POLEPOSITION

F1 em xeque no Brasil

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 10-10-2020 06:22 | 1361
Chase Carey pende para o lado do Rio de Janeiro, um risco enorme para o futuro da F1 no país
Chase Carey pende para o lado do Rio de Janeiro, um risco enorme para o futuro da F1 no país Foto: F1

Até aqui o ‘bigodudo’ Chase Carey fez um bom trabalho desde que assumiu a F1 em 2017. Conseguiu o que eu achava quase impossível, implantar o teto orçamentário já para o ano que vem em US$145 milhões e reduzindo pelos próximos anos; e soube conduzir as negociações com todas as equipes para que assinassem o novo Acordo da Concórdia que garante a participação de todas elas pelos próximos cinco anos.

Não foi a tarefa das mais fáceis para quem parecia estar mais para ser devorado pelos tubarões em mar revolto, no caso os chefes das equipes, astutos que vislumbram apenas seus interesses próprios. 

Carey não veio do automobilismo, é homem de negócio, e que logo chutou para escanteio o ex-chefão da F1, Bernie Ecclestone, mostrando desde então quem manda agora é ele. Não foi só: O norte-americano cumpriu o prometido de entregar o campeonato deste ano com 17 corridas tendo que se desdobrar para refazer o calendário totalmente devastado pela pandemia. Para quem não sabe a F1 correu o risco de uma quebradeira geral se o campeonato não saísse e com o mínimo de 15 GPs. Neste domingo acontece o GP de Eifel, em Nurburgring, na Alemanha, que não estava no calendário original de 2020. É a 11ª etapa em apenas três meses! 

Chase teve méritos nisso tudo, e agora que está deixando o cargo de CEO da F1 - aos 66 anos não quer viajar tanto com a categoria e será substituído a partir de janeiro pelo ex-chefe da Ferrari, Stefano Domenicali -, andou fazendo besteira ao escrever ‘cartinha’ para o governador em exercício do Rio de Janeiro numa espécie de lobby, pedindo ajuda para que licenças ambientais e outros imbróglios que estão emperrando a construção de um autódromo em Deodoro, em área de Mata Atlântica, seja agilizado sob o pretexto de estar tudo acertado para que o GP do Brasil seja realizado na capital Fluminense em parceria com o consórcio Rio Motorsport.

Vale ressaltar que esse consórcio que supostamente já teria comprado os direitos de transmissão das corridas de F1 para o Brasil no ano que vem - a Globo vai deixar de transmitir depois de 40 anos - é o mesmo que comprou os direitos de transmissão da MotoGP, repassou ao canal Fox Sports, e não cumpriu o acordo com a Dorna, dona dos direitos comerciais do Mundial de Motovelocidade. O Brasil só não deixou de ter a sequência do campeonato deste ano na TV porque a Disney, proprietária do canal por assinatura, passou a negociar diretamente com a MotoGP, garantindo as transmissões.

A Rio Motorsport é quem está por trás de toda a movimentação para tirar a F1 de Interlagos e levá-la novamente para o Rio. É sabido que há rusgas entre Chase Carey e Tamas Rohonyi, promotor do GP do Brasil há mais de 40 anos e amigo particular de Bernie Ecclestone; e a presença de Rohonyi não agrada o hoje chefão da F1. Esse seria um dos motivos de Chase Carey estar levando a sério as conversas com o tal consórcio que promete pagar mais que o valor oferecido por São Paulo, e tem apoio do presidente Bolsonaro e de seus filhos. 

Nesta semana uma voz de pelo se levantou contra a derrubada de árvores (cerca de 70 mil) para a construção do autódromo, Lewis Hamilton, “ouvi dizer que será sustentável, mas o mais sustentável é não derrubar nenhuma árvore”, e declarou seu amor pelo Brasil e por Interlagos!

A tomada de posição de Carey me faz pensar até que ponto ele está seguro com o que está lidando. Digo isso porque sabemos da crise política e financeira que o Rio atravessa. A cidade tinha um dos melhores autódromos do país (Jacarepaguá) que foi destruído maldosamente para a construção do Parque Olímpico que hoje não passa de um elefante branco. É certo que alguns políticos cariocas e o Comitê Olímpico Brasileiro, na época presidido por Carlos Nuzman, um dos arquitetos da destruição de Jacarepaguá, devem um novo autódromo para o Rio e para o próprio país, mas qualquer pessoa em sã consciência, que acompanha o automobilismo brasileiro, sabe  que se a F1 voltar para o Rio, em pouco tempo ela irá embora do país como um sopro. O Rio não sustenta a F1, e até agora o tal consórcio Rio Motorsport não passou nenhuma segurança e muito menos garantia do futuro da F1 no Brasil. E olha que somos o país que mais dá audiência para a categoria, mesmo sem nenhum piloto competindo. 

Torço para que Chase não seja do tipo que acredita em Papai Noel.