISTÓRICA

Lagoinha de outros tempos

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cultura | 02-09-2020 21:08 | 5258
Lagoa de São Sebastião do Paraíso, cuja existência está registrada em documetnos do final do século XIX
Lagoa de São Sebastião do Paraíso, cuja existência está registrada em documetnos do final do século XIX Foto: Reprodução

Ao revisitar lugares históricos de São Sebastião do Paraíso, polo cafeeiro do Sudoeste Mineiro, é possível localizar anotações sobre a existência de uma exuberante lagoa de águas cristalinas, contornada por frondosos bosques e campos distantes cerca de 300 metros, para o lado dos fundos do antigo cemitério paroquial. Tomando como referência a atual praça Comendador João Alves, construída no terreno do antigo cemitério, no mesmo espaço, encontra-se o Parque da Lagoinha dos nossos dias. Ao longo do tempo, com as sucessivas mudanças e urbanização da região, houve acentuada diminuição do volume de água e a lagoa ficou reduzida à metade da extensão descrita em antigos documentos. A existência dessa lagoa encontra-se descrita no Almanaque Sul Mineiro, publicado na cidade de Campanha, no ano de 1874.

É um lugar especial para muitos paraisenses, trazendo lembranças de outrora, cujas imagens digitais são disseminadas hoje pelas redes digitais de comunicação, tal como a Gazeta Paraisense. Era um local de pescaria, de piquenique e de fazer passeios de canoa. Com a transferência da sede do município de Jacuí para o distrito de São Sebastião do Paraíso, instituída pela lei provincial no 1641, de 13 de setembro de 1870, a freguesia foi elevada à categoria de vila. Três anos depois, a lei provincial no 2042, de 1 de dezembro de 1873, elevou a vila à categoria de cidade, cujo progresso era então noticiado em jornais da época, com destaque para a existência de terras férteis para a abertura de fazendas de café. Razão pela qual, o diretor do referido Almanaque enviou um cronista especial para testemunhar os aspectos gerais da cidade.

O cronista registrou que a bela lagoa paraisense tinha cerca de 200 braças de comprimento. Uma extensão considerável, pois a antiga unidade de “uma braça”, usada pelos portugueses, correspondia aproximadamente a 2,2 metros, no atual sistema decimal de medidas. Havia algumas chácaras e pastos nas proximidades da grande lagoa, onde tropeiros e viajantes deixavam seus animais para o descanso necessário, depois de longas e exaustivas viagens.

Um pouco mais acima, onde foi aberta a Rua dos Italianos, era o local onde os fazendeiros deixavam seus carros de bois estacionados, enquanto percorriam o comércio da cidade. Razão pela qual, nessa região, imigrantes italianos abriram uma grande serraria e carpintaria, onde, entre outros serviços, faziam o conserto e a manutenção de carros de bois, carroças e carretões.

Na década de 1960, nos tempos de minha infância, a grande lagoa se estendia entre a Avenida Delfim Moreira e a rua Pimenta de Pádua, sendo dividia em duas partes, devido ao aterro feito pela prefeitura para abrir a continuação da Rua Placidino Brigagão. Até o final da década de 1950, a referida via pública terminava no muro entre o Instituto Monsenhor Felipe e o Colégio Paula Frassinetti e sua abertura foi objeto de uma querela política, que chegou agitar e dividir a população local. Posteriormente, uma parte da antiga lagoa foi aterrada e no terreno foi construída a segunda Estação Rodoviária da cidade, em frente ao atual prédio da Prefeitura Municipal. Prestes a comemorar, no próximo ano, o segundo centenário de fundação do arraial e construção da primeira capela, com este registro esperamos contribuir no desafio social e coletivo de recompor memórias e histórias da nossa querida São Sebastião do Paraíso.

Antiga lagoa de São Sebastião do Paraíso, dividida pelo aterro para a abertura da rua Dr. Placidino Brigagão que terminava no Colégio Paula Frassinetti