Ainda em minha infância conheci senhor Argemiro Rodrigues da Silva, e me impressionava com seus mais de dois metros de altura, o que lhe valeu ser conhecido como Argemirão. Era amigo de minha família, e vez por outra nos visitava. Admirava a serenidade em sua voz, e lembro-me de seu senso de humor ao relatar situações enfrentadas por seu porte físico.
Com o passar dos anos conhecendo sua trajetória humanística e cidadã, sua visão progressista, trabalho social desenvolvido, me inteirei de sua grandeza interior.
No dia 4 deste mês de outubro completaram-se 128 de seu nascimento em uma fazenda, próximo ao povoado Peixoto, atualmente Goianazes, à época, município de São Sebastião do Paraíso.
Casou-se com Ana de Souza Rodrigues. Foi vereador em São Sebastião do Paraíso quando o cargo político não era remunerado. Seu primeiro projeto foi a construção de estrada entre Goianazes ao bairro rural Antinha. A prefeitura ajudou um pouco, onze amigos lhe ajudaram financeiramente e ele assumiu o restante a ser pago, além de ter trabalhado com seu carro de boi e ferramentas, “abrindo alguns quilômetros nas matas fechadas e pastos sempre com disposição e desprendimento”.
Senhor Argemiro assumiu as despesas com a festa de inauguração, “hospedou autoridades vindas de outras cidades”, e “posteriormente com ajuda de outros companheiros estendeu a estrada”.
Consta que a quarta igreja em Goianases foi construída por ele, e em 1925 também edificou o primeiro grupo escolar. Conseguiu parte da verba com a Prefeitura, a outra, com a ajuda da população. “Em 1926 comprou o primeiro automóvel e foi o primeiro em Goianases a tirar a “carta de motorista”. Levou tratamento odontológico para a população, farmácia, correios e o primeiro gramofone, que deixou moradores extasiados. Também levou a primeira linha telefônica, puxada metro a metro pelo seu próprio esforço físico, de filhos e amigos”.
Montou uma farmácia homeopática. Escrevia cartas para um laboratório no Rio de Janeiro e eles lhe enviavam, via correio, os remédios.
Em 1929 mudou-se para a Estação ferroviária da Mogiana no bairro Ipomeia, onde montou uma “venda” de secos e molhados, e em 1938 veio para São Sebastião do Paraíso, onde também foi comerciante.
Senhor Argemiro por 40 anos foi membro atuante da Loja Maçônica Fraternidade Universal, da qual foi venerável. Teve também atuação destacada no movimento espírita paraisense e regional, além de outras atividades. Foi um dos idealizadores e muito contribuiu para com a fundação do Hospital Psiquiátrico Gedor Silveira.
De família tradicionalmente católica, seu contato com a doutrina espírita foi ainda em Goianases, através de sua irmã Otília que realizava cultos cristãos em sua casa, na fazenda. Como o espaço não mais comportava o número de pessoas, Senhor Argemiro a ajudou fundar um centro espírita.
Participou da reunião de fundação de Centro União Espírita de Kardec, em São Sebastião do Paraíso, onde passou a ser assíduo frequentador. Quando senhor Juca Belmiro por motivo de força maior mudou-se para o bairro Pedrosos, Senhor Argemiro assumiu a presidência do centro que por longos anos funcionou na Vila Mariana, e atualmente tem sua sede na Rua Noruega, 110, Jardim Europa.
Faleceu aos 89 anos no dia 27 de maio de 1982 após embolia pulmonar provocada por complicações resultantes de uma fratura na perna, deixando exemplos de honestidade, dedicação, amizade e amor ao próximo.
Sempre dizia: “Quando trabalho para o progresso, não sinto dores, e tenho um grande sentimento de felicidade. Isso é bom demais, ajudo ao próximo e sou o primeiro a ser ajudado”.
(com informações extraídas do Livro “As Equipes de Francisco de Assis na Fazenda e na Cidade”, autoria de André Luiz de Pádua e Ana Angélica de Pádua Brunelli)