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Flávia Junqueira: Trazendo cultura a Paraíso por meio da dança

“Eu disse a minha mãe que a coisa mais importante que ela havia me ensinado é que Deus é amor”
Por: Heloisa Rocha Aguieiras | Categoria: Entretenimento | 27-09-2014 09:03 | 653
Flávia Junqueira diz que o segredo para  ter sucesso é colocar amor em tudo o que faz
Flávia Junqueira diz que o segredo para ter sucesso é colocar amor em tudo o que faz Foto: Álbum de Família

Por Heloisa Rocha Aguieiras

Flávia Junqueira Alves Pinto é nascida em Ribeirão Preto, casada com o ecólogo e produtor de café, José Carlos Alves Pinto. É mãe de Mairun, Joaquim e Mariana. Fez ecologia na Unesp em Rio Claro, onde conheceu o marido. Há 32 anos casou-se e veio viver em Paraíso, terra da família do marido e onde mantém a escola de dança “Balet Há 32 anos vive em Flávia Junqueira”, há anos e, por meio dela traz cultura à cidade e formação de valores às meninas que são suas alunas.

Jornal do Sudoeste – Como foi que você resolveu trabalhar com balé?
Flávia Junqueira Alves Pinto – A senhora Edna Maldi tinha uma academia, na rua Pimenta de Pádua, na sobreloja de onde é atualmente a Telefoto. Ela queria alguém para dar aulas de balé e ficou sabendo que eu havia feito por muito tempo, com a experiência de ter dado aulas em um orfanato e em uma pré-escola. Porém, eu fiquei grávida e houve um surto de rubéola e muitas alunas pegaram a doença, por isso resolvi desistir. Depois, a família proprietária da Aviação solicitou que eu desse aulas para as filhas, alugaram uma casa, equipada com o que era necessário. Voltei a fazer aulas em Ribeirão Preto, porque fazia muito tempo que estava parada e assim voltei a dar aulas.

Jornal do Sudoeste – Com quantos anos você começou a aprender balé?
F.J.A.P – Eu comecei tarde, com 12 anos. Porque os meus pais não queriam que eu fizesse, falavam que era bobagem, pois já tinha entrado e saído de várias atividades. Uma amiga me chamou para assistir a uma aula em uma escola próxima de minha casa em Ribeirão; eu fiquei muito apaixonada, aquilo não saía de minha cabeça, parecia que eu já tinha vivido isso e tava assistindo novamente, não parecia que era algo novo. Avisei minha mãe que iria entrar para fazer aulas, que se ela não pagasse, eu ria buscar uma bolsa. Aí ela disse que pagaria, comecei e não parei mais. Atualmente, colocam muito cedo, com quatro ou cinco anos; mas na minha época as meninas começavam com seis anos. Para mim houve seis anos de diferença, que realmente fizeram a diferença, apesar de eu ter passado rápido de um ano para o outro e consegui me igualar.

Jornal do Sudoeste – O que a mantém em forma é o balé?
F.J.A.P – Acredito que ajuda. Eu não faço exercícios diários na escola de balé, mas não fico sentada à frente de um computador, então ajuda. Mas por sempre estar rodeada de espelhos e ter tido essa preocupação de manter a forma, influencia. Eu faço caminhada, pilates. Uma vez se trabalha com o corpo, seja no esporte ou na dança, mas que a pessoa teve essa preocupação, isso permanece.

Jornal do Sudoeste – A que você deve esse sucesso em relação à dança?
F.J.A.P – Eu acredito que temos dons que Deus dá. Depois que assisti à aula, descobri que era o meu lugar. Quando eu estava com 16 anos, abriu uma escola nova em Ribeirão, de dois bailarinos do Municipal de São Paulo, que haviam se mudado, que era o Van-dilson Montenegro e o argentino Carlito. Em meio a uma aula, pararam e disseram que eu tinha que ir cursar balé em São Paulo porque eu era uma bailarina. Lembro que fui embora para minha casa com o coração disparado e contei aos meus pais, que disseram que eu poderia fazer o que quisesse, que me apoiariam, mas eu tive medo. Eu só pensava que ficaria longe da minha família, da minha cidade, não poder comer, beber, sair, namorar, viver a dança 24 horas, não era o que eu queria, tanto o é que não sou uma bailarina, sou uma professora de balé; isso é diferente. Ser bailarina é um sacerdócio.

Jornal do Sudoeste – O que você pensa dessa sua decisão hoje?
F.J.A.P -  Eu escolhi ser mãe, esposa, professora, filha e amiga. Sou uma pessoa que tenta ter todos os tipos de sentimentos que me satisfaçam, Por exemplo: não largaria minha família para ficar somente com o balé. Tudo me completa. Conheço uma pessoa que se separou do marido e tem a melhor escola de balé da cidade onde mora, ganha uma porção de prêmios. Eu não quero isso para mim, que acredito tudo ser importante, os filhos, o marido, a escola, minha saúde.

Jornal do Sudoeste – Talvez esse seja o segredo de sua felicidade, principalmente no casamento?
F.J.A.P – São 32 anos de casada e acredito que o segredo é o amor. No aniversário de minha mãe, Mariazinha Paula Junqueira eu disse a ela que a coisa mais importante que ela havia me ensinado é que “Deus é amor”. Por isso, eu tento colocar amor em tudo o que faço, em todas as instâncias da minha vida. É preciso ter amor antes de tudo, do egoísmo, do individualismo, do orgulho e isso é difícil, mas acho que quem consegue isso tem a chance de ser mais feliz. Eu nunca tive coragem de falar para uma aluna o que eu ouvi dos meus professores: “Você vai ser bailarina”, porque se for o dom que Deus deu, ela mesma vai querer, aí eu ajudarei. Por exemplo, quem nasceu para ser uma bailarina, vai viver 24 horas dentro de um estúdio de dança, sem comer e beber, com bolha no pé, sangue na unha e tudo isso será prazer para ela, porque é o que ela quer, senão será eternamente infeliz. Quando se um gênio, ser um pouco de cada coisa, como eu, não satisfaz.

Jornal do Sudoeste – O preconceito com a dança já foi muito maior. Mas ele ainda existe, principalmente com os homens?
F.J.A.P – A visão que se tem da bailarina é totalmente equivocada. Ninguém vê que ela sangra para poder dançar, só pensa que ela é parece uma princesinha, mas só ela sabe o tanto que dói, que é difícil. Em uma companhia de balé, a pessoa é escolhida e será paga para atuar. Na escola os pais escolhem para compor a formação da criança, com a ideia da elegância, da delicadeza, só que o glamour fica em três minutos de uma dança e o resto é muita luta e muito suor. Os homens em cidade maior sofrem menos preconceito, ganham mais, porque são em menor número e são a atração, porque tem a força, a rapidez. Mas no interior, para se ter uma ideia, eu não tenho nenhum aluno homem.

Jornal do Sudoeste – Você deixaria seu filho fazer balé, ser seu aluno?
F.J.A.P – Não sei te responder. Hoje eu falo que sim, mas na época dele eu não sei o que eu iria responder. A gente só sabe a resposta certa se vivência a situação. Eu realmente não sei. Eu tenho uma filha e ela fez balé, mas eu nunca fiz força para que ela ficasse aqui, dando continuidade ao meu trabalho. Se fosse o dom de meu filho, provavelmente eu deixaria.

Jornal do Sudoeste – Quais são os seus próximos planos para a escola “Balét Flávia Junqueira”?
F.J.A.P – Todo ano preparamos uma grande apresentação de encerramento do período. O tema deste ano será sobre diferentes as expressões artísticas. Serão cinco alunas formandas, que representarão a pintura, poesia, música, escultura e grafite.  Eu vejo essa escola como contribuição da formação de pessoas. Mesmo que minhas alunas não sejam bailarinas, elas terão compromisso, disciplina, saberão se esforçar, autoestima, honestidade, ou seja, essa é uma escola para vida e quero deixar isso sempre. O balé é um bom meio para ensinar valores. Eu gostaria que houvesse alguma aluna minha com essas características, que gostasse tanto quanto eu, e pudesse continuar com a escola, sabendo lidar com pessoas de forma honesta, sem enganação.