Esta crônica retorna ao final século XIX para reverenciar a memória do coronel José Cândido Pinto Ribeiro, personagem da história de São Sebastião do Paraíso, no Sudoeste Mineiro. Natural da mesma localidade, onde nasceu a 7 de junho de 1846, era filho de Dona Josefa Albina da Conceição Soares e de João Cândido Pinto Ribeiro, imigrante português que estudou humanidades na renomada Universidade de Coimbra. Foi essa uma das fontes iniciais da cultura escolar das famílias mais abastadas do antigo distrito que se tornaria, na década de 1920, no principal polo da cafeicultura do interior de Minas Gerais.
Após receber sólida instrução primária ministrada pelo seu pai, primeiro mestre escola a exercer o magistério no distrito, José Cândido foi estudar em São Paulo, onde completou os estudos secundários e fez os exames para receber a habilitação de farmacêutico. Retornou à terra natal, onde abriu uma farmácia que se tornou referência na região, por ter sido autorizada pelo Governo Imperial e por manter amplo estoque de substâncias usadas na manipulação de vários medicamentos. O jovem e culto farmacêutico, membro da antiga guarda nacional, casou-se com Dona Delmira Cândida do Souto. Uma das filhas do casal casou-se como José de Souza Soares, político, advogado e autor dos primeiros textos históricos da cidade. O primeiro deles, publicado em 1922, pela Casa Espíndola de São Paulo, intitula-se Notícia Histórica de São Sebastião do Paraíso, transcrevendo parte das atas da Câmara Municipal.
Conhecedor das ciências humanas e sociais, José Cândido Pinto Ribeiro desempenhou atividades polí-ticas, foi juiz de paz, professor e músico. Tinha domínio diferenciado das ciências físicas e matemáticas. Razão pela qual teria escrito um Tratado de Aritmética. Informação plausível, em sintonia com o tempo considerado, pois na virada para o século XX, foram publicados centenas de textos escolares nas mais diferentes regiões do país, no contexto da expansão inicial da oferta de instrução primária para as classes populares.
Os ideais republicanos fizeram dos primeiros Grupos Escolares, criados no Estado de São Paulo, símbolo de modernidade e tentativa de superação dos longos anos de abandono da instrução pública primária destinada ao povo. Foi necessário imprimir muitos livros didáticos, antes de o mercado livreiro ter sido dominado pelas grandes editoras. Este aumento da produção de textos didáticos foi um fenômeno do final do século XIX. Além do referido texto, teria o ilustre paraisense escrito outros livros sobre fórmulas medicinais e farmacologia.
Nos idos de 1871, a secretaria do Governo Provincial de Minas Gerais expediu ofício à Câmara Municipal de São Sebastião do Paraíso, declarando estar ciente da transferência da sede do antigo município de Jacuí para a referida cidade. Nessa ocasião, José Cândido, com 24 anos de idade, foi nomeado segundo suplente de delegado de polícia. No mesmo contexto, o Ministério do Império publicou resolução concedendo-lhe o direito de continuar a exercer a profissão de boticário em São Sebastião do Paraíso. Este caso foi objeto de um artigo crítico, publicado na imprensa do Rio de Janeiro, quando começava a decadência do Império. O autor expressa indignação de como poderia o Gabinete Imperial estar se ocupando do funcionamento de uma simples farmácia do interior de Minas Gerais e não estar tratando dos problemas mais urgentes do Império. Nesse sentido, cumpre observar que, naquele momento, estavam se aliando as forças republicanas, liberais, abolicionistas, entre outras, que levariam à Proclamação da República.
Na continuidade de suas funções públicas, José Cândido Pinto Ribeiro foi ainda vereador por três legislaturas. Na última década do Império, com a patente de tenente-coronel da Guarda Nacional, foi agente executivo da Câmara Municipal (prefeito), de 1883 a 1886. No expediente do Ministério da Justiça, de 25 de junho de 1900, consta o envio postal de sua patente de coronel, avisando que ele deveria recolher as taxas pendentes aos cofres do referido ministério, conforme foi publicado no Diário Oficial da União, edição de 27 de junho de 1900.
Estas são algumas das razões pelas quais o Coronel José Cândido tem o seu nome na história de São Sebastião do Paraíso. Sua trajetória de vida revela extensa atuação política, como professor, farmacêutico e como empresário do setor financeiro, pois foi proprietário de uma pequena seguradora que funcionou pouco tempo, sob a direção de José de Souza Soares. Foi protagonista de um período importante da educação local. Faleceu aos 23 de junho de 1924, aos 78 anos de idade, quando residia na antiga rua do Comércio e atual Rua Pinto Ribeiro. Quatro anos depois do seu falecimento, foi homenageado com a atribuição do seu nome ao segundo Grupo Escolar da cidade. Depois das ações e escolhas humanas, fica o legado para as gerações futuras. Nosso desafio atual é entender o significado histórico, sem perder de vista o quadro de referência.