TERRA NOSTRA

Livio Berruti, o professor voador

Por: Manolo D´Aiuto | Categoria: Cultura | 27-01-2021 00:28 | 517
Foto: Reprodução

As Olimpíadas de 1960, ainda hoje para muitos, foram as mais belas e evocativas já organizadas. O magnífico cenário que Roma foi capaz de oferecer aos fãs de todo o mundo ainda hoje permanece na memória de todos. Essas Olimpíadas foram marcadas pelas atuações de grandes atletas que se tornarão as futuras estrelas do Olympus Sports como os boxeadores Cassius Clay e Nino Benvenuti, Abebe Bikila o fenomenal sargento etíope que percorreu os 42 km de Meratona descalço triunfando, já à noite, no longo avenida de buracos que levam ao majestoso coliseu, ou Wila Rudolph a gazela de Tennesee capaz de ganhar quatro medalhas de ouro e roubar o coração de todos com seu sorriso e elegância.

Para nós, italianos, foi a forma de nos apresentarmos ao mundo em pleno boom econômico, esses foram os anos da Dolce Vita e de Federico Fellini. Do ponto de vista desportivo, entre os grandes protagonistas daquele verão, em particular, conseguiu surpreender não só a imprensa estrangeira mas também a local, Livio Berruti, o mais improvável dos protagonistas.

Embora ele certamente não fosse um carneade, ninguém poderia imaginá-lo no degrau mais alto, especialmente depois de desistir de correr os cem metros, do outro fenomenal alemão Hamri, para correr apenas os duzentos, onde o domínio americano prevaleceu desde as primeiras Olimpíadas. Livio era um menino esguio de formas delgadas, esguio com pouca musculatura, aluno modelo, estava matriculado na faculdade de física da prestigiosa Universidade de Pádua, e corria com óculos escuros que lhe davam a aparência de um doutor. No dia da final, estão programadas duas corridas, as meias-finais e, precisamente, a final, com algumas horas de intervalo.

Livio se classificou facilmente ao derrotar o negro francês Abdoulaye Sèye, governante da especialidade na Europa. Na hora do sorteio para as mangas semifinais, o azar esbarra com ele na mais difícil das mangas, com os temíveis americanos Norton e Carney já candidatos elegíveis. O seu treinador não comunica a Livio a composição da bateria, que só saberá alguns minutos antes de chegar aos blocos.

Livio parte em uma pista apertada, os americanos e o inglês Radford, corecordista mundial, partem com força na partida, Livio os observa e lenta mas inexoravelmente aumenta sua passada e começa a distanciar seus adversários, na linha de chegada marcará incríveis 20 ‘’ 50 Novo Recorde Mundial! Um pouco depois já é hora da final, os protagonistas da semifinal, além dos franceses, aparecem nas quadras, Berruti, contrariando todas as regras, resolve pular o aquecimento preferindo concentrar-se mentalmente no início. A Olimpíada está lotada em todas as ordens de lugares, mais de cem mil pessoas aguardam com a respiração suspensa a corrida mais esperada do dia. Pronto, vai! começa uma longa e esplêndida cavalgada que leva livio a vencer claramente, enquanto atrás dela você terá que recorrer ao final da foto para determinar os lugares de honra. É um triunfo selado com o mesmo tempo da semifinal. Livio com seu rosto limpo de bom menino é o símbolo da Itália, ele não se compadece embora a alegria seja visível em seu rosto. Muitos anos terão que se passar para ver um homem branco triunfar nas Olimpíadas dos duzentos metros. Berruti, como todas as garotas Cinderela, voltará aos estudos e viverá uma vida longa e satisfatória fora dos holofotes, mas aos nossos olhos a imagem educada do bom menino sempre permanecerá.

Ciaooo.

Manolo Daiuto