Amigos, o que assistimos no último domingo, em Austin, foi algo para se guardar na memória. Ver e rever de tempos em tempos. Um duelo sensacional entre dois pilotos dotados de enorme controle e capacidade técnica que temos o privilégio de assistir.
Max Verstappen e Lewis Hamilton deram show. Superaram a mais tensa pressão que existe numa competição de alto nível e protagonizaram uma corrida épica, ainda que o único encontro na pista durante a corrida tenha sido na largada em que Verstappen (pole) perdeu tração na arrancada e foi superado por Hamilton na freada da primeira curva, no mesmo ponto onde no treino livre da sexta-feira, Verstappen não gostou de ser atrapalhado pelo adversário, e chamou Hamilton de “estúpido e idiota,” pelo rádio.
Era um claro sinal do quanto o holandês estava tenso em ter que lidar com um carro muito mais lento que o da Mercedes naquele momento.
Mas como essa temporada tem sido de muitas reviravoltas, em Austin foi mais uma delas. E surpreendentemente, de um dia para o outro, a Mercedes perdeu rendimento ao passo que a Red Bull evoluiu bastante.
Mistério? Mágica? Não. Pra tudo tem uma explicação. O Circuito das Américas tem sido uma espécie de reduto da Mercedes. A pista entrou para o calendário da F1 em 2012, e desde 2014 foi a primeira vez que a equipe alemã não fez a pole. Mas o que mudou?
As ondulações do asfalto, as altas temperaturas, rajadas de vento, e o fato de as equipes não terem corrido lá no ano passado por conta da pandemia formou um conjunto de situações que explica a mudança repentina de comportamento dos dois carros.
Ainda na sexta-feira a Mercedes reforçou a suspensão traseira de seus carros, temendo uma quebra como havia ocorrido com a Ferrari de Sebasian Vettel, em 2019 por conta das irregularidades do asfalto, o que piorou o rendimento quando tanto o sábado como o domingo amanheceram com temperaturas elevadas. Eles não imaginavam a queda de rendimento
Por outro lado, o modelo RB16B da Red Bull passou a render melhor por ter uma suspensão mais macia, o oposto à da Mercedes, além de instalar asas menores para compensar a falta de velocidade de reta em relação à Mercedes.
Tudo isso somado, a verdade é que a Mercedes acabou surpreendida com a pole de Verstappen e a ousada estratégia da Red Bull que deu um nó nos estrategistas da Mercedes que ficaram sem reação quando Verstappen parou muito cedo, 10ª volta, antes mesmo do que a Pirelli havia estabelecido como melhor a estratégia para quem havia largado com pneus médios (faixa amarela).
Mas além de tudo isso, teve outro fator que foi determinante: A visão de corrida de Max Verstappen! Não é qualquer piloto que tem a capacidade de fazer uma leitura precisa de tudo que está acontecendo ao seu redor, de dentro do cockpit. Hamilton é um desses que enxerga além do que está à sua frente. E no GP dos Estados Unidos, Verstappen deu uma demonstração absurda de controle emocional, técnico e de interpretação de corrida.
Nas primeiras voltas ele relatou pelo rádio que o carro de Hamilton escorregava muito de traseira, um sinal de que os pneus médios não teriam vida útil por muito tempo. Foi a senha para que a estrategista da Red Bull (uma mulher), Hannah Schmitz, antecipasse a parada de Verstappen, e partiu do holandês o pedido para que fizesse o mesmo com Sergio Pérez para neutralizar qualquer tentativa de reação por parte da Mercedes.
Estamos falando de alguém de dentro de um carro a 300 km/h, com inúmeras funções no volante, correndo com uma indisposição estomacal, e ainda palpitando a estratégia para o companheiro de equipe como forma de assegurar sua própria vitória.
É algo inédito. É coisa de gente superdotada de enorme talento que fará de Verstappen um grande campeão, se não for esse ano, será em breve. É um brinde a quem aprecia a arte de pilotar.