No dia 1º de fevereiro de 1921, foi inaugurada em São Sebastião do Paraíso, Sudoeste Mineiro, uma Feira de Gado. Expressão essa usada para denominar uma unidade administrativa estadual, com a finalidade de orientar e fiscalizar a atividade pecuária em algumas regiões do estado. A economia cafeeira no município estava passando por uma excelente fase, gerando capitais que motivaram a tentativa de diversificação da principal base da economia da região. Trabalhava nessa direção o prefeito coronel José Oliveira Rezende, grande cafeicultor e proprietário do Banco J. O. Rezende, inaugurado no início daquele mesmo ano. O evento tinha também um colorido político e até mesmo predominante. Arthur Bernardes estava terminando seu mandato de governador e sua exitosa candidatura à Presidência da República estava em curso.
Por volta das 14 horas do referido dia, o prefeito providenciou alguns automóveis para levar os convidados até às proximidades do Matadouro Municipal, onde ficava a residência do senhor José do Souto, nomeado para administrar a Feira. O promotor de justiça Francisco Herculano Duarte presidiu a mesa de autoridades, convidando o pároco José Felipe da Silveira para proceder a benção do local. Duas bandas de música executaram o hino nacional, fogos de artifício subiram aos céus e foi oferecido um copo de cerveja aos presentes. O jornalista Antônio Celestino, redator do Nova Era, discursou em nome da imprensa e saudou a presença do coronel José Honório Vieira, proprietário do referido jornal.
Como toda história local tem suas conexões com o cenário mais amplo da época, a conhecida dobradinha do café com leite vinha mantendo, desde o início do século, a hegemonia na Presidência da República, mantida por duas legendas entrelaçadas, o Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro. Em Paraíso, essa última legenda contava com o apoio das lideranças dos velhos coroneis, que disputavam entre si para expressar maior fidelidade política ao governador.
Em edição de 6 de março de 1921, O Jornal, do Rio de Janeiro, noticiou o evento e descreveu o cenário político da cidade. José de Souza Soares havia anunciado sua possível candidatura “extra chapa” a uma vaga na Assembleia Legislativa. O prefeito tinha prometido reparar os estragos causados pelas chuvas nas ruas da cidade, assim como providenciar a capina do matagal que estava invadindo as praças e ruas. Situação nada elogiosa para o município que acabava de completar o cinquentenário de sua criação. Passado aquele momento, apagaram-se as luzes da Feira do Gado e ficou a centenária história da cafeicultura que tanta riqueza trouxe ao município. Mas, como canta Almir Sater, “Segue seu destino boiadeiro. Que a boiada foi no caminhão”!