“Entre no cockpit e tente se colocar mentalmente no lugar onde achou que morreria”. O conselho foi do grupo de psicólogos que acompanha Romain Grosjean após o terrível acidente do qual ganhou uma segunda vida ao deixar o que sobrou da Haas que explodiu em chamas depois de bater de frente e penetrar as lâminas do guard-rail, no GP do Bahrein, do ano passado.
Grosjean vem sendo assistido por ajuda profissional desde que o mundo desabou em seus ombros ao causar um grave acidente na largada do GP da Bélgica de 2012, numa fase delicada da carreira e que resultou na suspensão de uma corrida e o apelido de “maluco da primeira volta”.
É fato que desde então Grosjean colocou a cabeça no lugar, tornou-se menos afoito e ganhou a confiança e o respeito dos colegas de profissão. “Você tem um preparador físico para cuidar do corpo, engenheiros para cuidar do carro, então, por que não ter um psicólogo para manter a cabeça no lugar”, disse algum tempo atrás.
De fato, tem que ter a cabeça no lugar e ser mentalmente forte para ter a coragem de entrar num carro de corrida depois do que este suíço naturalizado francês, de 34 anos, casado, pais de três filhos pequenos, viveu por 28 segundos intensos no meio do fogo. As imagens foram fortes, e as queimaduras nas mãos acabaram sendo o de menos diante do impacto de 53Gs - equivalente a 53 vezes o peso do corpo -, na batida a 221 km/h.
É do instinto do piloto quando sofre um forte acidente voltar o mais rápido possível ao carro para não permitir que o lado emocional seja afetado. E eles preferem não ver as imagens dos acidentes mais fortes que sofrem. Faz parte da preservação da saúde mental dos pilotos. O problema é quando há ferimentos que os impede de voltar a acelerar logo em seguida. É ai que entra o trabalho do psicólogo tal qual o conselho para que Romain entrasse no cockpit da Haas para ver se estava tudo ok com o emocional. E ele disse não ter sentido nada que o abalasse.
Mas uma coisa é sentar no cockpit e outra é voltar a andar a 300 km/h, e Grosjean anunciou nesta semana que estará de volta às corridas, agora na F-Indy, disputando todas as etapas da temporada em circuitos mistos e de rua. Os ovais ele ainda não se sente preparado, e também era um pedido da família que ele vinha avaliando antes mesmo de sofrer o acidente no Bahrein.
Depois de 179 GPs entre altos e baixos na F1, onde obteve 10 pódios e uma volta mais rápida, Grosjean vai ter um recomeço; Recomeço que terá também Juan Manuel Correa, outro sobrevivente que viu a morte de perto, tão perto que perdeu o amigo Anthoine Hubert no trágico acidente de F2, em Spa-Francorchamps, em agosto de 2019.
Foi uma luta intensa pela vida, e para salvar uma das pernas que lhe foi dada a amputação como melhor opção pelos médicos. Mas o jovem equatoriano, naturalizado norte-americano, abraçou as poucas chances que tinha e entre várias cirurgias e inúmeras sessões de fisioterapia, anunciou que vai voltar a correr de F3 nesta temporada.
Quem acompanhou as postagens de Juan Manuel em seu perfil do Instagram, não imaginava que ele pudesse voltar a pilotar, pelo menos tão cedo, apesar de se passarem 18 meses desde o acidente em que bateu violentamente no formato em “T” contra o carro de Hubert. A força de vontade certamente se fez mais forte que as dificuldades que havia pela frente.
Romain Grosjean, e Juan Manuel Correa; coincidentemente, dois anúncios na mesma semana. Cada um com sua história, força de vontade e superação. Que seja não só um retorno, mas o recomeço. Que sejam felizes!