PARAÍSO 200 ANOS

Elas, as Doceiras

Por: Conceição Ferreira Borges | Categoria: Cidades | 27-10-2021 05:42 | 268
Foto: Reprodução

Sãosinha

Hoje, até os doces mudaram. As sobremesas são à base de leite condensado e creme de leite.

Antes, os doces eram doces mesmo, feitos de frutas, açúcar cristal e refinado sem os recursos químicos atuais. Atualmente, ser “festeiro” de nossas festa tradicionais é um acontecimento social como outro qualquer, pois se vai às padarias ou aos supermercados e ali compra-se os docinhos muito bem feitos, enrola-se um canudo de papel colorido, e manda-se a “prenda”.

Como era diferente ser festeiro tempos atrás; era um acontecimento empolgante na vida das famílias.

Uma vez papai e mamãe foram festeiros com o senhor Anacleto de Pádua e esposa, durante nove dias em homenagem a Nossa Senhora Aparecida. Quinze dias antes, vieram para casa a “Sá Lerídia” e a “Sá Lixan-drina”, doceiras famosas.

Foram sacos e sacos de açúcar desmanchados em doces de abóbora, mamão, coco, fatias de abacaxi, laranjas em pedaços, laranjas inteiras, até com as “folhinhas”, limões cristalizados, enfim, tudo o que a imaginação pudesse divagar em doces e quitandinhas caseiras tinha ali.

Mamãe, além de trabalhar também nos doces, ficou mais de um mês trabalhando na feitura dos cartuchos e cestas em forma de cisne, repicando papel de seda nas mais variadas cores e delicadas combinações de tons.

Foram dias coloridos com alegria, expectativa e emoção.

Como eram queridas as doceiras parai-senses, “Sá Lerídia”, “Sá Lixandrina”, “Sá Maria do sô Arlindo, “Sá Maria Tomásia”, e outras tantas “Sá Marias” que, na simplicidade de suas vidas, colocavam todo o carinho nos doces que faziam, transmitindo, assim, uma mensagem de amor aos seus semelhantes.

Serão sempre lembradas com respeito e admiração aquelas doceiras simples, mas grandes na difícil arte de fazer doces, como sempre faziam, com amor e perfeição.
(Transcrito de O Cruzeiro do Sul agosto de 1984)