PARAÍSO 200 ANOS

Comendador José Honório “O Rei do Café de Minas”

Por: Redação | Categoria: Cidades | 25-10-2021 06:05 | 1379
Coronel José  Honório vieira, fazendeiro e líder político em São Sebastião do Paraíso na década de 1920
Coronel José Honório vieira, fazendeiro e líder político em São Sebastião do Paraíso na década de 1920 Foto: Acervo Luiz Carlos Pais

A mola propulsora da economia paraisense tem sido ao longo desses dois séculos, o agronegócio, e de maneira destacada a cafeicultura, que segundo dados existentes na Câmara Municipal teve seu início meados de 1866 em propriedade do Coronel Francisco Adolfo de Araújo Serra, utilizando a princípio mão de obra de escravos, posteriormente nordestinos e, em seguida o colono europeu, época em que o município recebeu grande número de imigrantes italianos.

Conforme consta na “Enciclopédia Histórica – São Sebastião do Paraíso 200 Anos”, autoria do historiador Dr. Luiz Ferreira Calafiori, recentemente lançada, “já em 1924, produzíamos cerca de 100 mil sacas de café beneficiado. Entretanto, com a derrocada dessa cultura, provocada pela vertiginosa queda de preço na Bolsa de Valores de Nova York no ano de 1928, houve um declínio na sua produção, aliás, com reflexos negativos em todo o País. No início do século XX o Comendador José Honório Vieira tinha plantado em suas propriedades, um milhão de pés de café”.

Segundo a “Enciclopédia Histórica”, outros grandes produtores à época foram o “Comendador João Alves de Figueiredo, Comendador João Pio Figueiredo Westin, Coronel Antônio Pimenta de Pádua, Coronel Tomé Pimenta de Pádua, Coronel José Oliveira Rezende, Coronel Francisco Pimenta de Pádua, Coronel João F.O. Rezende, Coronel João V. Figueiredo, Coronel Joaquim Rosa de Figueiredo, Dr. José Oliveira Brandão, Coronel José A Figueiredo, Capitão João B Pinto Sobrinho, dentre outros.

Crônica histórica de autoria do Professor Luiz Carlos Pais, publicada pelo Jornal do Sudoeste relata “nos últimos anos da República Velha, a liderança exercida pelo comendador José Honório Vieira, conhecido como Rei do Café de Minas. Natural de Santa Rita do Passa Quatro, São Paulo, José Honório Vieira casou-se com a Mariana Vieira Palma, aos 27 de maio de 1886.

Logo em seguida, fixou residência em Paraíso, Sudoeste Mineiro, onde constituiu numerosa família. O fazendeiro abastado se tornou no maior produtor de café da região, proprietário da Fazenda Sapé, onde mandou construir uma estação da Estrada de Ferro São Paulo e Minas. Era proprietário de outras fazendas, onde trabalhavam três mil colonos, conforme consta no relatório do congresso do “II Centenário da Introdução do Cafeeiro no Brasil”, realizado em São Paulo, em 1927. Em vista da expressiva produção, no referido evento, foi projetado um filme elaborado por empresa cinematográfica mineira, intitulado “O Rei do Café de Minas”.

José Honório Vieira foi benemérito da Igreja Matriz local, motivo pelo qual recebeu um título de comendador concedido pelo Papa. O fazendeiro bem sucedido foi líder político nos anos mais agitados que precederam o início da Era Vargas. Foi presidente de um diretório dissidente da linha mais conservadora do Partido Republicano Mineiro, quando as divergências com o Partido Republicano Paulista se intensificaram. Nesse momento, as paixões partidárias chegaram ao polo da cafeicultura do Sul de Minas.

São Sebastião do Paraíso e outros municípios da região sempre tiveram importantes relações comerciais com o estado de São Paulo. Desse modo, políticos locais que apoiassem as pretensões paulistas eram considerados adversários das lideranças mineiras, entre as quais a exercida pelo governador Antônio Carlos. Por outro lado, os políticos paulistas sempre contaram com os votos do Sudoeste Mineiro nas eleições nacionais. Assim, com a crise da política do café com leite, os políticos paraisenses ficaram literalmente na fronteira dos conflitos, entre a cruz e a espada.

Nas agitações que precederam ao movimento de 1930, foi anunciado na imprensa nacional que o comendador José Honório Vieira continuava sendo o mais prestigioso chefe político da cidade e bem relacionado com o governador Antonio Carlos. Situação que levaria ao apoio na Aliança Nacional em favor dos ideais de rompimento com a velha política como pretendia Vargas.

Esse foi um momento de ruptura, pois estava encerrando o período de hegemonia dos coroneis. Um aspecto relevante consiste em destacar a importância política exercida pelo Sudoeste Mineiro como pode ser avaliada na imprensa nacional sempre atenta aos desdobramentos da região.

Em janeiro de 1929, um diário do Rio de Janeiro publicou que eram infundadas as notícias de que estaria ocorrendo divergências políticas nos municípios cafeeiros do Sudoeste Mineiro. Ficou registrado que em Monte Santo, a situação continuava segura sob a orientação do deputado Waldomiro Magalhães.

O mesmo era anunciado em relação aos diversos municípios da região. Naquele momento, tendo exercido o cargo de deputado estadual, Noraldino Lima continuava sua trajetória de proximidade com os principais lideres mineiros. Por diversas vezes, o ilustre poeta foi incumbido de visitar sua terra natal para apaziguar os ânimos locais.

Em 12 de janeiro de 1929, “O Imparcial” do Rio de Janeiro publicou que São Sebastião do Paraíso parecia ser um município “especialmente visado pela maldosa notícia”, mas que, lá tudo continuava em paz com o diretório sob a liderança do prestigioso chefe político José Honório, que seria “apoiado pela maioria absoluta da população e que estava prestigiado pelo presidente Antônio Carlos.”

No início da Era Vargas, como ocorreu em todo o país, as oligarquias regionais ainda tentaram se adaptar aos “novos rumos” da política nacional. Mas, os primeiros sinais de mudança estavam anunciados em 1929. Em fevereiro desse ano foi reorganizado um novo diretório político sob a liderança do abastado cafeicultor paraisense, tentando acomodar membros do Partido Republicano Mineiro. Esse diretório era presidido por José Honório Vieira, tendo como vice-presidente, Luiz Oliveira Rezende, conforme publicou “A Noite”, do Rio de Janeiro, de 9 de Fevereiro de 1929. Para finalizar, em setembro do mesmo ano foi fundado na cidade o “Centro Cívico da Mocidade Antônio Carlos”, tema para motivar outro retorno à história da querida terra natal”.

 

(A íntegra da crônica do

Prof. Luiz Carlos Pais  foi publicada na edição do Jornal do Sudoeste em 26 março de 2016.)