CRÔNICA HISTÓRICA

Presença cultural do Trio Montanhês

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cultura | 12-05-2021 10:16 | 1341
Revista da Rádio. Rio de Janeiro, 5 de julho de 1958
Revista da Rádio. Rio de Janeiro, 5 de julho de 1958 Foto: Divulgação

Uma página especial da história cultural de São Sebastião do Paraíso, Sudoeste Mineiro, está preservada na discografia do Trio Montanhês, inserida na virada para a década de 1960, quando as primeiras estações de televisão do Brasil estavam vivendo a primeira infância. O rádio ainda era a principal mídia na difusão de músicas gravadas em discos de acetato. Foi nesse quadro que três cantores paraisenses escreveram seus nomes na história da música brasileira, apresentando-se nas principais emissoras de rádio do país e na nascente Televisão Paulista, do Grupo Victor Costa.

O exitoso conjunto vocal era formado pelos conterrâneos Luiz Carlos de Oliveira, Farid Jacob Moherdani e Gilberto Garcia Escolar. Líder do grupo, Gilberto (Gê), que chegou a aprender o ofício de tipógrafo na Casa Prado, era filho do comerciante espanhol José Garcia Escolar, proprietário da Casa Estrela, estabelecida na Rua Placidino Brigagão, uma quadra abaixo da Igreja Matriz. Ficou na memória local que na referida loja era possível comprar brinquedos, utilidades do lar, instrumentos musicais, entre outros produtos do ramo de livraria e papelaria.

Farid e Gilberto cantaram juntos no Duo Paraisense, que se apresentou, em dezembro de 1958, na inauguração do Cine São Sebastião. No ano seguinte, o Trio Montanhês gravou, pela Rádio Gravações Especializadas (RGE), um LP (Long Play), tendo como destaque a música Chapéu de Três Bicos. A crítica especializada registrou que havia algo de inovador naquele disco: vozes afinadíssimas, técnica musical, letras inteligentes, alegres e uma refinada dose de humor. Nos anos seguintes, a identidade do grupo consolidaria com o mesmo estilo com que surgiu no cenário nacional.

Outro sucesso do grupo foi o disco temático intitulado Baile no Zoo...lógico que é bicho dançando! A bicharada ocupava a cena principal, com humor e criatividade, em letras como: O tatu subiu no pau, Rato-rato-rato, Pombo Correio, Lobo Lobo, Tem um gato na tuba e Eu vi um leão, entre outras. Os personagens das letras habitavam um divertido zoológico, englobando animais ou seres humanos de todas as idades. Uma análise mais refinada do sucesso revela que nos bastidores da produção dos discos, estavam nomes de grandes compositores e profissionais, tais como Walter Wanderley, Carlos Lyra, Ari Barroso, Ronaldo Bôscoli, entre outros.

Nos anos seguintes, o Trio Montanhês fez várias apresentações em programas de televisão, tais como aqueles animados por Sílvio Santos e Hebe Camargo. A trajetória de sucesso dos cantores está registrada em diferentes crônicas publicadas em jornais de ampla circulação nacional. Finalmente, depois de 60 anos, ficou na história a produção dos três jovens cantores afinados, cujas vozes vibraram nas paradas de sucesso das grandes emissoras do país e ainda ecoam no coração de todos aqueles que acreditam do poder da cultura como instância de aproximação das pessoas.

O “Trio Montanhês estreou, na RGE