POLEPOSITION

Águas passadas

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 05-09-2021 10:07 | 767
Niki Lauda (McLaren) vencedor do último GP da Holanda, em 1985
Niki Lauda (McLaren) vencedor do último GP da Holanda, em 1985 Foto: Getty Images

Eu não gostaria de estar na pele de Michael Masi, o diretor de provas da F1, no GP da Bélgica. Imagine a pressão a que este australiano de 42 anos esteve submetido com as condições climáticas desde a classificação do sábado numa das pistas mais perigosas do campeonato? 

A decisão de dar bandeira vermelha depois de duas voltas foi correta, já que não havia a menor condição de corrida. O que causou confusão foi o texto do regulamento esportivo da F1 que expôs uma série de falhas que deixou todo mundo sem saber o que fazer, inclusive o próprio Masi.

De fato, em seus 72 anos de existência, a F1 nunca havia se deparado com uma situação como a da Bélgica. Nem quando foi ameaçada por furacões, no Japão, ficou sem condições de correr. Das seis vezes em que um GP foi encerrado antes do final, nenhum deles foi como em Spa-Francorchamps, que estatisticamente entra para a história como o mais curto da F1, com apenas duas voltas.

O que não fez sentido foi declarar um vencedor para uma corrida que não aconteceu, tampouco a cerimônia do pódio, e muito menos distribuir pontos, ainda que pela metade. Isso aconteceu porque reza o artigo 3.2.4 do regulamento que os pilotos precisam completar o mínimo de duas voltas, e menos de 75% das voltas programadas para que a prova seja válida e os pontos contados pela metade.

Acontece que não teve corrida(!), não teve largada, não houve a mínima possibilidade de disputa porque as três voltas que os carros percorreram foram atrás do Safety Car, debaixo do aguaceiro e das precárias condições de visibilidade.

As falhas do regulamento foram tão bizarras que o presidente da Federação Internacional de Automobilismo, Jean Todt, convocou uma reunião com todos os chefes de equipes para o próximo mês, a fim de corrigir as falhas.

E quem saiu ganhando foi Max Verstappen que no sábado, já com o cronômetro zerado, roubou a pole de George Russell e foi declarado o vencedor do GP da Bélgica, encurtando de 8 para 3 pontos a desvantagem para o líder do campeonato, Lewis Hamilton, que foi declarado 3º colocado no domingo. Mas quem estava feliz da vida, ainda que não fosse da forma como gostaria de festejar o primeiro pódio, era Russell,  2º colocado com a Williams que passou os últimos três anos na lanterna do campeonato.

A vida segue e a F1 está na Holanda, exatos 36 anos depois da última vez que pisou em Zandvoort. 

O tradicional circuito às margens do Mar do Norte foi inaugurado em 1948 e já realizou 30 GPs de F1, o último deles em 1985 que teve a vitória de Niki Lauda, sua última conquista na categoria. Nelson Piquet fez a pole, mas ficou parado no grid e só largou um minuto depois, empurrado pelos fiscais de pista que fizeram o motor BMW da Brabham pegar no tranco.

Lauda largou da 10ª posição e foi evoluindo na corrida até chegar à liderança. Alain Prost terminou em 2º e Ayrton Senna em 3º, com a Lotus negra-dourada.

A pista de 4.259 metros passou por reformulação e ganhou uma inclinação de 18º na curva 14, que vai exigir muito dos pneus, tanto que a Pirelli levou os compostos mais duros de sua gama, C1, C2 e C3.

Correndo em casa, diante de uma apaixonada torcida que deve colorir o circuito de laranja, Max Verstappen tem a chance de virar novamente o jogo pra cima de Hamilton e voar para a Itália no final de semana seguinte, líder do campeonato.

Enquanto isso, até o fechamento desta coluna era aguardado para qualquer momento o anúncio de George Russel na Mercedes para o ano que vem, formando dupla com Hamilton. Com a decisão de Kimi Raikkonen se aposentar ao final da temporada, abre-se uma vaga na Alfa Romeo que deverá ser ocupada pelo compatriota, Valtteri Bottas, atualmente na Mercedes.