ACISSP EM FOCO / EMPRESAS E EMPRESÁRIOS

Armazéns Gerais Peneira Alta nasceu com o intuito de valorizar o produto café

Por: Nelson Duarte | Categoria: Cidades | 18-09-2021 10:46 | 1808
O empresário Fernando Montans Alvarenga
O empresário Fernando Montans Alvarenga Foto: Nelson Duarte

Administrador de Empresas formado pela Unaerp, o empresário Fernando Montans Alvarenga logo depois de sua graduação, em 2000,  passou uma temporada na Inglaterra. Estagiou na Organização Internacional do Café (OIC), em Londres, e também na Associação dos Países Produtores de Café (APPC), instituição onde inteirou-se dos mecanismos na comercialização internacional do produto, o equacionamento na oferta e demanda, estatísticas, e os “porquês” que compõem esse intrincado segmento.

De volta ao Brasil esteve por algum tempo na Gonçalves Salles (Laticínios Aviação), empresa de seu grupo familiar. Mas a proximidade com os dois órgãos em Londres foi um estímulo, e conforme explica, “voltou com a ideia voltada para o café”, ainda mais levando em conta, que na época ganhavam corpo a valorização de cafés especiais, de origem, lote a lote, e o crescimento do número de cafe-terias pelo mundo. “Foi quando resolvemos montar o Armazéns Gerais Peneira Alta, que nasceu com esse intuito de valorizar o produto”, explica Fernando Montans Alvarenga.

Empresa familiar que faz parte de um “guarda-chuva” de outra holding com várias empresas, o projeto foi iniciado em 2001 e a inauguração em 2002. Começamos com esse estudo, o que fazer para valorizar o café. Até então, eram armazéns onde se depositava cafés bicas corridas como chegavam das fazendas, tomando-se por referência classificação padronizada pelo Instituto Brasileiro do Café, e, em cima disso, era vendido. Percebemos que aquilo não era mais pertinente. 

“Fui a diversas feiras, conversei, tive orientações, e montamos o armazém com a ideia de valorizar o produto. Assim nasceu o Peneira Alta. Nunca tivemos a intenção de comercializar café, sim estabelecer uma ligação direta do produtor com o exportador, com o torrefador, ou que o próprio produtor torrasse seu café”, diz Fernando Alvarenga.

“Tínhamos essa área aqui na cidade (à margem da BR 265), e começamos do zero. Procuramos quem mais entendia naquela época, a equipe do Professor Belmiro, de Pinhal (SP) desenhista de projetos de máquinas de café, conhecido de nossa família porque projetou algumas para meu avô nas fazendas. Ele fez o primeiro projeto, foi muito funcional, e iniciamos em área de quatro mil metros quadrados de construção e maquinário compatível ao galpão da época”.

O início das atividades do Peneira Alta se deu em ano de grande safra brasileira, a de 2002, uma das maiores colheitas até então, O armazém com capacidade para 120 mil scas de juta, em 90 dias estava cheio. Vimos que havia um potencial e fomos aprendendo com o decorrer do negócio.

 “Constatamos que havia necessidade de escala, e os produtores também entenderam a visão do Peneira Alta, sua importância na cadeia produtiva por valorizarmos o produto, e sermos neutros na comercialização. O café que armazenamos poderá ser vendido para quem e da maneira que ele quiser, é o dono, nossa preocupação é somente com a armazenagem.

“Tivemos mais demanda e investimos cada vez mais em nosso projeto. Veio problema de mão de obra, de sacarias e entendeu-se que o café precisava ser armazenado a granel, e investimos nessa área. Atualmente utilizamos big bags individualizados, com rastreabilidade, com chips, localização, onde consta a qualidade do café, o lote, tudo informatizado, no computador. Para o crescimento e o que o mercado pedia, precisávamos investir pesado, e fomos aumentando significativamente a área de armazenagem. Em 2005 a capacidade foi para 300 mil sacas, em 2011 ampliada para 420 mil sacas, 700 mil em 2014 e atualmente para até um milhão de sacas. Saímos de quatro mil, para quarenta e um mil metros quadrados de armazenagem em dezoito anos”, afirma Fernando Alvarenga.

Embora disponha de muita área para um crescimento físico das instalações, o investimento do Peneira Alta tem sido no crescimento interno, otimização e velocidade na prestação de serviço, e com isso conseguir ganhos de escala na própria área existente. “Melhoria interna de processo e isso está sendo feito. Temos trabalhado com softwares em logística com objetivo de trazer os lotes de maneira mais racional dentro do espaço que temos. O café tem que “andar menos” e ser mais empilhado”, explica.

Investimento expressivo ocorreu nos dois últimos anos no setor de maquinação. No ano passado houve o aumento em 50% a capacidade produtiva da máquina que rebeneficia mais de quatro mil sacas por dia.

O Armazéns Peneira Alta é referência internacional, recebe com frequência empresários japoneses, italianos, americanos, alemães e missões internacionais como a da Etiópia 2017 que dentre outros era integrada pelo ministro da Agricultura daquele país e embaixadora no Brasil. Na semana passada vieram empresários suíços.

“Vêm visitantes do mundo inteiro porque o modelo de negócio que temos é especializado e vocacionado para cuidar do café do produtor e do exportador. Nos preocupamos com a rastreabilidade, conseguimos montar um ambiente confiável, existe transparência e fidelidade no que é recebido em depósito, modelo de negócio que não existia, então se tornou referência mundial. O Brasil é o maior produtor de café do mundo e nós com esse modelo de negócio somos únicos, as pessoas vêm entender o funcionamento desse processo”, enfatiza.

Em sua visão, como empresário e cafeicultor, Fernando admite que considerando em Real, o café está com bom preço, “mas como produtores sempre queremos mais”, e em dólar há espaço para crescer no mercado externo. “Até agora não faltou café. Estamos em momento delicado porque estoques mundiais estão baixos, e isso também ocorre no Brasil. A colheita ficou aquém do previsto e há de se considerar o problema climático, falta de chuva. Além dos reflexos de seca prolongada, lavouras estão sentidas. Existe um déficit hídrico acontecendo nos últimos anos em regiões cafeeiras e não se sabe como as lavouras vão se comportar com temperaturas mais altas, além de geadas que ocorreram, em relação à próxima safra, até a gente garantir que a próxima colheita aconteça. Então o mercado fica tenso, mas a tendência é que preços se mantenham nos atuais patamares”, analisa.

O recebimento da atual safra foi dentro do esperado pelo Armazéns Gerais Peneira Alta, mas com quebra significativa.

Como sempre é solicitado aos empresários (as) participantes do ACISSP em FOCO, perguntamos a Fernando Montans Alvarenga sua opinião sobre a Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e Serviços. “É muito importante, colabora muito e tem muito a colaborar com São Sebastião do Paraíso. Investir em negócios não é simples, mas a conjuntura faz que isso se torne mais fácil, e a ACISSP é facilitadora, tem essa função de organizar esse ambiente para que o empresário possa investir com esse respaldo. É ponto de apoio para empresários. Acho que é fundamental. Comércio, indústrias, prestado-res de serviço são cada vez mais essenciais para a economia, e temos muito a ser explorado em Paraíso na área de cultura. A ACIS SP desempenha bonito papel e tem longo caminho pela frente”, disse.

“Ser empresário no Brasil é um grande desafio. Trabalhar com agricultura, empresa a céu aberto, depende-se de vários fatores que não estão sob nosso controle, e em país onde não á segurança política, onde boa parte de políticos pensa na população, apenas no status quo, na manutenção do poder. A gente conseguir vencer e ainda crescer nesses períodos é um orgulho. Devo muito à minha equipe na qual sempre acredito. É uma característica nossa, formar equipes, pois queremos que entendam a empresa não só como um lugar em que recebem seus salários, mas local em que possam crescer como seres humanos”, pontua Fernando Alvarenga.

“Entendemos a importância da empresa na sociedade, temos a visão social que temos na região não apenas em nosso objetivo fim, que é zelar pela qualidade do produto café, e prezamos por isso. Investimos em nossos colaboradores de modo a lhes proporcionar um ambiente confortável e prazeroso, pois sabemos que o que aqui acontece tem reflexos na sociedade, e em suas vidas pessoais, e nossa proposta é contribuir para com a melhoria do todo”, conclui o diretor do Armazéns Gerais Peneira Alta.