PARAÍSO 200 ANOS

PARAÍSO DAS AVES

Por: Reynaldo Formaggio | Categoria: Cidades | 11-11-2021 09:23 | 1885
Mocho-diabo (Asio stygius) - Saí-azul (Dacnis cayana)  - Urutau ou Mãe-da-lua  (Nyctibius griséus)
Mocho-diabo (Asio stygius) - Saí-azul (Dacnis cayana) - Urutau ou Mãe-da-lua (Nyctibius griséus) Foto: Adalberto Landgraf / José Carlos Alves Pinto / Aline Horikawa

A ornitologia é o ramo da zoologia que se dedica ao estudo das aves. É uma das poucas ciências beneficiadas pela contribuição de amadores. Já a observação de aves é uma atividade recreativa praticada por amadores e que cada vez mais encontra adeptos em todo o planeta. Os Estados Unidos concentram a maior parte de observadores de aves, mas atualmente o hobby é difundido em todas as partes do mundo e praticado por um público bastante heterogêneo. Além de uma atividade recreacional, a observação de aves é vista como ciência cidadã, dada a importante contribuição na conscientização, preservação, catalogação e compartilhamento dos dados levantados.

Atualmente São Sebastião do Paraíso se encontra na 6ª colocação no Estado de Minas Gerais, em número de espécies catalogadas. A cidade se situa em uma área de transição entre os biomas do cerrado e da mata atlântica, tornando o município rico em espécies animais.

Conversamos com três observadores de aves que colaboram para o registro e preservação das espécies identificadas no município.

O médico cardiologista Adalberto Landgraf, 64, é natural da cidade paranaense de Cornélio Procópio e desde 1984 reside em São Sebastião do Paraíso.

Graduado em Ecologia, José Carlos Alves Pinto atua na gestão da fazenda de sua família e também presta consultoria na área de meio ambiente e geotecnologias na ViaVerde Tech.

Aline Patrícia Horikawa, 41, é técnica em meio ambiente e atualmente vive no Japão, onde trabalha em uma empresa do ramo alimentício e, em paralelo, realiza trabalho de pesquisa com aves migratórias na região em que vive.

Segundo nossos entrevistados, entre as 365 aves já registradas no município, as mais comuns são o joão-de-barro, sabiá, bem-te-vi, sanhaço, beija-flores, tucanos e garças. Comuns e abundantes atualmente, há de se destacar que, até há cerca de três décadas, o canário-da-terra-verdadeiro foi muito caçado e se tornou raro na natureza em nossa região. Depois, fruto de uma legislação mais impositiva e fiscalização intensiva, a população desta espécie foi aumentando.

Muitas vezes a ave é comum, mas por se camuflar muito bem, torna-se difícil encontrá-la. Um bom exemplo é a ave mãe-da-lua ou urutau, como também é conhecida. Trata-se de uma ave com hábitos noturnos, mas com sorte, poderá ser vista durante o dia. Essa espécie pode ser observada em algumas praças da cidade. 

Entre as aves raras, nossos observadores afirmam que as migratórias são as mais difíceis de serem registradas. Muitas vezes fazem uma pausa para se alimentar e passam apenas alguns dias ou poucas horas no local. É preciso sorte para estar no momento em que elas estiverem passando. Isso ocorre muito com aves aquáticas ou aves que buscam alimentos perto de rios e represas, como colhereiros, narcejas e patos.

Outras espécies como os caboclinhos, também visitam a região na época da migração, mas sua população está diminuindo a cada ano. Os motivos principais são a perda do habitat e caça ilegal. Na região são poucos os locais onde podem ser vistos, sendo que algumas espécies já deixaram de passar pelo município.

Um grupo formado por Aline Horikawa, seu esposo Gerson e os amigos José Tadeu Quintino, Adalberto Landgraf, José Oliveira - o Zezinho, entre outros, surgiu na década passada com o objetivo de pesquisar e registrar as aves em todas as regiões de Paraíso. Segundo recorda Horikawa, nas fazendas, sítios, regiões de cerrado e Mata Atlântica, e também dentro da cidade, o resultado foi muito além do esperado, pela riqueza e diversidade apresentadas. O grupo também recebeu observadores de diversas partes do Brasil.

Além dos membros do referido grupo, dezenas de outros observadores em São Sebastião do Paraíso, seja atuando individual ou coletivamente, compartilham do hobby de fotografar e registrar as espécies encontradas no município e região.

Adalberto Landgraf

Adalberto Landgraf relata que seu interesse pelos pássaros vem desde a infância, sendo que a partir de 2014, passou a fotografá-los.

Landgraf utiliza uma câmera Canon SX70HS, com zoom óptico de 65x e se vale do registro do canto dos pássaros baixados do site WikiAves e reproduzido no celular como forma de atraí-los.

Do jardim de sua casa, localizada próxima à prefeitura, ele já registrou através de suas lentes, 65 espécies de aves.

Landgraf destaca que alguns municípios possuem grupos de observadores de pássaros, mas diz preferir os grupos de Whatsapp, onde combinam as incursões.

Além disso ele compartilha algumas dicas para quem deseja se aventurar por este universo: “Usar equipamentos leves, roupas camufladas com as cores da vegetação, ficar em silêncio, evitar movimentação brusca, conhecer os hábitos de cada espécie, tentar chegar o mais próximo possível e não esquecer de levar água, protetor solar e repelente de mosquitos”.

José Carlos Alves Pinto

A observação de aves é uma atividade bem antiga na vida de José Carlos Alves Pinto. Com o desenvolvimento da fotografia digital aliado às câmeras com muita capacidade de aproximação (zoom) e de fácil operação, Alves Pinto aprofundou-se no registro fotográfico de aves e da fauna em geral. Para a prática da atividade utiliza uma câmera Nikon Coolpix P610 e uma Canon SX30.

Além disso, ele destaca a riqueza da diversidade presente em nossa região: “Tenho o registro de 132 espécies de aves na fazenda onde trabalho. E sei de espécies que ocorrem em outros locais e nunca as observei em minha fazenda. Por exemplo, a campainha-azul, que pode ser observada nas proximidades de Termópolis”.

Dentre as mais raras, Alves Pinto destaca o urubu-rei. Trata-se de uma ave muito bonita. É mais fácil encontrá-la na região da Serra da Canastra. Entretanto, gostaria de mencionar aqui também o japu, um pássaro da família do pássaro-preto, que vive geralmente em grupo de vários indivíduos. As populações desta espécie estão aumentando no nosso município, felizmente”.

Por fim ele compartilha as seguintes dicas: “Adquira uma câmera de fácil utilização, que caiba no seu orçamento e comece. As praças, jardins e pomares já são uma fonte de muitas espécies. Faça os registros e procure identificar as espécies”.

Alves Pinto ainda não faz parte de nenhum grupo de observadores, mas pontua que tais grupos são muito bons para a troca de experiências, rede de contatos e potencialização de aprendizado.

Aline Horikawa

O interesse de Aline Horikawa pela observação de pássaros começou na chácara da família e posteriormente, em 2010, começou a fotografar.

“Naquela ocasião, não conhecia muitas pessoas, mas ao me inscrever no site WikiAves, que é referência nacional sobre observação de aves, me surpreendi com a quantidade de espécies que poderia encontrar na região, algumas aves eu nunca tinha ouvido falar. Através do site conheci outros observadores de Paraíso, isso fez com que meu interesse aumentasse. Durante o meu curso técnico, realizei um trabalho no Parque da Serrinha. Durante um ano fiz levantamento da fauna e foram registradas 90 espécies de aves. Espero que a população tenha consciência da importância do parque e da riqueza que já existia dentro dele”.

 “Minha espécie preferida é o soldadinho, o canto é bonito, dá para ouvir de longe dentro da mata e é uma ave que pode ser vista em vários lugares da região”. 

Aline ainda destaca o desconhecimento como fator prejudicial à preservação das espécies:

“As corujas são símbolo de sabedoria, mas ainda causam medo em algumas pessoas, são lendas que acabam prejudicando essas espécies. Em Paraíso encontramos muitas corujas e entre elas a maior coruja do Brasil, a jacurutu, espécie também difícil de ser observada”.

Como dica para aqueles que pretendem se iniciar na observação de aves, Aline aconselha a fazer um comedouro em casa e oferecer frutas como banana, mamão, laranja e sementes para atrair os pássaros. Também sugere utilizar uma câmera simples, superzoom, por ser leve e fácil de carregar.

• Para saber mais

Dentro da plataforma WikiAves, site sobre observação de aves, há uma página de São Sebastião do Paraíso, com registros de vários observadores paraisenses. Basta acessar: https://www.wikiaves.com.br/cidade.php?c=3164704

Para celebrar os 200 anos da cidade e a diversidade de nossa fauna, presen-teamos os leitores do JS com uma primorosa seleção das mais variadas espécies de aves. Todas as imagens foram captadas dentro do município de São Sebastião do Paraíso.

Adalberto Landgraf na observação de pássaros
Choca-barrada (Thamnophilus doliatus)
Azulão (Cyanocompsa brissonii)
Teque-teque (Todirostrum poliocephalum)
Choca-de-chapéu-vermelho (Thamnophilus ruficapillus)
Bico-de-pimenta (Saltator fuliginosus)
Chopim-do-brejo (Pseudoleistes guirahuro)
Sanhaço-de-fogo (piranga flava)
João-bobo (Nystalus chacuru)
Cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana)
Frango-d’água-azul (Porphyrio martinicus)
Surucuá-variado (Trogon surrucura)
Fim-fim (Euphonia chlorotica)
Ariramba-de-cauda-ruiva (Galbula ruficauda)
José Carlos Alves Pinto na fazenda da família
Canário-da-terra-verdadeiro (Sicalis flaveola)
Curicaca (Theristicus caudatus)
Garibaldi (Chrysomus ruficapillus)
Gavião-caboclo (Buteogallus meridionalis)
Gavião-carcará (Caracara plancus)
Inhambu-chororó (Crypturellus parvirostris)
Príncipe ou verão (Pyrocephalus rubinus)
Japu (Psarocolius sp)
Urubu-rei (Sarcoramphus papa)
Maracanã-do-buriti  (Orthopsittaca manilata)
Pica-pau chan-chan (Colaptes campestres)
Rolinha-caldo-de-feijão (Columbina talpacoti)
Seriema (Cariama cristata)
Aline Horikawa e o jequitibá milenar de Guardinha
Colhereiro (Platalea)
Freirinha (Arundinicola leucocephala)
Gavião-de-rabo-branco (Geranoaetus albicaudatus)
Anhuma (Anhima cornuta)
Jacurutu (Bubo virginianus)
Tucanuçu (Ramphastos toco)
Mocho-dos-banhados (Asio flammeus)
Campainha-azul  (Porphyrospiza caerulescens)
Polícia-inglesa-do-sul (Sturnella superciliaris)
Caboclinho de barrinha-vermelha  (Sporophila hypoxantha)
Soldadinho (Antilophia galeata)
Beija-flor-de-peito-azul (Amazilia láctea)
Periquito-rei (Eupsittula aurea)