Não falta quem reclame que só Lewis Hamilton vence na F1, como também reclamavam nos tempos de domínio de Michael Schumacher. Os dois são responsáveis pelos períodos de maior desequilíbrio da F1 e agora estão empatados com 91 vitórias. E quis o destino que Hamilton atingisse a marca na terra de Schumacher, apenas 150 km de onde o alemão nasceu.
Procuro sempre mostrar o lado positivo dos fatos. Somos privilegiados em testemunhar a história sendo (re)escrita, até porque, quando Schumacher se aposentou pela primeira vez, em 2006 com 91 vitórias, era uma marca que ninguém imaginava um dia ser batida.
E mais privilegiados são os que assim como eu, tiveram a oportunidade de acompanhar as carreiras de Ayrton Senna, Lewis Hamilton e Michael Schumacher, para ficar apenas nos três maiores da F1 moderna. No meu pódio, os três estão nesta ordem!
Deixo de lado outros grandes como Juan Manuel Fangio e Jim Clark. Não os vi correr - poucos viram. Eles viveram em outra época da F1 e jamais saberemos se Fangio e Clark seriam o que foram pilotando os carros de hoje, assim como nunca saberemos se Senna, Hamilton e Schumacher seriam grandes competindo com aqueles carros dos anos 50 e 60.
Preferências sempre causam polêmica e abre um leque de discussões, mas vejo Ayrton Senna no degrau mais alto do meu ‘pódio ideal’ da F1 por sua obsessão pela vitória e estilo peculiar de pilotagem. Senna era incrivelmente fantástico em uma volta rápida e ao extrair toda velocidade do carro. Foi um dos únicos capaz de ganhar corridas com um carro inferior. O ano de 1993 com a McLaren-Ford que tinha déficit de 40 cavalos de potência em relação à Benetton de Schumacher, e ‘capenga’ diante da poderosa Williams de Alain Prost provam a minha tese.
Senna competiu com Prost na McLaren, ganhou e perdeu campeonato contra o francês no mesmo carro, o que atesta que nunca teve vida fácil dentro da equipe, e foi contemporâneo de uma das maiores gerações de pilotos de todos os tempos como o próprio Prost, Piquet, Mansell e Lauda!
Na minha leitura, Lewis Hamilton é o piloto que mais se aproxima de Senna no estilo de pilotagem. Extremamente competitivo. No ano de estreia desestabilizou ninguém menos que Fernando Alonso, na McLaren. Hamilton perdeu um campeonato para Nico Rosberg na Mercedes, o mesmo Rosberg que dominou Schumacher por três temporadas no retorno do alemão em 2010. E cinco dias depois de conquistar o título de 2016, Rosberg pendurou o capacete convicto de que por mais que se esforçasse não conseguiria derrotar novamente o companheiro de equipe.
Hamilton nunca foi exclusivo na McLaren ou na Mercedes, conquistou seu espaço e jamais tomou qualquer atitude que se tem notícia para prejudicar o companheiro de equipe. Foi leal até com o eterno rival Nico Rosberg.
Não é correto dizer que Hamilton ganha tudo porque tem o melhor carro. Nem todos os pilotos da atualidade fariam o que Hamilton faz. É mais prudente observar o quão grande é a sua capacidade de pilotar um carro tão bom quanto a Mercedes. Mas assim como Senna, Hamilton também ganhou corridas quando a McLaren não era o melhor carro. Fora da pista levanta a voz contra o racismo e por um mundo mais verde.
Por fim Schumacher. Uma máquina humana de ganhar corridas, um gênio que venceu de todas as formas e até com quatro pit stops; preciso como relógio quando tinha que virar uma série de voltas num mesmo tempo para reabastecer e voltar na frente, ou ganhar uma posição nas paradas de boxes. Sabia como poucos fazer a equipe girar em torno de si e por conta disso nunca teve um companheiro de equipe livre para competir em igualdade de condições, até porque essa chance nunca foi dada. Schumacher capitalizava para si todas as atenções das equipes onde correu, o que não é demérito, mas serviu como critério na ordem do meu pódio: Senna, Hamilton e Schumacher. Três Monstros Sagrados da F1 moderna.