Há mais de 90 anos, no dia 6 de abril de 1929, o Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, noticiou a gravíssima situação de uma onda da epidemia de Febre Amarela que assolava diferentes cidades do Brasil. O enfoque principal da notícia foi registrar a atitude correta de médicos de São Sebastião do Paraíso, Sudoeste Mineiro, diante do compromisso de testar e acompanhar todos os casos suspeitos.
Segundo a fonte jornalística, as autoridades responsáveis pela saúde pública no país estavam agindo tardiamente, evitando tomar medidas impopulares que pudessem causar prejuízos nas próximas eleições. Havia muitas pessoas que não acreditavam na existência dos vírus e bactérias. O mais obtusos atacavam o médico sanitarista Oswaldo Cruz, que escreveu seu nome na história das ciências no Brasil. Pior ainda eram aqueles que diziam ser imoral as moças suspenderem a manga da blusa para receber a vacina.
Um mês antes, ocorreu um óbito em Paraíso, levantando a suspeita de ser um possível caso de Febre Amarela. No exercício de suas corretas práticas profissionais, os médicos paraisenses enviaram material biológico para o Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, para que fosse feita a devida análise laboratorial. Dias depois, o então presidente da Câmara Municipal, capitão Emílio Carnevale, recebeu um telegrama do diretor do referido Instituto, atual Fundação Oswaldo Cruz e fabricante de uma das vacinas contra a Covid-19, comunicando que a causa da morte do paciente de Paraíso teria sido Hepatite Tuberculose e não Febre Amarela.
Como havia pânico na cidade, o capitão Carnevale mandou distribuir um boletim à população, reproduzindo a íntegra do telegrama que esclareceu o caso e registrou elogios aos médicos que tomaram a medida correta, enviando o material para análise. Diante da urgência do caso, o presidente do Sindicato Médico Brasileiro enviou ao jornal Nova Era, propriedade do coronel José Honório Vieira, o seguinte telegrama: “Redator diretor Nova Era – São Sebastião do Paraíso. Felicito população Paraíso pela conduta corretíssima Antônio Marques de Souza e J. Coutinho Soares, noticiando caso suspeito Febre Amarela. A não confirmação revela, não um erro, mas grande zelo e patriotismo no exercício da profissão. Ovídio Meira, presidente do Sindicato Médico Brasileiro.”
Para finalizar, esse episódio local e universal, interligando presente e passado, reforça um postulado compartilhado por ilustres historiadores da atualidade, ao dizerem que, como seres humanos, somos mais parecidos com as gerações mais distantes do que com os nossos próprios pais, de quem, por vezes, nos julgamos tão diferentes. Em outros termos, a terra não é plana, não há a mínima chance de ninguém virar jacaré e vale a pena vacinar, quando houver o imunizante disponível para todos.