E como era de praxe, domingo era dia de cinema. E de costume, na época as pessoas mais simples também tinham o hábito de ir ao cinema de terno e gravata. Eu não fugia da regra, pois as 18:30 horas eu já entrava na fila da primeira sessão que sempre alcançava até a porta da Sorveteria Spósito.
- Este dia estava na fila, na minha frente, um conceituado comerciante todo animado, que falava o tempo todo elogiando o filme que estava prestes a assistir: SEM LEI SEM ALMA. E na frente do comerciante, algumas adolescentes que saracoteavam o tempo todo. Dado momento, uma das garotas pisa justamente no seu pé, e pela expressão de seu rosto, estava vendo "estrelas", pois ele era conhecido pelos seus calos, como se dizia de "estimação" e usava sandálias.
Não deu outra, saiu da fila e não querendo recriminar as garotas dizia:
- Vou embora, essa é a pior fita (filme) que existe, é uma....
- E o pessoal da fila em respeito a ele, tapando a boca para rir!
Mas vamos dar continuidade: assim que cheguei à bilheteria a funcionária Luzia, que felizmente está entre nós, me atendeu, e assim adquiri naquele momento o ingresso.
Dei os bilhetes a saudosa Gê, e entrei.
No saguão do cinema, o pessoal comprova balas, e alguns adquiriram na praça amendoim com casca. - Da para imaginar a sujeira que aprontavam.
Os cinemas influenciavam o imaginário das vaidades, ou seja, os rapazes tinham de se mirar em Clark Gable para serem percebidos, já as garotas na Elizabeth Taylor. No dia seguinte, ainda compravam a Revista do Rádio, matérias sobre a vida dos atores, fotografias dos ídolos preferidos e filmes em cartaz.
As sessões eram iniciadas com um documentário ou desenho animado que eram muito apreciados.
Os rapazes por precaução e exigências das namoradas sentavam-se ao lado delas, com as luzes apagadas, pois seus pais eram uma "fera"!
Ao término do filme o pessoal ia circular no jardim, as garotas em sentido horário, e os jovens sentido anti-horário, para os flerts.
Conversar era outro lazer antigo. Ah! As conversas!...
O mexerico desde sempre agiu nos bastidores..! Como diziam os memorialistas, isso era "a festa que o povo oferecia a si mesmo"!
O Cine São Sebastião, era referência na região, e o que restou do cinema é um desenho na parede lateral; que ainda pode ser visto no interior do Magazine Luiza.
Sebastião Pimenta Filho
Cronista - Historiador