A expressão nada apetitosa foi proferida pelo chefe da Mercedes, Toto Wolff, sobre os testes de pré-temporada da F1, no Bahrein: “Você sempre encontra cabelo na sopa, coisas que não são boas, e tivemos muitas dificuldades nesses dias”.
Ele se referia aos problemas que a equipe campeã enfrentou com o modelo W12, de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas. Foram apenas três dias, a mais curta pré-temporada da F1 para um campeonato que se desenha como o mais longo da história, previsto para 23 corridas, se não houver nenhum cancelamento por causa da pandemia. E no primeiro dia a Mercedes perdeu praticamente toda a parte da manhã por conta de uma quebra de câmbio, e no período da tarde a pista foi tomada por uma tempestade de areia que prejudicou o trabalho de todas as equipes. No segundo dia, Hamilton rodou e ficou atolado na caixa de brita. E no terceiro e último, o heptacampeão perdeu novamente o controle do carro quando tentava estabelecer volta rápida.
Hamilton cometer dois erros incomuns é sinal de que havia algo errado com o carro, ainda que Bottas tivesse liderado a tabela de tempos do segundo dia. No balanço final, o melhor tempo da Mercedes (1min30s025), obtido por Hamilton, com os pneus mais macios da gama de compostos da Pirelli, foi 1s065 mais lento que a melhor marca dos testes: 1min28s960, obtida por Max Verstappen, da Red Bull, com um tipo de composto (C4) menos macio que o (C5) usado por Hamilton.
A Mercedes foi a equipe que menos andou nos três dias testes: 1.645km, diante dos 2.284km percorridos pela Alpha Tauri, a que mais acumulou quilometragem, no Bahrein. E a principal queixa de Hamilton foi com a instabilidade do carro, principalmente na traseira, que escapava muito nas curvas.
A quebra do câmbio, problema também sentido pela Aston Martin que é equipada pelo mesmo conjunto, motor-câmbio, fornecido pelos alemães, mais a aparência de ‘carro nervoso’, tem feito muita gente questionar, e até comemorar, se os anos dourados da Mercedes na F1 estão contados?
Não é bem por aí. Ainda que a Mercedes não tenha tido uma pré-temporada tranquila, é de se esperar que a casa seja colocada em ordem, senão já na abertura do campeonato, lá mesmo no Bahrein, no próximo final de semana, provavelmente nas corridas seguintes, em Ímola, Portugal e Espanha.
O que pode ser alento para um campeonato mais disputado é o bom desempenho da Red Bull. Max Verstappen foi o mais rápido dos testes, mas isso é o que menos importa. O que conta é a sensação, tanto do holandês, quanto o novo companheiro de equipe, Sergio Pérez, de ter o carro equilibrado e nas mãos.
O modelo RB16B - a letra B é porque o carro é o mesmo do ano passado em cerca de 60% - da Red Bull passou por extensa revisão na suspensão traseira e o carro ganhou notória estabilidade, diferente do ano passado em que só no final da temporada, o projetista Adrian Newey, conseguiu encontrar o caminho para a falta de estabilidade, e Verstappen venceu com propriedade a última corrida do ano.
Para isso foi preciso gastar as duas ‘fichas de desenvolvimento’ que cada equipe tem o direito de usar durante o ano. A satisfação de Verstappen, e de Pérez, que deverá levar algum tempo para se adaptar ao novo carro, que por sua natureza tem comportamento totalmente distinto do da Racing Point (hoje Aston Martin) com o qual o mexicano correu nos últimos anos, é um presságio de que a disputa possa ser mais apertada este ano, mas com a Mercedes ainda favorita, mesmo que Toto Wolff tenha encontrado ‘cabelo na sopa’. A essa hora, lá na fábrica da equipe, em Woking, provavelmente outro cardápio já está sendo preparado.