POLEPOSITION

Um jovem senhor de 100 anos

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 28-08-2021 09:37 | 911
Antes da apresentação, o sorriso de Emerson traduz a felicidade de quem vai pilotar o Copersucar, em Spa
Antes da apresentação, o sorriso de Emerson traduz a felicidade de quem vai pilotar o Copersucar, em Spa Foto: Divulgação

Spa-Francorchamps agora é um jovem senhor de 100 anos. Na semana em que o lendário circuito belga tornou-se centenário, outra efeméride coincidiu com o local e o fim das férias da F1: o 30º ano da estreia de Michael Schumacher na categoria.

A história de Schumacher começava a ser escrita a partir de uma briga de trânsito em que o titular do carro 31 da novata Jordan, Bertrand Gachot, usou gás paralisante contra um taxista, em Londres. Enquanto o belga estava preso na Inglaterra, um jovem alemão de 22 anos, ainda desconhecido, com sobrenome que numa tradução para o português significa “Sapateiro(!)”, convenceu a Mercedes a bancar o cockpit da equipe irlandesa que procurava por um substituto para o GP da Bélgica.

O tal ‘Sapateiro’ ainda teve a ousadia de mentir para o dono da equipe que já tinha corrido em Spa-Francorchamps, quando na verdade, tudo que ele conhecia de uma das pistas mais desafiadoras da F1 era dando algumas voltas de bicicleta.

No sábado, o alemão assombrou com uma pilotagem polida em que arrancou o 7º lugar no grid. Na largada, Schumacher andou apenas 500 metros e a embreagem da Jordan quebrou. Fim de corrida, mas foi o suficiente para mostrar o cartão de visitas. Um ano depois, na mesma pista, ele venceu pela primeira vez. E o resto é história.

Spa-Francorchamps está vivendo momentos de nostalgia neste final de semana, e um deles é Emerson Fittipaldi que vai pilotar amanha o Copersucar-Fittipaldi F5, carro do único pódio da equipe brasileira na F1, quando o próprio Emerson terminou em 2º no GP do Brasil de 1978. Emerson venceu duas vezes o GP da Bélgica, em 1972 e 74, mas nenhuma em Spa-Francorchamps, época em que as provas foram disputadas em Nivelles.

Este é o 66º GP da Bélgica, o 54º em Spa-Francorchamps, pista preferida por dez entre dez pilotos e que mesmo com as mudanças que o traçado sofreu ao longo dos anos, nunca perdeu a essência do perigo e do desafio, ainda que já não seja coisa de outro mundo fazer a temida Curva Eau Rouge com o pé cravado no acelerador.

O campeonato caminha para ser decidido nos detalhes entre Hamilton, que reassumiu a liderança antes das férias, e Verstappen que foi tocado por pilotos da Mercedes nas duas últimas corridas, e viu a vantagem de 33 pontos virar 8 a favor de Hamilton.

O que não faltou até aqui foram corridas memoráveis. Numa rápida pincelada do que aconteceu na primeira metade do campeonato, está vivo na memória a vitória de Hamilton no Bahrein, numa corrida em que Verstappen era o favorito, mas excedeu os limites da pista quando ultrapassou Hamilton e teve que devolver a posição.

O troco de Verstappen veio em Ímola numa corrida em que Hamilton errou e deu sorte de terminar em 2º graças à forte batida entre Bottas e Russell que paralisou a corrida.

Em Portugal, Hamilton fez 2 X 1 em Verstappen, e ampliou para 3 a 1 na Espanha, onde obteve a 100ª pole da carreira. 

De Mônaco ficaram as lembranças da frustração de Leclerc que não pode largar da pole com a quebra da Ferrari na volta de alinhamento para o grid, e do pit stop de Bottas que só foi terminar dois dias depois na fábrica da Mercedes, porque a porca da roda deu um baile nos mecânicos e não saiu.

No Azerbaijão, o estouro do pneu de Verstappen, o erro de Hamilton na relargada e a vitória de Sergio Pérez; A reação tripla de Verstappen fazendo ‘barba, cabelo e bigode’ nos GPs da França, Estíria e Áustria; A mini corrida de classificação em Silverstone, a largada ‘animal’ entre Verstappen e Hamilton, o toque de rodas e a batida violenta do holandês com impacto de 51 G; E por fim, o GP da Hungria que teve apenas o carro de Hamilton largando do grid depois do strick que Bottas causou na largada, a desclassificação de Vettel e a inesperada vitória de Estebam Ocon.

Poucas vezes foi tão fácil puxar tantas corridas pela memória sem recorrer às anotações. A F1 2021 está sensacional.