HISTORIADOR

Confissões de um carteiro

Por: Redação | Categoria: Cultura | 23-01-2021 17:07 | 8270
Foto: Reprodução

Trabalhando tempos outrora na clínica Odontológica da UEL em Londrina-PR, deixava os pacientes a vontade para relaxar. Acabei ouvindo lamentações e suas particularidades. Ouvi Inúmeras estórias.

Certa vez um carteiro aposentado narroume um acontecimento de sua vida profissional. Disse-me que chegou às suas mãos para despachar, uma carta sem endereço e nome. Apenas com esses dizeres no envelope: "Carteiro, por favor, vê se consegue entregar esta carta na Vila Gazone, para uma moça morena de cabelos lisos e olhos verdes. Imploro".

Acostumado ao ambiente de trabalho devolvi a seção por falta de endereço. No mês seguinte outra carta com os mesmos dizeres. Como estava feliz naquele dia, resolvi aceitar o desafio. Perguntei a todas as pessoas onde estava entregando as correspondências,  e como era de esperar, nada soube. Mas aquilo tornou um desafio e um hábito. Até que um dia uma senhoria disse-me: "Alí naquela casa mora uma moça com essas características".

Não é que conversando com a tal moça ela disse-me. Não sei, mas tempos atrás conversei com um rapaz no circular onde tive pouca oportunidade de conversar, pois desci antes dele. Me marcou muito esse pequeno encontro. Restou-me entregar a correspondência, e disse que se não fosse ela, que descartasse a mesma.

Aposentei-me de meu trabalho, disse-me o carteiro. Passado um ano recebi uma carta. Informei-me com os meus antigos colegas de trabalho, como essa pessoa descobriu-me. Disseram que um rapaz veio ao correio inúmeras vezes, persistindo tanto que resolvemos entre nós colegas, pelo local de entrega da correspondência na época, só poderia ser você. Fizemos por você, e para livrarmos dele. Mas a missiva do rapaz endereçada a mim, era um convite de casamento e fazia absoluta questão de minha presença, finalizou o carteiro.

Hoje lá se vão cinco décadas, e ainda guardo na memória essas recordações, que tanto bem fazem ao nosso ego.

Sabe-se que o Brasil foi o segundo país do mundo, depois da Suíça, a selar suas cartas. Em 1843 entraram em circulação os primeiros selos brasileiros denominados "Olho de boi" (Foto). No ano seguinte (1844) foram criados os cargos de carteiro e de pedestres que era o auxiliar de carteiro na época.

Sebastião Pimenta Filho
Cronista/Historiador