PARAÍSO 200 ANOS

Paraíso das Praças

Por: Reynaldo Formaggio | Categoria: Cidades | 28-10-2021 05:37 | 800
Praça Com. João Pio de Figueiredo Westin
Praça Com. João Pio de Figueiredo Westin Foto: Antonio Aparecido de Paula

Joaquim Mário, Imigrantes, Expedicionários. Olegário Maciel, Ferroviários, Saudade. Santa Paula Frassinetti, Inês Ferreira Marcolini, João Batista Teixeira... Bancos, árvores e flores. Sorvete, pipoca e pombinhas. Coreto, música e boa prosa. Gente, muita gente por entre suas alamedas.  Algumas mais conhecidas e frequentadas, outras um pouco mais discretas, as praças são parte importante de qualquer município. Atualmente com dezenas de praças espalhadas por toda a cidade, até o final dos anos 1890 São Sebastião do Paraíso era dividida basicamente em três áreas ou largos como eram chamados: Largo da Matriz, Largo do Rosário e o Largo do Cemitério. Apenas o primeiro deles permanece, agora urbanizado e transformado na Praça Comendador José Honório.

O Largo do Rosário abrigava a igreja de mesmo nome e era, além do lugar de fé e devoção, principalmente da população negra, local onde acontecia a tradicional Festa das Congadas e Moçambique. Nossa Senhora do Rosário, um dos títulos marianos mais propagados no mundo, tem sua origem em aparição registrada em 1214 na igreja do Mosteiro de Prouille, na França. A primitiva igreja paraisense foi inadvertidamente demolida em 15 de junho de 1952 para dar lugar à primeira rodoviária e abrir espaço também para a construção da agência dos Correios e Telégrafos. Hoje, em seu antigo local, se encontra a Biblioteca Municipal Professor Alencar de Assis.  Posteriormente, já em 1976, foi inaugurada a nova Igreja do Rosário, próxima ao Hospital Gedor Silveira e pertencente à Paróquia de São Judas Tadeu. A praça onde se localiza se chama Praça Cel. Antônio Rodrigues e também abriga uma bela estátua em homenagem ao Congadeiro. Dali, entre os dias 26 e 30 de dezembro, congadeiros e moçambiqueiros partem em cortejo em direção à Matriz de São Sebastião, quando têm vez as festividades da maior manifestação cultural do município.

O local onde está localizada a Praça Comendador João Alves, Praça da Fonte como é popularmente conhecida ou ainda Jardim Novo para aqueles um pouco mais “vividos”, abrigou o primeiro cemitério da cidade. Construído em 1851, conforme consta na historiografia municipal, o Cemitério Paroquial era vinculado à Paróquia de São Sebastião e funcionou neste lugar até o final dos anos 1890. Até receber a nomenclatura atual, Praça Com. João Alves, a praça se chamou Praça Aristides Lobo e Praça Independência. João Alves de Figueiredo (n. São Tomás de Aquino, 1852), grande benemérito, também foi homenageado com a atribuição de seu nome ao estádio da Associação Atlética Paraisense, bem como uma escola estadual. Com. João Alves falece em 1935 deixando entre sua prole, outra grande benemérita, a Comendadora Ana Cândida de Figueiredo, também homenageada ao batizar uma escola.

José Honório Vieira Júnior (n. Santa Rita do Passa Quatro, 1856), batiza a principal praça da cidade, a Praça Com. José Honório ou Praça da Matriz. Abastado fazendeiro, foi considerado a seu tempo, o “rei do café” de Minas Gerais. Em 1936 teve uma morte súbita quando o animal de sua montaria, supostamente assustado com uma cascavel, atirou-o fora da sela causando uma fratura no crânio e seu consequente falecimento.

A notícia da partida do “rei do café” foi publicada pelo Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Grande benemérito da Matriz de São Sebastião, a praça que leva seu nome anteriormente se chamava Praça Cesário Alvim. Esta praça presenciou, em diferentes momentos, seu principal patrimônio, a belíssima Matriz de São Sebastião, ser incendida, derrubada por um vendaval, ser reformada e totalmente reconstruída. Possível local de origem do município, foi ali que começou nossa bicentenária história, com a construção da primitiva capela em louvor a São Sebastião, no local escolhido no longínquo outubro de 1821.

Os títulos de comendador eram concedidos pelo Papa a cidadãos prestantes ou que dispunham de influência para solicitá-los. João Alves e José Honório foram contemporâneos e além de grandes beneméritos da cidade, ambos receberam o título de comendador pela contribuição ao município, suas instituições e também à Igreja.

Espaço dos mais democráticos, as praças são lugar de acolhida tanto para quem chega quanto para os que aqui vivem. Com as transformações ocorridas ao longo dos anos, cada praça teve papel fundamental no desenho histórico da urbe. Zelar por elas é dever não somente do poder público, mas mormente a cada cidadão.

Antigo Largo do Rosário
Comendador José Honório (1856-1936)
Largo da Matriz, atual Praça Com. José Honório
Comendador João Alves (1852-1935)
Local do antigo Largo do Cemitério