Eu conhecia o circuito de Mugello assistindo às corridas da MotoGP, e mal podia esperar pelo GP da Toscana quando foi anunciado em julho. Valeu a expectativa e a espera. A primeira vez da F1 nesta pista de propriedade da Ferrari agradou em cheio e virou séria candidata a melhor do ano. Uma prova pra lá de movimentada que parecia acabar nunca, com duas bandeiras vermelhas, três largadas, duas intervenções do safety car, uma relargada, e um polêmico acidente múltiplo que eliminou 4 carros de uma vez e que por sorte ninguém se feriu.
Mugello foi construído em 1974, mas já existia muito antes de virar autódromo quando o terreno era usado para corridas de terra na região da Toscana. A pista só foi inserida ao calendário deste ano por conta de um esforço tremendo que a F1 fez para entregar um campeonato com o máximo de corridas possíveis (17) em meio à pandemia, todas na Europa, a exceção dos GPs do Bahrein e de Abu Dhabi, no Oriente Médio. Foi a primeira de três novas estreias da temporada. As próximas serão o Circuito de Portimão, em Portugal, e o anel externo do Circuito de Sakhir, no Bahrein, que está sendo comparado a um circuito oval da Indy, onde as voltas deverão ser percorridas com tempos abaixo de um minuto na classificação.
Mas voltando à corrida do final de semana passado, a cansativa sequência de 9 corridas em 11 finais de semana fez com que por mais que as equipes têm em suas fábricas simuladores da mais alta tecnologia, houve pouco tempo de preparação para correr numa pista com características diferentes das que a F1 está acostumada a visitar.
Mugello é uma pista à moda antiga, o traçado é estreito e não há asfalto nas áreas de escape, todas são com britas. Na verdade, trata-se de um autódromo totalmente adaptado para a MotoGP.
Houve época em que acreditava-se que pista onde a MotoGP corria, era segura para a F1, mas essa tese caiu depois que estudos comprovaram que para a F1 as áreas de escape asfaltadas aumentam as chances de os pilotos corrigir uma escapada do traçado, ou reduzir a velocidade numa batida pelo maior atrito dos pneus com o asfalto. Para as motos, a brita ainda é a melhor forma de reduzir o impacto numa queda.
E Mugello é bastante rústica para os padrões atuais em que os pilotos estão acostumados. Talvez por isso mesmo eles gostaram tanto de serem desafiados por uma pista veloz e que pune qualquer erro: se sair do traçado, vai ficar atolado na brita!
Mas o principal lance da corrida foi a polêmica batida múltipla quando alguns pilotos do meio do pelotão resolveram dar o pé antes da hora, provocando uma reação em cadeia que por muita sorte todos saíram ilesos. E isso teve a ver com a característica da pista em que o ponto de partida na reta dos boxes está muito adiante do que na maioria das outras pistas. Some-se a isso o fato de o safety car ter retardado o apagar das luzes indicando que deixaria a pista livre, os pilotos tiveram pouco tempo de se preparar para a relargada.
Faz sentido imaginar que o acidente poderia ser evitado se o carro de segurança tivesse apagado as luzes um minuto, e não 30 segundos, antes da entrada dos boxes, como de praxe. Isso foi feito com o intuito de proporcionar mais disputas na relargada, mas acabou tendo efeito contrário e a segurança acabou sendo deixada de lado. Uma falha da própria direção de prova em minha opinião.
Tirando isso, a maioria dos pilotos torce para que a F1 possa voltar a Mugello nos próximos anos, afinal, “correr aqui foi mais satisfatório do que em muitos circuitos modernos”, segundo Sebastian Vettel.