CRÔNICA HISTÓRICA

Festivais Paraisenses de Música Popular

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cultura | 14-04-2021 09:30 | 1051
Os Regentes. Conjunto de São Sebastião do Paraíso (1969). Da esquerda para a direita. Paulo Piassi, Oberlaender Marinzeck, Kátia Cunha, Luiz Alberto, Eurípedes Borges e Nelson  Duarte
Os Regentes. Conjunto de São Sebastião do Paraíso (1969). Da esquerda para a direita. Paulo Piassi, Oberlaender Marinzeck, Kátia Cunha, Luiz Alberto, Eurípedes Borges e Nelson Duarte Foto: Reprodução

Há cerca de 50 anos, houve um período diferenciado na história cultural de São Sebastião do Paraíso, Sudoeste Mineiro, quando foram realizados alguns festivais de música popular. Um deles foi realizado em 1969, quando a jovem Terezinha Daher saiu vitoriosa, com sua belíssima voz e interpretação. O prêmio incluía uma certa quantia em moeda nacional, troféu, certificado e uma apresentação no programa da extinta TV Tupi, “Almoço com as Estrelas”, apresentado pelo casal Airton e Lolita Rodrigues.

A apresentação no festival e na televisão foi acompanhada pelo conjunto Os Regentes, que está na memória de muitos paraisenses septuagenários ou quase isso. Participavam do referido conjunto, em diferentes momentos: Ademar Ribeiro, Eurípedes Borges, Guelfo Colombo, Kátia Cunha, Luiz Alberto, Manoel Luiz, Oberlaender Marinzeck, Paulo Piassi, Ricardo e o baterista Nelson Duarte, que, nos anos seguintes, iniciou sua trajetória como principal protagonista da imprensa periódica da cidade das últimas décadas.

Entre 8 a 15 de julho de 1979, foi realizado outro festival, inserido na programação da Segunda Semana Cultural de São Sebastião do Paraíso, com apoio da prefeitura e animado por cidadãos que tudo faziam para ampliar o universo cultural da cidade. Conforme o regulamento dessa edição, os interessados em inscreverem suas canções deveriam procurar o presidente da comissão, João Batista da Silveira, jornalista diretor do semanário Alternativo e à época funcionário do Banco do Brasil.

O regulamento previa o prazo de 20 dias para as inscrições, mas era possível enviar a inscrição por correspondência. Para fazer a inscrição os concorrentes deveriam entregar uma fita cassete gravada com as músicas e cada concorrente podia inscrever até quatro músicas inéditas, devendo entregar dez fotocópias das letras inscritas. Uma seleção prévia eliminaria músicas e letras que tivessem plágios. Seriam também eliminadas letras com expressões ofensivas a pessoas vivas ou falecidas, assim como palavras que comprometessem a moral e bons costumes.

As músicas selecionadas foram apresentadas em duas etapas, uma delas na primeira noite do festival e a segunda noite, quando eram selecionados os cinco vencedores. As apresentações eram feitas no salão do Ginásio Estadual Industrial Clóvis Salgado; a comissão julgadora estava composta por 7 jurados que avaliavam melodia, letra, mensagem e comunicação. Os três primeiros classificados receberiam prêmios em dinheiro, troféu e certificado e os classificados em quarto e quinto lugar receberiam medalhas de honra e certificados.

No cenário político da época, augue do regime militar, os participantes do evento estavam sob a vigilância de órgãos encarregados de observar os movimentos sociais. O presidente da comissão organizadora recebeu um ofício da polícia, solicitando o envio das letras, assim como seus autores, organizadores e regulamento. Ao invés de atender à solicitação, o João Batista escreveu um artigo denunciando a vigilância, publicado no jornal O Movimento, do Rio de Janeiro, em 1 de outubro de 1979. Lá se foram os festivais, as fitas cassetes e as fotocópias. Ficaram na memória o encantamento de uma vibrante geração que tudo fez para ressignificar o cenário cultural da querida terra natal.

Fonte: Jornal Observador. Guaranésia. 31 de maio de 1979