No começo da pandemia teve profissionais de imprensa cravando que o automobilismo não alinharia em 2020 por causa do coronavírus. Mas o automobilismo alinhou - a exceção foi a W Series, destinada às mulheres, dentre as categorias de destaque - e entregou ótimas corridas e campeonatos disputados, como a Stock Car, por exemplo, em que 11 pilotos chegaram à última etapa do ano com chances de título.
O cancelamento do GP do Catar uma semana antes da abertura da temporada da MotoGP foi o prenúncio do que viria pela frente. A F1 poderia ter evitado desgaste maior ao tomar decisão tardia de cancelar o GP da Austrália apenas duas horas antes da abertura dos treinos livres da sexta.
Daí em diante os motores silenciaram. Corridas virtuais preencheram as lacunas durante a quarentena até que a Nascar decidiu primeiro religá-los - o campeonato já estava em curso quando a pandemia foi declarada -, e não vou esquecer a frase do jornalista, Jim Utter, um dos quatro selecionados para cobrir a volta da categoria, em maio: “...enquanto os carros continuavam fazendo suas voltas pela pista, o barulho parecia desaparecer com o silêncio das arquibancadas falando mais alto”.
De fato foi estranho observar as arquibancadas vazias, mas era a única forma de realizar os eventos com o mínimo de segurança, e o automobilismo foi o primeiro esporte a recomeçar durante a pandemia seguindo rígidos protocolos sanitários. Não foram poucos os desafios que todas as categorias enfrentaram para colocar seus carros nas pistas.
Na F1 eles foram imensuráveis. Havia a necessidade de realizar o campeonato sob o risco algumas equipes falirem, sem contar a pressão exercida pelas emissoras de TV do mundo todo com cláusulas contratuais que exigiam o mínimo de 15 GPs sob pena de multas pesadas.
Treze das 22 corridas do calendário original foram canceladas, entre elas o GP do Brasil. Cinco pistas que não estavam programadas foram inseridas ao calendário, além de duas repetidas: Red Bull Ring (Áustria), e Silverstone (Inglaterra). Ao todo foram 17 GPs disputados num curto espaço de cinco meses e meio, percorrendo apenas 9 países da Europa e dois do Oriente Médio.
E mesmo ficando na Europa havia as restrições impostas pelos governos de cada país. As equipes tiveram que se adaptar à redução drástica do contingente que normalmente viaja para cada GP. Cerca de 4.000 pessoas - apenas 1/3 dos profissionais que trabalham na categoria, entre integrantes das equipes, organização e jornalistas, tiveram credencial para ir às corridas. Foram criadas bolhas entre dez pessoas que não podiam se misturar às outras para diminuir o risco de contágio e evitar que o vírus se espalhasse pelo paddock.
A F1 realizou 80.000 testes de Covid-19 com menos de 100 resultados positivos e apenas três pilotos testaram positivo: Sergio Pérez, Lance Stroll e Lewis Hamilton perderam corridas por conta do coronavírus.
Além deles, Jimmie Johnson, da Nascar, Valentino Rossi, da MotoGP, e Gabriel Casagrande, da Stock Car, se infectaram entre as principais categorias.
Desafios também marcaram a Fórmula E, campeonato de carros elétricos, que realizou 6 provas em dez dias(!), em Berlim, para fechar a temporada. A Indy cancelou corridas e as 500 Milhas de Indianápolis, tradicionalmente disputada em maio, só foi realizada no final de agosto. As 24 Horas de Le Mans teve que ser adiada para setembro. Mas os fãs de automobilismo não tiveram do que reclamar. Para cumprir o calendário, a Nascar chegou a realizar corridas no domingo e na quarta-feira, até parecia futebol, enquanto a F1 engrenou quatro séries de três corridas em finais de semana seguidos.
Apesar de algumas previsões pessimistas, o esporte a motor alinhou meio a tantos desafios e incertezas neste difícil ano de pandemia e não faltou assunto, recordes e histórias enquanto o mundo ainda tenta voltar ao seu eixo natural.
A coluna POLE POSITION deseja aos leitores do JS um feliz 2021.