Nada mais fácil do que escrever de tal maneira que ninguém entenda; em compensação, nada mais difícil do que expressar pensamentos significativos que todos os compreendam. O primor pela simplicidade aproxima da verdade e a leveza da leitura.
Na agitação do final de ano, refugiei-me no Lago de Furnas, onde em contato com a natureza ocupei-me na observação de seu comportamento.
Logo pela manhã a pequena piscina amanheceu enxovalhada de aleluias. Ao redor, o bem-te-vi iniciou sua primeira refeição comendo-as. Posteriormente, não conseguindo as aleluias depositadas no centro da piscina, usou de uma artimanha de verdadeiro mestre. Inicio com voos rasantes contra a água, provocando ondas, e esperava que essas trouxessem a borda da piscina para devora-las.
Seu desfile e criatividade encantaram-me tanto quanto as escolas de samba na Marquês de Sapucaí.
Nos dias seguintes tornei a observar outro acontecimento, talvez com maior magia. Com as estiagens das chuvas, a represa apresenta como mostra a foto, considerável afastamento da margem natural. E, com isso, variedades enormes de árvores secas, como candeias, amarelinhos e aroeiras, que estavam submersas há mais de sessenta nos, agora decoram a paisagem atual da represa.
Não é que, em dado momento, um gavião carcará desponta do céu em direção de uma juriti que se abrigava em um galho de árvore seca. Num relance de um raio, a pobre presa sentindo iminente perigo, levanta voo e mergulha no lago.
A perplexidade do fato deixou-me sem respiração e atento ao acontecimento. Em seguida. O carcará ficou revoando ao redor, até que a pobre ave emergiu e levantou pra novo voo, mas o predador num preciso e sinistro ataque, alcançou a avezinha e a prende em suas garras.
Alcançando certa altura, dirigiu-se ao horizonte. Como nos filmes de bang-bang, eu torcendo para o mocinho, mas o bandido levou a melhor. Para minha decepção!
Como diz a literatura popular “um dia é da caça, e outro, do caçador”. No caso, quando seria, então, o dia da juriti?
Possivelmente, única possibilidade da juriti ter saído ilesa, é se o carcará estivesse no momento de papo cheio, acredito.
Sebastião Pimenta Filho – Cronista, Historiador