TERRA NOSTRA

Trebizonda

Por: Manolo D´Aiuto | Categoria: Cultura | 20-01-2021 00:19 | 591
Foto: Reprodução

E’ 1916 e em uma casa benigna em Bolonha se parece o nascimento de uma tão esperada figueira, depois de quatro meninos, quando a menina finalmente nasce seu pai, cheio de orgulho, a toma nos braços e exclama, ela se chamará Trebizonda cidade que tem todas as maravilhas do mundo! Assim vem à tona o que então, por um erro jornalístico, ficará para a história com o nome de Ondina Valla. Ondina desde cedo tem tudo que uma menina pode ter, ela é linda, esguia, com modos gentis e inteligentes, um anjo feito mulher. Mas a jovem Ondina também tem outra característica, é rápida e salta como uma gazela.

Aos treze anos, com a sua colega e amiga de longa data Claudia Testoni, já é o símbolo do novo regime italiano, numa época em que as mulheres são vistas como viveiros do lar, Ondina representa o sonho e o ideal de emancipação. Aos quatorze anos entrou para a seleção nacional de atletismo pronto para partir para os jogos de St. Louis, mas o Vaticano, ainda retrógrado e distante do progresso, considera impróprio que uma criança participe, a única mulher, de uma competição esportiva tão longe de casa. Apesar de tudo, a jovem campeã não desanima, pelo contrário, ela multiplica seus esforços e ganha tudo o que tem para ansiar pelos jogos de Berlim de 36.

A Alemanha nazista está se preparando para sediar o que deveria ser a celebração da superioridade ariana sobre o resto do mundo. Ondina, que não é alemã, mas italiana, lembra esses ideais na aparência e nos movimentos, despertando o interesse de Fhurer. Este é o ano da explosão do jovem Owens, um negro americano que domina as competições de atletismo, mas para nós, italianos, o momento de ouro chega na final dos 80 metros com barreiras femininos.

Ondina não se poupa e se classificou com o tempo que lhe rendeu o momentâneo recorde mundial. Tudo está pronto na linha de largada quando o titular começa, a corrida é apaixonante os contendores se jogam em obstáculos como gazelas perseguidas por leões prontos para despedaçá-los, é uma corrida de um só fôlego que se resolverá no final da foto, com o novo recorde mundial e Medalha de ouro para a nossa Ondina e quarto lugar para a sua amiga de longa data Claudia, que a partir desse momento já não a cumprimentará, mas que dois anos depois conseguiu se recuperar arrebatando o seu recorde e medalha nos Jogos Europeus de Viena.

A Itália tem a sua primeira medalha de ouro feminina, Fhurer aperta a mão feliz depois de ter digerido mal o fenômeno Owens, e o Duce tem o emblema da italiana perfeita, patriota, atlética e ângela da focolora doméstica, todo mundo está feliz.

Ondina será um símbolo muito importante para as futuras gerações de mulheres e atletas, sua determinação e sua feminilidade irão limpar para sempre o emblema da mulher atleta-masculino, abrindo as portas para uma série de vitórias e conquistas de mulheres de todo o mundo.
Manolo Domenico D’Aiuto