Nosso conhecimento se constrói, basicamente por dois caminhos: o conhecimento ordinário e o conhecimento científico. O primeiro é fruto de nossa vivência, por isso mesmo, subjetivo; não possui método e é restrito. Isso não quer dizer que o senso comum não nos ajude a resolver problemas, ao contrário, ajuda-nos e muito. Contudo esse conhecimento é limitado, ou seja, não nos permite compreender as cadeias de relações envolvidas nos fatos, nos fenômenos ou mesmo nos conceitos. No senso comum, somos meros espectadores.
Por outro lado, o conhecimento científico, aquele constituído em sociedade por meio da ciência, nas suas mais diversas áreas, é amplo: leva-nos a compreender que nada é isolado, mas fruto de uma rede escondida por trás das aparências dos objetos, dos fatos ou dos fenômenos. Para que a ciência possa chegar a tal compreensão, seus pesquisadores precisam deixar a passividade e problematizar. É a partir das problematizações que uma pesquisa começa a ser formulada. Para sair atrás das respostas, a ciência utiliza métodos específicos e críticos, checa resultados, testa, avalia, pondera, contesta novamente... Só depois de muita pesquisa e com muita certeza é que ela expõe seus resultados. Isso significa que para se construir o conhecimento científico leva-se tempo e demanda muito, mas muito trabalho, de todos os profissionais envolvidos em uma pesquisa.
Para diferenciarmos o conhecimento comum do científico, imaginemos um iceberg. O conhecimento comum o vê e pensa que é um pedaço de gelo que flutua nas águas do oceano; desvia-se dele e pronto. A ciência pergunta por que ele flutua e ao lançar essa questão vai investigá-lo mais a fundo, até descobrir que o que está aparente é apenas sua ponta: há muito gelo abaixo da água, há muitos fenômenos envolvidos na formação daquele bloco gelado...
Tudo isso é para reafirmar – porque isso precisa ser constantemente reafirmado em nosso país – que a ciência precisa ser valorizada, em suas mínimas ações. É muito comum ouvirmos na sociedade severas críticas aos estudantes universitários, e até mesmo aos pesquisadores mais renomados, que recebem bolsas de pesquisa, como se esses ganhassem dinheiro para ficar à toa por aí. Não é bem assim que acontece.
Fazer pesquisa não só demanda tempo, como também dá muito trabalho; a dedicação à pesquisa precisa ser constante e por isso mesmo a pesquisa é sim uma ocupação, uma profissão que, como qualquer outra, precisa ser remunerada. Não se faz ciência sem pesquisa, não se faz pesquisa sem pesquisador. Se não valorizarmos nossos cientistas e pesquisadores, continuaremos enxergando somente a ponta do iceberg e quando menos esperarmos, afundaremos! Porque desviar do que está aparente não basta!
Siga-nos no Instagram: @lingua_ssolta
Envie comentários e/ou sugira algum assunto: soltalingua9@gmail.com
Michelle Aparecida Pereira Lopes é uma professora apaixonada pelas Letras. É doutora em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ministra as disciplinas relacionadas à Língua Portuguesa na Universidade do Estado de Minas Gerais, UEMG - Unidade Passos. Também ensina Gramática no Ensino Médio e Cursinho do Colégio Objetivo NHN, Passos.